Talvez só a seleção de 1982, entre as equipes brasileiras, tenha angariado algo parecido, em termos de admiração, ao time tricampeão mundial no México em 1970.
Não por acaso, muitos jogadores da equipe que disputou a Copa na Espanha, como Sócrates, Falcão e Cerezo, expressaram admiração pelos antecessores.
Mas há grandes diferenças entre as equipes, preferências e subjetividades à parte, em termos de representatividade. Para começar, o Brasil comandado por Zagallo, ao contrário do de Telê, foi campeão.
O time derrotado na Espanha também ficou marcado pelo fim da “era da inocência” no futebol, pela derrota da magia ante o pragmatismo defensivista.
Foi a derrota que, de certo modo, colocou fim ao ciclo que teve seu ponto máximo 12 anos antes.
Afinal, a seleção brasileira de 1970 é tida por diversas análises como o “auge do futebol” e do “jogo bonito”. Assim, não é exagero dizer que a seleção de 1982 foi o último suspiro.
Por fim, os tricampeões tinham Pelé – o que já seria bastante para qualquer equipe sobressair.
Mas, por melhor e mais inigualável que fosse, o camisa 10 era “apenas” um fora de série entre tantos outros, como Carlos Alberto, Clodoaldo, Gérson, Jairzinho, Rivellino e Tostão.
O escrete canarinho campeão no México foi apontado em diversas votações como o melhor time de futebol da História.
Da World Soccer inglesa ao americaníssimo Los Angeles Times.
A opinião da crônica esportiva está mais do que clara. E, do mesmo modo, grandes jogadores também se encantaram. E viram naquele time, muitas vezes, inspirações ou pontos de parametrização para suas carreiras.
Em alguns casos, a mística daquele grupo até transcendeu o esporte e tornou-se objeto de admiração de artistas e personalidades – quando não foi literalmente equiparada a obras de parte.
O gol de Carlos Alberto, na final contra a Itália, por exemplo, foi comparado à poesia de Rimbaud pelo francês Eric Cantona – um craque amante das artes.
O Capita e o Kaiser
Embora contemporâneos, Franz Beckenbauer, capitão e campeão com a Alemanha em 1974, e Carlos Alberto Torres tinham uma relação de amizade calcada em uma enorme admiração do europeu pelo carioca.
Em 2014, foi por pedido de Torres que Beckenbauer aceitou integrar uma mesa-redonda do canal SporTV que reunia outros capitães campeões mundiais, durante a Copa do Mundo. Quem via o Kaiser junto ao Capita podia jurar estar vendo um fã com seu ídolo.
Ambos atuaram juntos no New York Cosmos, no fim dos anos 1970. E tanto Beckenbauer quanto Raphael de la Sierra, VP do clube, afirmaram em documentário sobre a franquia que a chegada do lateral-direito mudou o patamar do time, que há três temporadas batia na trave e ficava sem troféus.
Carlos Alberto, ídolo de Santos, Botafogo, Fluminense e Azerbaijão, onde foi técnico da seleção nacional, é tido também, por muitos historiadores como o primeiro ala do futebol. E assim, pavimentou caminho para outros grandes jogadores da posição, como Maicon, Daniel Alves, Cafu, só para ficar entre os direitos e não citar Júnior e Roberto Carlos.
Diego: Amor bandido por Pelé e declarado por Rivellino
Diego Maradona declarou mais de uma vez que Roberto Rivellino, o camisa 11 tricampeão, era seu mestre no futebol. Os craques canhotos se encontraram, trocaram camisetas e palavras de carinho, mais de uma vez.
Mas quem conheceu o jovem Dieguito jura que ele era o fã número 1 de ninguém menos do que Pelé.
Muito mais pelo lado do argentino, a relação entre os talvez dois maiores futebolistas de todos os tempos teve altos e baixos.
Mas, conta o jornalista argentino Guillermo Blanco, que armou um encontro deles em Copacabana, em 1979, que o cebollita ficou eufórico com a possibilidade de conhecer o Rei. Pelé tinha 39 anos. Maradona, 18.
Pelé tocou violão, conversou um pouco com o menino e, em dado momento, agarrou suas mãos e disse: “cuide do seu corpo e dos seus treinamentos”.
O Rei foi premonitório.
Comentarista ainda explicou técnica e taticamente, com Renato Rodrigues, as funções de ‘Furacão Jairzinho’ e Tostão ‘camaleão
Em 2005, outro encontro dos craques também teve violão. Mas o anfitrião era Maradona, na estreia de seu programa de televisão La Noche del Diez, que ia ao ar pela Canal Trece.
Maradona é um bom ator, sabemos. Mas pareceram genuínos o respeito e admiração de Diego, a quem chamou de “Rei” durante todo o tempo, pelo Atleta do Século.
Cruyff escalou dupla de 1970 em seu 11 ideal
Em seu livro de memórias publicado postumamente, em 2016, Johan Cruyff escalou dois jogadores da seleção de 1970 em seu onze ideal.
Barbada, Pelé está escalado
E, pela lateral-direita, vem Carlos Alberto Torres. Vale o registro: o time tem ainda Garrincha na ponta-direita. Seria interessante um flanco formado por Capita e Mané, preparando jogadas um para o outro na linha de fundo.
Vamos à escalação completa, no 3-4-3:
Lev Yashin, Carlos Alberto, Franz Beckenbauer e Ruud Krol; Pep Guardiola, Alfredo di Stéfano, Bobby Charlton e Diego Maradona, Garrincha, Pelé e Piet Keizer.
Luxemburgo e o Lobo
Luxa costumava chamar Telê Santana de melhor técnico do Brasil. Mas, a partir de uma insinuação de favorecimento ao Alviverde feita pelo mineiro, após derrota tricolor para o Palmeiras no Troféu Ramon de Carranza de 1993 (1 a 2), Zagallo passou ao posto na visão de Vanderlei.
“Respeito o Telê, mas meu grande ídolo sempre foi o Zagallo”, disse em entrevista.
“O Zagallo foi disparado o melhor treinador que eu vi. Em seguida, vem o Ênio Andrade”, comentou Luxemburgo em outra oportunidade, conforme relata o portal Terceiro Tempo.
Sorry, Del Bosque
No Prêmio Laureus de 2013, Beckenbauer, mais uma vez, se viu instado a falar sobre a seleção de 1970, juntamente com Bobby Charlton, campeão mundial em 1966.
A discussão era se a Espanha campeã da Copa de 2010 e da Eurocopa de 2012 poderia ser comparada ao time de Jairzinho, Gérson e Tostão.
“Era um sonho ver aquele time. Desculpe-me, Vicente, mas eu cresci em uma geração antiga. Meu herói era Pelé”, disse o alemão, sem muitos rodeios.
“Sempre achei que jogar contra o Brasil envolvia trabalhar muito, muito duro. Além disso, a presença que Pelé tinha era incrível. Ele era um jogador maravilhoso. Por pura excitação, o time brasileiro de 1970 foi o melhor que vi”, disse Charlton, derrotado por aquele time em 70.
Bob Marley, Chico Buarque e Paulo Cezar Caju
Titular em dois jogos no México, tendo entrado em campo em outros dois, Paulo Cezar Caju, como sempre, não passou despercebido.
Tanto que despertou a idolatria de ninguém menos que Bob Marley.
Em visita ao Rio de Janeiro, em 1980, o músico pediu para Chico Buarque convidar o jogador para uma pelada em seu sítio.
Caju, que não conhecia muito da obra de Marley, aceitou e passou também a ser fã do jamaicano, com quem estabeleceu uma curta mas calorosa amizade.
O maior expoente do reggae em todos os tempos, o autor de “Roda Viva” e o tricampeão formaram a linha de frente do Polytheama, o time de Chico, naquela tarde. De quebra, Toquinho jogou na defesa da equipe.
Segundo relato do jornal O Globo na época, Marley trocou algumas palavrinhas com PC Caju, declarando-se um fã e ressaltando a conquista da Seleção Brasileira na Copa de 70: “Rivellino,Jairzinho, Pelé… o Brasil é o meu time. A Jamaica gosta de futebol por causa do Brasil”, disse o astro pop.
Sua Majestade
A coletividade, as muitas cabeças pensantes, o recuo de Piazza para a zaga, o esquema de Zagallo, Jairzinho fazendo gols em todos os jogos… Tudo isso faz sim daquela equipe algo mágico.
Ok. Mas Pelé é Pelé. E, daquele time de 1970, é mesmo o Rei quem mais recebeu elogios e admiração. Como nas frases abaixo, compiladas pela versão inglesa do portal Goal:
“Eu disse a mim mesmo, antes do jogo, que ele é feito de carne e osso, como todo mundo – mas eu estava errado.”
Tarcisio Burgnich, italiano que o marcou na final da Copa do Mundo de 1970
Um artista em meus olhos é alguém que pode iluminar uma sala escura. Nunca encontrei diferença entre o passe de Pelé para Carlos Alberto na final da Copa do Mundo de 1970 e a poesia do jovem Rimbaud. Há em cada uma dessas manifestações humanas uma expressão de beleza que nos toca e nos dá um sentimento de eternidade “.
Eric Cantona, lenda do futebol francês e do Manchester United
“Às vezes, sinto que o futebol foi inventado para esse jogador mágico”.
Bobby Charlton, campeão mundial em 1966
“O maior jogador da História foi Di Stefano. Eu me recuso a classificar Pelé como jogador. Ele está acima disso”
Ferrenc Puskas, lendário jogador húngaro
“Quando vi Pelé jogar, me fez sentir que deveria pendurar minhas chuteiras”.
Just Fontaine, artilheiro da Copa de 1958
“O melhor jogador de todos os tempos? Pelé. [Lionel] Messi e Cristiano Ronaldo são grandes jogadores com qualidades específicas, mas Pelé foi melhor.”
Di Stefano, lenda do futebol, presidente de honra do Real Madrid até sua morte, em 2014
“O melhor de todos foi Pelé, que é uma mistura de Di Stefano, [Diego] Maradona, Cruyff e Leo Messi”.
Cesar Luis Menotti, técnico campeão mundial com a Argentina, em 1978
“Essa discussão sobre o melhor jogador do século é absurdo. Obviamente, é Pelé. .E por uma boa margem, posso acrescentar”.
Zico
“Pelé foi o jogador mais completo que eu já vi. Dois pés bons. Magia no ar. Rápido. Poderoso. Podia derrotar pessoas com habilidade. Podia ultrapassar as pessoas. Com apenas 1,80m de altura, ele parecia um gigante. Atleta em campo. Equilíbrio perfeito e visão impossível. ”
Bobby Moore, campeão mundial em 1966
“Há Pelé, o homem, e Pelé, o jogador. E jogar como Pelé é jogar como Deus”.
Michel Platini
“Messi tem todas as condições para ser o melhor, mas primeiro ele precisa vencer Maradona, Romário e, eventualmente, Pelé”.
Romário
“Pelé é o melhor jogador da história do futebol, e haverá apenas um Pelé no mundo.”
Cristiano Ronaldo