Os cuidados com a saúde precisam ser diários e a natureza pode contribuir para isso. O uso de plantas para fins medicinais é costume do ser humano há gerações e esse conhecimento hoje encontra espaço na ciência. Neste período chuvoso e mais frio, a comunidade da Favela Sururu de Capote, na beira da Laguna Mundaú, se uniu na construção de uma horta para fortalecer a imunidade e amenizar sintomas de doenças virais.
As plantas medicinais são reconhecidas historicamente por seu potencial curativo, assim afirma Rosângela Lemos, curadora do Herbário MAC do Instituto do Meio Ambiente do Estado de Alagoas (IMA/AL).
“O conhecimento popular repassa os efeitos dessas plantas por gerações, até hoje se apresentar em conhecimento científico. É comum que pesquisadores de cursos biológicos utilizem o Herbário para depositar suas amostras e obter o nome científico das espécies”, afirma a bióloga.
A “Farmácia Viva” surge como forma de oferecer cuidados e prevenções acessíveis contra enfermidades ou mal estar que podem acometer a população na quadra chuvosa. A iniciativa parte do Movimento de Trabalhadoras e Trabalhadores por Direitos (MTD), organização formada por moradores das comunidades que beiram a laguna Mundaú.
Erika Menezes, marisqueira, revela preocupação com doenças virais nessa época de isolamento social em combate à pandemia de Covid-19. “Sururu já não vende mais, assim como o peixe. Tá difícil de pegar, pela chuva, e também de vender, pela quarentena. Mas a Farmácia vai trazer muita alegria pra comunidade. É bom pra quem não tem condição de comprar um remédio”, comenta a trabalhadora.
A Farmácia Viva foi construída através de doações e já concentra 30 espécies de plantas medicinais, entre exóticas e nativas, a destaque do sambacaitá (Mesosphaerum pectinatum). Dados do Herbário MAC constatam registros de crescimento espontâneo da planta em todas as regiões de Alagoas.
“Aqui na beira da lagoa a gente não vê plantas medicinais, se a gente quisesse tinha que ir pro Mercado, mas agora podemos cultivar pertinho de casa”, afirma a marisqueira Erika Menezes.
O cuidado de hortas medicinais também é cotidiano para Clemens Fortes, professor e engenheiro agrônomo do Centro de Ciências Agrárias da Universidade Federal de Alagoas (Ceca/Ufal). Ele revela que a indústria mundial farmacêutica lucrou mais de US$ 1 trilhão em 2018, mas destaca que médicos também podem prescrever plantas.
“Mais de 25% dos medicamentos possuem moléculas de origem vegetal. Temos plantas que são capazes de prevenir e amenizar inúmeras enfermidades, inclusive virais, ao diminuir as cargas virais e aumentar a capacidade de imunidade”, afirma.
A Relação Nacional de Plantas Medicinais de Interesse ao SUS apresenta 71 espécies que podem ser indicadas na saúde pública. Hoje o método pode parecer alternativo, mas é costume antigo. Arquivos da Fundação Joaquim Nabuco revelam o procedimento natural em um tratado médico datado de 3.700 a C., escrito pelo imperador chinês Shen Wung.
“Para o período de quadra chuvosa, com o aumento no número de casos de gripe, as plantas bronco dilatadoras são mais procuradas, pois podem aliviar os sintomas. Ricas em cumarina, elas provocam a dilatação dos brônquios, facilitando a respiração”, explica o professor Clemens Fortes.
No entanto, ele alerta, assim como os remédios de laboratório, não se deve exagerar no uso de plantas medicinais. O uso inadequado pode provocar efeitos colaterais indesejados, como o aborto por sambacaitá.
O Herbário MAC do IMA apresenta em seu acervo dezenas de espécies medicinais encontradas em Alagoas.
A coleção botânica está disponível nos portais Splink e Reflora em seus respectivos endereços: http://splink.cria.org.br/manager/detail?setlang=pt&resource=MAC ou http://reflora.jbrj.gov.br/reflora/herbarioVirtual/ConsultaPublicoHVUC/ConsultaPublicoHVUC.do