O presidente Vladimir Putin anunciou nesta terça-feira (11) que a Rússia é o primeiro país do mundo a registrar uma vacina contra o novo coronavírus. Apesar do anúncio, sabe-se pouco sobre a eficácia dessa vacina, e ela vem sendo questionada por especialistas internacionais.
“Esta manhã uma vacina contra o novo coronavírus foi registrada pela primeira vez no mundo”, disse o chefe do Kremlin em reunião com o Gabinete de Ministros.
A OMS tem uma página internet na qual mostra em que estágio de desenvolvimento estão as pesquisas de vacinas ao redor do mundo. A última atualização dessa informação foi feita em 31 de julho. Nela, consta que a vacina do Instituto Gamelaya está na fase 1 do processo — seria necessário observar três fases completas para começar a vacinar em massa.
A Rússia não publicou nenhum estudo ou dado científico sobre os testes que realizou. Não se conhecem os detalhes sobre as fases do processo, que geralmente devem ser cumpridos antes de uma nova vacina ser aprovada e lançada no mercado.
Segundo o presidente, a vacina russa é “eficaz”, passou em todos os testes necessários e permite obter uma “imunidade estável” contra o COVID-19.
As agências internacionais informam ainda que o presidente russo afirmou que uma de suas filhas já tomou a vacina. Suas filhas são Maria, de 35 anos, e Ekaterina, 34. As agências não souberam informar qual delas teria tomado a vacina.
Projeto de vacinação em massa
Há uma semana, o Kremlin anunciou que iniciaria em outubro um projeto de vacinação em massa contra o coronavírus.
Segundo informou no último dia 4 o ministro da Saúde, Mijail Murahkko, depois de completar “ensaios clínicos”, o país realizará registros e começará a produção da dose para iniciar em dois meses a vacinação em massa.
“A primeira vacina contra o coronavírus, desenvolvida pelo Instituto Gamaleya, completou seus ensaios clínicos e agora estão sendo preparados os documentos para o procedimento de registro”, antecipou Murashko há uma semana.
OMS
Na segunda-feira (10), a Organização Mundial da Saúde (OMS) alertou que, apesar de haver várias vacinas na fase final de testes, a eficiência destas ainda está para ser demonstrada e que, provavelmente, não haverá uma “solução imediata”.
“Várias vacinas se encontram agora em ensaios clínicos de fase três, e todos esperamos ter várias eficazes que possam ajudar a prevenir a infecção nas pessoas. No entanto, não há uma solução imediata neste momento e pode ser que nunca haja”, disse o diretor da OMS, Tedros Adhanom Ghebreyesus.
A fase três seria a última das etapas de aprovação de uma vacina, e também a mais decisiva, pois é quando se produzem as evidências reais sobre o seu uso contínuo.
Na terça-feira (4), um porta-voz da OMS reforçou os pedidos de cautela. “Às vezes, pesquisadores afirmam que encontraram algo. Isso é, obviamente, uma boa notícia”, disse Christian Lindmeier. “Mas há uma grande diferença entre descobrir, ou ter uma pista, de uma vacina que funcione e passar por todas as fases (de testes)”, acrescentou.
O que se sabe sobre a vacina russa?
Segundo o serviço da BBC em língua russa, a primeira vacina do país contra o coronavírus foi desenvolvida por cientistas do Centro Nacional de Investigação de Epidemiologia e Microbiologia (Gamaleya) junto ao Ministério da Defesa.
Em meados de junho, este último informou sobre a conclusão “bem-sucedida” de testes em voluntários no hospital militar Burdenko, mas não publicou nenhum tipo de evidência científica.
“No momento da alta, todos os voluntários sem exceção que receberam imunidade contra o coronavírus se sentiram bem. Portanto a primeira vacina doméstica contra a nova infecção por coronavírus está pronta”, disse o vice-ministro de Defesa, Ruslan Tsalikov.
Não se informou quantas pessoas foram submetidas ao teste, detalhes sobre elas, informações sobre quanto duraria a resposta imune ou o tipo de imunidade que a vacina oferece.
O anúncio da campanha de vacinação em massa foi feito quando a vacina ainda se encontrava “na etapa fina da segunda fase”, segundo a agência estatal russa de notícias Itar-Tass.
Vacinação na Rússia
Segundo indicou o Ministério da Saúde, após o registro e a produção, a vacinação deve começar em outubro de forma gratuita. Inicialmente, de acordo com as autoridades sanitárias, serão vacinados grupos especiais da população: médicos, professores e aqueles que estão constantemente em contato com grandes grupos de pessoas.
Nesta segunda-feira (10), em entrevista à Itar-Tass, o ministro da Indústria e Comércio, Denis Manturov, indicou que no próximo mês três empresas russas vão começar a produção comercial.