O Instituto de Criminalística realizou, nesta segunda-feira (8), uma nova perícia no edifício de luxo no Cais de Santa Rita, no Recife, de onde Miguel Otávio de Santana, de 5 anos, caiu do 9º andar. O perito André Amaral afirmou que foram feitos testes na grade escalada pelo menino e aferições técnicas para consolidar a sincronia das imagens das câmeras de segurança.
Os peritos chegaram ao edifício pouco antes das 10h e saíram por volta de 12h30. “A gente foi fazer só verificação, tipo uma reprodução simulada para verificar e consolidar o que a gente tinha feito no início da perícia [no dia do acidente]. Permanece o que já tínhamos dito desde a primeira entrevista, que foi acidental”, declarou Amaral.
Segundo o perito, os testes realizados no guarda-corpo foram realizados para verificar se eles suportavam o peso da criança. Foi possível ver que um dos peritos sacudiu a grade e uma parte dela se desprendeu. Para Amaral, o menino subiu no guarda-corpo onde ficam as condensadoras de ar-condicionado e caiu quando a barra da grade, chamada de haste, quebrou.
Na terça-feira (2), dia do ocorrido, peritos que estiveram no Pier Maurício de Nassau, prédio de onde a criança caiu, e informaram ter encontrado vestígios do menino no hall de serviços, na casa de máquinas e na área destinada a condensadoras de ar-condicionado.
Um dos peritos informou que havia marcas de sandália e que a criança subiu 1,2 metro para chegar ao parapeito que dá acesso à casa de máquina. A grade do local está quebrada. Na quarta-feira (3), os peritos voltaram ao local para entender se o menino tinha altura para apertar os botões sozinho e constataram que ele era capaz de apertá-los.
Miguel era filho de Mirtes Renata Santana, que trabalhava como empregada doméstica para o prefeito de Tamandaré, Sérgio Hacker (PSB), e para a primeira-dama Sari Corte Real. Ela havia descido do apartamento da família, no 5º andar, para passear com a cadela da família dos patrões. O filho dela ficou sob os cuidados da patroa.
Através de imagens das câmeras de segurança do elevador, é possível ver que o menino entrou sozinho e foi seguido por Sari. A patroa parece apertar um botão no alto e, em seguida, o elevador se fecha. Miguel já havia apertado outros botões.
O elevador para em um dos andares, mas a criança não desce. Ao chegar ao 9º andar, a porta se abre e Miguel sai do elevador. Amaral afirmou, nesta segunda-feira (8), que não há câmeras no corredor deste andar.
De acordo com a perícia feita no dia do acidente, a criança caiu de uma altura de 35 metros. Segundo Mirtes, ele estava respirando quando ela o encontrou.
A criança foi levada ao Hospital da Restauração, na área central do Recife. Através de imagens mostradas no Fantástico do domingo (7), é possível ver que Mirtes acompanhou a criança no pronto-socorro. O menino, no entanto, não resistiu.
Prisão e fiança
Presa em flagrante por suspeita de homicídio culposo, quando não há intenção de matar, Sari Corte Real foi liberada depois de pagar fiança de R$ 20 mil. Ela vai responder em liberdade.
O advogado de defesa Sari, Pedro Avelino, afirmou que existem “vários outros vídeos de várias outras situações do menino Miguel entrando e saindo do elevador” e que Sari “acompanhou ele todas as vezes e conseguiu retirá-lo”.
Sari Côrte Real não quis conceder entrevista à TV Globo. Ela divulgou uma carta em que pede perdão a Mirtes e diz que a Justiça vai esclarecer a verdade.
Repercussão
O caso ganhou repercussão nacional, com manifestações de vários artistas e criação de um abaixo-assinado virtual com mais de 2,5 milhões de assinaturas pedindo justiça.
Na sexta (5), um protesto reuniu centenas de pessoas em frente ao prédio onde vive a família dos patrões de Mirtes, com forte participação do movimento negro. No domingo (7), outra homenagem foi feita em Tamandaré, na Mata Sul de Pernambuco.