Após o ministro do Supremo Tribunal Federal (STF) Gilmar Mendes dizer no sábado (11) que o Exército se associou a um “genocídio”, em referência à atuação de militares no Ministério da Saúde durante a pandemia de Covid-19, o Ministério da Defesa divulgou uma nota exaltando a ação das Forças no combate ao coronavírus.
Mendes havia dito em uma live que a sociedade não podia mais tolerar o “vazio” no ministério da Saúde. A pasta é comandada interinamente pelo general Eduardo Pazuello desde maio, após a saída de dois ministros que discordaram do presidente Jair Bolsonaro sobre métodos para conter a pandemia: Luiz Henrique Mandetta e Nelson Teich. À frente da pasta, Pazuello nomeou uma série de militares para postos-chave.
“Não podemos mais tolerar essa situação que se passa no Ministério da Saúde. Não é aceitável que se tenha esse vazio. Pode até se dizer: a estratégia é tirar o protagonismo do governo federal, é atribuir a responsabilidade a estados e municípios. Se for essa a intenção é preciso se fazer alguma coisa. Isso é péssimo para a imagem das Forças Armadas. É preciso dizer isso de maneira muito clara: o Exército está se associando a esse genocídio, não é razoável. É preciso pôr fim a isso”, disse Gilmar.
Na nota em que defende a atuação das Forças Armadas na pandemia, o Ministério da Defesa afirmou que o contingente de militares mobilizado para a contenção do coronavírus é maior que o enviado pelo Brasil para a Segunda Guerra Mundial.
“O Ministério da Defesa (MD) informa que as Forças Armadas atuam diretamente no combate ao novo coronavirus, por meio da Operação Covid-19. Desde o início da pandemia, vem atuando sempre para o bem-estar de todos os brasileiros. São empregados, diariamente, 34 mil militares, efetivo maior do que o da Força Expedicionária Brasileira (FEB) na Segunda Guerra Mundial, com 25.800 homens”, afirmou o ministério na nota.
A Defesa disse ainda que está comprometida com a saúde e com o bem-estar da população.
O MD tem o compromisso com a saúde e com o bem-estar de todos o brasileiros de norte ao sul do País”, completou a pasta.
Até a manhã desta segunda, o Brasil havia registrado 72.153 mortes por Covid-19 e 1.866.416 casos de pessoas que pegaram a doença.
Militares na Saúde
Os dois antecessores de Pazuello na pasta deixaram o governo por discordâncias com Bolsonaro sobre temas centrais no combate à pandemia. Os principais foram a defesa do presidente a um isolamento social menos rígido e ao uso da cloroquina para o tratamento da doença. Não há comprovação científica da eficácia do remédio.
Pazuello foi confirmado como interino após duas saídas de ministros em um mês, em plena pandemia. Ele passou a nomear militares para postos executivos no ministério. Entre eles estão:
André Cabral Botelho, subtenente de infantaria, coordenador de contabilidade;
Ramon da Silva Oliveira, major, coordenador-geral de Inovações de Processos de Estruturas;
Giovani Cruz Camarão, subtenente, coordenador de Finanças do Fundo Nacional de Saúde (FNS);
Alexandre Magno Asteggiano, capitão, assessor;
Marcelo Sampaio Pereira, tenente-coronel, diretor de programa;
Vagner Luiz da Silva Rangel, tenente-coronel, coordenador de execução orçamentária;
Luiz Otávio Franco Duarte, coronel, assessor especial do ministro;
Angelo Martins Denicoli, major, diretor do Departamento de Monitoramento e Avaliação do SUS;
Mario Luiz Ricette Costa, tenente, atua na Subsecretaria de Planejamento e Orçamento.
Na gestão de Pazuello, desapareceram as farpas públicas entre Bolsonaro e o Ministério da Saúde. Foi também aprovado um protocolo para uso de cloroquina na rede pública, como queria o presidente.
Em maio, numa conversa com apoiadores, Bolsonaro disse que Pazuello ainda ficaria “muito tempo” à frente da pasta.
“Ele [Pazuello] vai ficar por muito tempo, esse que está lá. Não vai mudar não. Ele é um bom gestor, vai ter uma equipe boa de médicos abaixo dele”, afirmou o presidente na ocasião.