Agência americana revoga liberação de emergência da hidroxicloroquina como tratamento para a Covid-19

FDA divulgou documento nesta segunda-feira e disse que 'não é mais razoável acreditar que as formulações orais de hidroxicloroquina e de cloroquina podem ser eficazes'.

CNN Brasil

31 de março: Mulher segura frasco com pílulas de hidroxicloroquina que usa para tratar lúpus em Seattle, Washington, noroeste dos Estados Unidos. — Foto: Lindsey Wasson/Reuters

A FDA (Food and Drug Administration, em inglês), agência que atua como a Anvisa nos Estados Unidos, revogou a permissão de emergência para o tratamento com a hidroxicloroquina contra a Covid-19. O órgão americano disse em documento nesta segunda-feira (15) que “não é mais razoável acreditar que as formulações orais de hidroxicloroquina e de cloroquina podem ser eficazes”.

“Nem é razoável acreditar que os fatores conhecidos e os potenciais benefícios desses produtos superem seus riscos conhecidos e potenciais. Por conseguinte, a FDA revoga o uso emergencial de hidroxicloroquina e cloroquina nos EUA para tratar Covid-19”, disse o documento.

A agência explica que tomou a decisão com base em novas informações e em uma reavaliação dos dados disponíveis no momento da liberação de emergência para pacientes com Covid-19 no país, publicada em 28 de março.

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Trecho da carta apresentada pela FDA nesta segunda-feira, 15 de junho, que revoga a liberação da hidroxicloroquina nos EUA

A revogação da agência aponta alguns critérios que levaram à suspensão do uso:

  • A FDA diz acreditar que as dosagens para hidroxicloroquina não têm um efeito antiviral;
  • Estudos anteriores sobre a diminuição do vírus com o tratamento da hidroxicloroquina e cloroquina não foram consistentemente confirmados, e uma pesquisa recente randomizada disse que não há diferença e eficiência no uso contra o Sars CoV-2;
  • Diretrizes médicas dos EUA não recomendam o tratamento com as substâncias e o NIH (Instituto Nacional de Saúde dos Estados Unidos) não defende o uso fora de pesquisas clínicas.

Na data da liberação, a FDA permitiu o tratamento apenas para pacientes com casos graves da Covid-19 e internados em hospitais. O medicamento deveria ser administrado por um profissional de saúde com uma receita médica.

Estudo controlado

Um estudo feito com 821 pacientes dos Estados Unidos e Canadá não encontrou prova de eficácia do uso da hidroxicloroquina na prevenção da Covid-19. A pesquisa foi publicada em 3 de junho, na revista científica ‘The New England Journal of Medicine’.

A pesquisa foi conduzida por pesquisadores da Universidade de Minnesota, nos EUA, e mais cinco instituições canadenses. O grupo observou também a incidência de efeitos colaterais nos pacientes que consumiram hidroxicloroquina, mas não houve relato de reações mais graves.

“A mensagem para levar para o público em geral é que, se você é exposto a alguém com Covid-19, a hidroxicloroquina não é uma terapia preventiva ou de pós-exposição efica”, disse David Boulware, um dos autores da pesquisa ao “New York Times”.

A incidência de novos casos de infecção por coronavírus nos participantes não apresentou muita diferença entre os pacientes que receberam a hidroxicloroquina, os que receberam placebos e os que não receberam nada.

Este foi o primeiro ensaio clínico controlado feito com o medicamento anti-malárico. A publicação diz que ao menos 87,6% dos voluntários relataram uma exposição de alto risco a um paciente portador do vírus Sars-Cov-2.

Retratação da Lancet

Em 4 de junho, a revista científica “The Lancet” publicou uma nota de retratação dos autores de um estudo com cloroquina e hidroxicloroquina para Covid-19 publicado por ela própria no dia 22 de maio. Os cientistas afirmaram não poder mais garantir a veracidade dos dados usados para fundamentar a pesquisa, que havia constatado risco no uso das substâncias contra o novo coronavírus.

A pesquisa, que analisou dados médicos de 96 mil pessoas, motivou a OMS a suspender os testes com hidroxicloroquina nos ensaios clínicos Solidariedade, iniciativa internacional coordenada pela organização. No dia 3, depois da publicação de uma “manifestação de preocupação” sobre o estudo pela ”The Lancet”, a entidade decidiu retomar os testes com a substância.

A retratação do estudo é o passo seguinte à manifestação de preocupação, que faz com que ele não possa ser citado, no futuro, em outras pesquisas científicas.

Fonte: G1

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