Aconteceu em países fortemente atacados pela Covid-19, como a Itália e os Estados Unidos, e agora, novos dados nacionais apontam que o mesmo está acontecendo no Brasil. Nos meses de março e abril, cresceu em pelo menos 10,8% o número de brasileiros mortos em suas casas, na comparação com o mesmo período do ano passado. O crescimento ocorre durante a escalada de casos de Covid-19 no país, muitos deles não diagnosticados.
Nos dois meses de 2020, foram 35.081 mortes naturais ocorridas dentro de casa, contra 31.653 no mesmo período de 2019.
Entre as vítimas está Maria Portelo, de 60 anos, que morreu em sua casa em Manaus, no Amazonas. Seu corpo foi colocado em uma cama e coberto com um lençol. A família aguardou 30 horas até a remoção.
No Rio, o chef de cozinha José do Nascimento Félix morreu em casa, no morro da Providência. Ele chegou a ser internado com suspeita de Covid-19, mas piorou depois de receber alta.
Em março e abril deste ano, as mortes em casa representaram 19,8% de todos os óbitos no país (dois pontos percentuais a mais do que no ano anterior). Os dados são do Portal da Transparência dos Cartórios de Registro Civil, que reúne informações de cartórios de todo o país. O aumento pode ainda estar subdimensionado, já que mortes ocorridas em abril de 2020 ainda estão sendo computadas pelo sistema.
Na falta de diagnósticos para Covid-19, as mortes ocorridas em casa tiveram grande aumento de classificações de Síndrome Respiratória Aguda Grave (613%), causas indeterminadas (46%) e Septicemia (30%). Outras causas de morte, não correlacionadas à Covid-19, também cresceram 10,8%. Mas segundo especialistas, elas podem estar associadas ao alto stress do sistema de saúde no país.
Segundo a plataforma, as mortes em casa aumentaram em quatro dos cinco estados que mais concentram óbitos por Covid-19: São Paulo, Rio de Janeiro, Pernambuco e Amazonas.
Em Manaus, cidade onde o sistema de saúde entrou em colapso, devido a pandemia de Covid-19, as mortes em casa mais do que dobraram.