A cultura negra possui raiz forte no Brasil, faz parte da nossa história e identidade e a arte é uma das formas de destacar as riquezas e belezas dessa nossa ancestralidade. Na música, os instrumentos de percussão carregam muitos timbres, características e trajetória da afrobrasilidade.
Em Alagoas, o percussionista Wilson Santos é uma grande referência na propagação e valorização da cultura negra. Para contar um pouco de sua história e apresentar ao público o universo percussivo, a Diretoria de Teatros do Estado de Alagoas (Diteal) produziu um vídeo institucional disponível pelo site diteal.al.gov.br, no Instagram, Facebook e canal do Youtube do Teatro Deodoro.
“A Diteal busca estar sempre dialogando com as mais diversas manifestações culturais e seus artistas. Dentro desse vasto universo, entendemos que a cultura negra é extremamente importante e que deve estar sempre inserida em nossas ações. É uma honra poder contribuir na difusão dessas linguagens e seus protagonistas, a exemplo do Wilson Santos”, observou a diretora presidente da Diteal, Sheila Maluf.
Músico há mais de 30 anos, Wilson é fundador e coordenador da Orquestra de Tambores de Alagoas, além de atuar como professor. “A orquestra é um grupo que nasceu em 2004, majoritariamente formado por músicos da religião de matriz africana e das comunidades da Zona Sul de Maceió, que teve oportunidade de viajar o Brasil quase todo e realizar muitos sonhos. Me orgulha muito saber que a partir de percussão podemos formar várias vidas”, relatou Wilson.
No vídeo, Wilson apresenta os instrumentos utilizados na gravação, fala sobre a origem e características, a exemplo do tambor, berimbau, pandeiro, xequerê, entre outros. Muitos desses instrumentos são confeccionados pelos próprios músicos. Detalhe para o único instrumento de percussão alagoano, que, segundo Wilson está em fase de extinção: o bizunga.
“O bizunga parece um caxixi, mas é maior, e provavelmente, foi um dos primeiros instrumentos de percussão utilizados no coco alagoano. Esse instrumento e a forma de tocar não se dão em nenhum outro lugar, só em Alagoas. Bizunga quer dizer pequeno beija-flor da mata alagoana e, depois, eu entendi, que, ao tocar o instrumento, parece mesmo o movimento de um beija-flor”, revelou.
Como um mestre que está sempre buscando passar o seu conhecimento, Wilson realizou várias oficinas, em parceria com a Diteal, em 2019. Entre elas, estiveram de Coco de Roda, Tambor Xamânico e de Percussão.
“Desde o ano passado, a gente começou a dialogar com a Diteal e trazer algumas oficinas na perspectiva de aproximar esse complexo principalmente das comunidades da Zona Sul. Reconheço que existe um certo distanciamento, não por querer, causado por questões sociais. O foco também está na Diteal, na Secult, e nas comunidades de base, onde essas manifestações desabrocham. A Diteal está dando essa oportunidade pra gente mostrar a cultura afro alagoana. A gente agradece, e deseja vida longa a esses projetos, não só o nosso, como de outros grupos que têm trabalho afrobrasileiro. Estamos ansiosos para que essa pandemia nos abandone e que a gente continue desenvolvendo as nossas ações, contribuindo com a cultura brasileira”, pontuou Wilson.
O gerente artístico e cultural da Diteal, Alexandre Holanda, fala sobre o trabalho desenvolvido por Wilson Santos no vídeo. “A Diteal comprometida com suas atribuições, entre elas a multifuncionalidade de suas atividades artísticas e culturais, tem dado uma atenção muito especial às ações formativas. Fomos procurados pelo Wilson Santos com a proposta para a realização de oficinas com importância, tanto no que diz respeito à nossa identidade artística e cultural, quanto à economia criativa. O Wilson Santos é uma referência no movimento negro, não só em Alagoas, mas no cenário nacional. É muito bom poder contar com parceiros que nos procuram com propostas contundentes e experientes. Estamos juntos e vamos continuar realizando o nosso trabalho”, afirmou.
O antropólogo, Edson Bezerra, também deu o seu depoimento no vídeo. “Falar do Wilson Santos é falar de uma figura muito importante, ele é o recriador da música negra em Alagoas. Ele é originário de Santa Luzia do Norte, um município que tem uma comunidade quilombola muito forte, a terra também de Zumba, grande artista plástico da negritude. Então, ele vem assimilando essa cultura negra durante a vida inteira, na beira da lagoa, nos terreiros de candomblé, e se tornando o músico que é”, conta.
Bezerra também destaca o legado deixado por Wilson Santos. “Em 2004, a música percussiva estava dispersa e, com a oficina de maracatu de Wilson Santos, surge o Baque Alagoano e o Afro Caeté e, ele vai se tornando, com o tempo, uma referência para a negritude e para a cultura alagoana. Ele é o grande articulador da cultura negra no estado, um mestre, guardou no corpo toda a tradição, e, se a cidade hoje tem uma emergência percussiva nos bairros periféricos, grande parte se deve ao Wilson Santos. É um cara que entrou pra história, é um marco”, concluiu o antropólogo.
Confira o vídeo completo em: https://www.youtube.com/watch?