De um lado, a corrida pelo desenvolvimento da vacina de prevenção ao vírus causador da Covid-19. De outro, uma queda na procura pela vacinação que previne contra outras doenças.
No caso da argentina Silvina Fernandez, que mora no Rio de Janeiro há 15 anos, foi o medo da aglomeração e do contato com outras pessoas neste período, em que o isolamento social se faz necessário, que a impediu de levar os filhos ao posto de saúde.
“Sou professora e todo ano tomo a vacina da gripe pelo Sistema Único de Saúde (SUS). Em abril, fui ao posto e tinha uma fila enorme. As pessoas não respeitavam a marcação no chão para o distanciamento. Depois disso, desisti de levar o meu menino de 12 anos para tomar a vacina de HPV e, nem ele nem a minha filha de 20 anos tomaram a vacina da gripe”, conta Silvina.
Ela tem consciência de que é importante não deixar a vacinação de lado e comenta que está reavaliando a decisão, até por causa da vacina contra a Meningite. “Essa não pode esperar, né? É muito importante”, comenta.
De fato, o Ministério da Saúde tem observado que a pandemia está impactando na queda da cobertura vacinal no Brasil. Mas a pasta alerta sobre a importância de manter o calendário em dia. A mãe do Bernardo, de 12 anos, e da Ana, de 15, Luciana Akerman levou os dois para tomar a vacina contra o vírus da gripe (H1N1), no dia 15 de maio.
Eu fui ao posto e estava vazio. Percebi que as pessoas estão com medo da vacina e, mais ainda, por causa da pandemia, porque o posto acaba sendo um local mais vulnerável”, conta Luciana que é de Belém e mora no Rio de Janeiro há 15 anos.
Segundo a médica e vice-presidente da Sociedade Brasileira de Imunização, Isabella Ballalai, desde 2015, o país apresenta uma decadência na cobertura vacinal de outras doenças. “A não percepção do risco faz com que as pessoas não procurem a vacinação”.
A grande maioria dos pais hoje, por exemplo, não vivenciaram o surto de Sarampo nem de Poliomielite. Quando tem um surto, as pessoas formam filas nos postos. Se acaba o surto, acaba a procura pela vacina. Isso é muito preocupante”, explica.
Dados do Ministério da Saúde, levantados a pedido da CNN, mostram que nenhuma das dez vacinas recomendadas pelo Programa Nacional de Imunizações (PNI) para crianças menores de 2 anos atingiram a meta de cobertura em 2019.
As que tiveram menor cobertura vacinal, depois da usada contra a Febre Amarela, que não estava na área de recomendação de sete dos estados brasileiros, foi a Hepatite B (76,87%) e a Poliomielite (82,10%).
Em nota, o Ministério da Saúde informou que diversos fatores podem estar contribuindo para as baixas e que o Governo Federal vem elaborando estratégias para aumentar os índices de cobertura de forma homogênea.
A pasta reforçou, ainda, que o Brasil tem o maior programa público de imunização do mundo, e que são distribuídas mais de 300 milhões de doses de imunobiológicos anualmente.
O Programa Nacional de Imunização (PNI) conta com 37 mil postos públicos de vacinação de rotina em todo o país e, durante as campanhas, este número chega até 50 mil postos e 51 Centros de Referência para Imunobiológicos Especiais (CRIEs).
LANÇAMENTO DE CARTILHA
Neste sábado, dia 13, a Sociedade Brasileira de Imunização (SBIm), a Sociedade Brasileira de Pediatria (SBP) e o Fundo das Nações Unidas para a Infância (UNICEF) lançam uma cartilha digital “Pandemia COVID-19: o que muda na rotina das imunizações”.
O documento traz uma série de dicas, tanto à população quanto aos profissionais de saúde, de como manter a vacinação em época de pandemia tomando todos os cuidados necessários.