Um estudo mapeou a estrutura das células respiratórias no nariz, nos brônquios e nos pulmões. Os autores chegaram à conclusão de que há mais “portas de entrada” para o Sars CoV-2 nestas partes do corpo. Isso reforça a importância do uso de máscara como prevenção contra a Covid-19.
A principal “porta de entrada” do vírus, já detalhada em outros estudos, é o receptor ACE2. O mecanismo viral funciona assim: a família coronavírus tem uma “coroa” em sua superfície com espinhos, os “Spikes”. Eles se ligam ao ACE2 para entrar na célula e, assim, conseguir modificar o material genético. A doença se desenvolve porque começa a multiplicação do vírus Sars CoV-2.
A publicação científica aponta que, justamente nas vias respiratórias do corpo humano, o receptor ACE2 está mais presente. Junto a ele, como explica o infectologista Nuno Faria, está a TMPRSS2.
“Ela é uma protease celular (proteína dos seres humanos) que participa, junto com o receptor ACE2, na entrada do SARS-CoV-2 nas células humanas. Assim, TMPRSS2 e ACE2 são essenciais para a entrada e infecção das células humanas”, explica Faria, que também pesquisa a genética do novo coronavírus pela Universidade de Oxford, mas não assina este estudo da “Cell”.
Com uma maior quantidade do receptor ACE2 e da proteína TMPRSS2, a entrada do vírus é mais fácil pelas vias respiratórias. O uso de equipamentos pessoais de proteção, como as máscaras, é extremamente importante para a prevenção da doença.
“Se o nariz é o primeiro lugar onde as infecções pulmonares são disseminadas, o uso geral de máscaras para proteger a cavidade nasal, assim como qualquer outra terapia que venha a reduzir o acesso do vírus ao nariz, como irrigação local ou sprays antivirais, apresentam benefício”, disse Richard Boucher, coautor do estudo, diretor da Instituto Marsico Lung da Faculdade de Medicina da Universidade da Carolina do Norte em Chapel Hill, nos Estados Unidos.
Mais descobertas
Os pesquisadores também descobriram que o ACE2 está mais presente nas vias aéreas superiores (nariz) e menos nas vias inferiores (bronquios e pulmões). Segundo eles, isso explica porque o vírus tem sido encontrado em maior quantidade nas cavidades nasais.
Um ponto diferente analisado é que o Sars-CoV-2 não conseguiu entrar nas células que revestem as vias aéreas, mesmo que elas expressem o ACE2 e a TMPRSS2. O grupo que assina o estudo acredita que existam fatores ainda não descobertos sobre o ciclo de infecção do vírus em humanos, o que pode influenciar no nível de gravidade do desenvolvimento da doença.