A manicure que estava no apartamento dos ex-patrões da mãe do menino de 5 anos caiu do 9º andar, no dia 2 de junho, compareceu à Delegacia de Santo Amaro, na região central do Recife, para prestar depoimento à polícia, nesta sexta-feira (12). Eliane Lopes, de 29 anos, chegou acompanhada por dois advogados, por volta das 9h30. Ela deixou o local por volta das 11h30, sem dar entrevista.
Miguel Otávio era filho da empregada doméstica Mirtes Renata Souza e estava aos cuidados da patroa, a primeira-dama de Tamandaré, Sari Corte Real, quando caiu de uma altura de 35 metros. A mãe dele tinha descido para passear com o cachorro dos patrões quando tudo aconteceu.
Antes de entrar na delegacia, a manicure relatou que não tinha se pronunciado por não ter sido chamada pela polícia. Na saída, ela não gravou entrevista, mas o advogado dela, Irineu Ferreira, conversou com a imprensa. Segundo ele, Eliane foi ao apartamento devido à pandemia e ficou a maior parte do tempo dentro da residência.
“O tempo todo, Sari estava preocupada com o menino. Demais detalhes não podem ser repassados no momento para não atrapalhar as investigações”, disse o advogado.
Também nessa sexta-feira (12), depôs na mesma delegacia Tomaz Silva, o gerente de operações do Pier Maurício de Nassau, prédio onde ocorreu o incidente. Ele auxiliou no resgate do menino e afirmou acreditar que qualquer um poderia ter entrado no local de onde Miguel caiu.
O ex-síndico do prédio e o porteiro foram ouvidos na quarta-feira (10). Carlos Lopes, mesmo sendo ex-síndico, prestou depoimento porque uma eleição para nova administração condominial está sendo realizada. Segundo ele, prédio seguia todas as normas de segurança necessárias.
O ex-síndico disse, ainda, que explicou à polícia as características do prédio e disse que não sabe de que forma Miguel caiu do nono andar do edifício. O porteiro do prédio permaneceu por quase uma hora na delegacia, na quarta (10), mas não falou com a imprensa.
Cartas
Na quarta-feira (10), a mãe de Miguel, a doméstica Mirtes Renata, enviou uma carta em resposta a um texto divulgado por Sari. O advogado da primeira-dama de Tamandaré disse, na ocasião que “uma mãe pode falar tudo, especialmente diante de um cenário de tragédia”
Na mensagem, Mirtes contou não ter recebido nenhum pedido de desculpas e que “o pedido de perdão foi dirigido à imprensa”. A carta de Sari foi divulgada no dia 6 de junho.
Caso Miguel
Quando caiu do prédio, Miguel estava sob os cuidados de Sari Corte Real, já que a mãe dele havia descido do apartamento para passear com uma cadela. Por meio de imagens das câmeras de segurança do elevador, é possível ver que o menino entrou sozinho e foi seguido por Sari.
A ex-patroa parece apertar um botão no alto e, em seguida, o elevador se fecha. Não é possível ter certeza que o botão foi acionado. Miguel já havia apertado outros botões antes.
O elevador para em um dos andares, mas a criança não desce. Ao chegar ao 9º andar, a porta se abre e Miguel sai do elevador. De acordo com a perícia feita no dia do acidente, o menino caiu de uma altura de 35 metros. Segundo Mirtes, ele estava respirando quando ela o encontrou.
A criança foi levada ao Hospital da Restauração, na área central do Recife, mas não resistiu. Mirtes pediu demissão após o ocorrido.
Sari foi presa em flagrante e liberada após pagamento de fiança de R$ 20 mil. Ela vai responder por homicídio culposo, por ter agido com negligência, segundo a Polícia Civil.
Protestos
O caso ganhou repercussão nacional, com manifestações de políticos e artistas e criação de um abaixo-assinado virtual com mais de 2,5 milhões de assinaturas pedindo justiça.
Na sexta (5), um protesto reuniu centenas de pessoas em frente ao prédio onde vive a família dos patrões de Mirtes, com forte participação do movimento negro. No domingo (7), outra homenagem foi feita em Tamandaré. Uma missa de sétimo dia foi celebrada virtualmente na segunda (8). Na terça (9), artistas pediram justiça em um protesto no Rio Capibaribe, no Recife.
Em meio à comoção, veio à tona que a mãe e a avó de Miguel são funcionárias da prefeitura de Tamandaré, apesar de trabalharem na casa do prefeito como domésticas.
O Tribunal de Contas do Estado esteve na sede do poder executivo municipal na segunda (8) para recolher documentos e verificar se há outras pessoas que estão na folha de pagamento.
Auxílio emergencial
O nome de Sari Gaspar Corte Real, primeira-dama de Tamandaré, aparece no portal Dataprev após um pedido de auxílio emergencial, benefício concedido durante a pandemia provocada pelo novo coronavírus.
Segundo o Dataprev, o auxílio emergencial foi solicitado no dia 14 de maio. O portal recebeu o pedido no dia seguinte e, até a manhã da terça (9), o requerimento está “em processamento”. Os dois filhos de Sari, de 6 e 3 anos de idade, estão cadastrados como parte do grupo familiar.
Procurado pelo G1, o advogado de Sari Gaspar Corte Real, Pedro Avelino, informou por telefone que a solicitação de auxílio emergencial feita em nome dela é uma fraude.