O combate ao novo coronavírus (Covid-19) exigiu medidas duras das instituições de saúde espalhadas pelo mundo. Para evitar a disseminação da doença, a Santa Casa de Maceió precisou, entre outras medidas, cancelar todas as cirurgias eletivas que pudessem ser postergadas sem que houvesse prejuízo para o paciente. Com a diminuição dos casos de internação em razão da doença, foi iniciado, em julho, o processo de retomada das atividades cirúrgicas no hospital.
“Houve uma conversa com diversos setores para estabelecer um alinhamento sólido de segurança tanto para o corpo clínico como para os colaboradores e pacientes. Com a pandemia, ficou muito grande a demanda de pacientes que precisavam se submeter a procedimentos cirúrgicos e conforme a situação epidemiológica foi melhorando na região começamos a colocar o planejamento feito ao logo desse tempo em atividade para esse retorno”, disse o cirurgião Rogério Bernardo.
Antes da pandemia, a Santa Casa de Maceió fazia uma média de 200 cirurgias por semana. No auge do novo coronavírus passou a fazer de três a quatro procedimentos por dia, entre cirurgias de urgências e oncológicas. Até 15 de julho, o centro cirúrgico do hospital ficou fechando dispondo apenas de quatro salas: uma preparada com pressão negativa e utilizada para a paramentação do paciente com covid-19, e outras três salas para cirurgias de urgência dos pacientes que já estavam internados, mas sem a doença.
“A queda do movimento foi gigantesca, mas esse retorno é gradual, pois dependemos da necessidade do paciente por cirurgias que realmente precisam ser realizadas. Além disso temos que ter uma combinação de fatores: o cirurgião tem que querer operar e o paciente tem que estar disponível. Apesar de tomarmos todas as precauções, ainda assim, não podemos garantir a ausência completa de risco de contágio, mas colocamos o paciente num ambiente mais seguro possível, rodeado de processos e procedimentos para que ele não seja submetido ao contagio da covid-19, mas garantia é impossível, nem dentro nem fora do hospital”, destacou o cirurgião.
Paciente precisa ficar em quarentena antes da cirurgia
Durante o auge da pandemia, o hospital foi dividido em área Covid e Não Covid. Para tanto, um novo fluxo de circulação foi feito por uma equipe multiprofissional (farmácia, enfermagem, CCIH, engenharia, entre outros setores). “Fizemos um levantamento de todos os procedimentos por especialidade da fonte pagadora SUS e que foram suspensos. No dia 15 de julho voltamos com a regularização dos relaxantes (medicação anestésica que é utilizada por pacientes de Covid-19) e com as cirurgias de urgência em pacientes que precisavam operar, pois tinham o risco de uma complicação maior e já aguardavam há quatro meses por cirurgia. Em agosto retomamos as eletivas. A retomada foi feita em três fases: cirurgias de urgência, priorizando as que não necessitavam de UTI, já que as unidades de terapia intensiva estavam muito cheias com paciente covid-19; planejamento do mapa cirúrgico um dia antes do procedimento considerando o gerenciamento do planejamento de leitos e número de altas; e checagem dos EPIs e da capacidade instalada dos anestésicos”, explicou a gestora da Linha Cirúrgica, Nair Gusmão.
Para a segurança das cirurgias, o paciente precisa ficar em quarentena e, caso seja necessário, realizar o teste do novo coronavírus. O hospital também dispõe de um checklist no pré-operatório que é aplicado durante a marcação cirúrgica. Nele, o paciente é perguntado se ele ou alguém da família teve algum sintoma de covid-19. Ao dar entrada no hospital, a enfermagem segue gerenciamento de risco. O paciente é acompanhado até o 14º dia após a cirurgia.
“A Santa Casa de Maceió foi o primeiro hospital de Alagoas a receber pacientes com covid-19, e, provavelmente, será o último a deixar de ter. Somos referência pela qualidade na assistência. O hospital já tem um perfil na prestação de serviço de alta complexidade ao paciente SUS. São vários procedimentos feitos apenas pela instituição. E o papel da instituição durante a pandemia ficou muito claro. O do centro cirúrgico também. Além de ter que parar pela disponibilidade de leito, nossa recuperação pós-anestésica foi adaptada para uma UTI Não Covid. O paciente que sofreu um AVC, um infarto ou precisou fazer uma cirurgia de urgência teve espaço livre de contaminação nessa instalação. Foram momentos muito críticos, mas, graças a Deus, não posso dizer que deu tudo certo por conta das vidas que foram perdidas para a doença no mundo, mas, dentro do possível, pudemos prestar o melhor atendimento possível”, ressaltou Rogério Bernardo.