Cientistas em Hong Kong anunciaram, nesta segunda-feira (24), a confirmação do primeiro caso no mundo de reinfecção pelo novo coronavírus (Sars-CoV-2). A pesquisa com o resultado foi aceita para publicação no “Clinical Infectious Diseases”, da editora da Universidade de Oxford, no Reino Unido.
“Um paciente aparentemente saudável e jovem teve um segundo caso de infecção pela Covid-19 diagnosticado 4 meses e meio depois do primeiro episódio”, declararam os cientistas, da Universidade de Hong Kong, em um comunicado.
Os pesquisadores testaram o código genético do vírus e afirmaram ter encontrado 24 pedaços (nucleotídeos) na sequência viral que eram diferentes na primeira e segunda infecção. Na primeira, ele teve apenas sintomas leves; na segunda, nenhum sintoma.
“Nossos resultados provam que a segunda infecção é causada por um novo vírus, que ele adquiriu recentemente, em vez de uma disseminação viral prolongada”, afirmou Kelvin Kai-Wang To, microbiologista clínico da Universidade de Hong Kong.
A pesquisadora Ester Sabino, da Faculdade de Medicina da USP, que fez parte da equipe que sequenciou o genoma do coronavírus no Brasil, confirmou ao G1 que, conforme a árvore filogenética dos vírus, eles são diferentes (uma árvore filogenética detalha as relações entre várias espécies e as mutações que elas sofreram).
Para a cientista, a principal consequência da descoberta é que, com a reinfecção possível, a transmissão da doença se mantém.
“Isso tem consequência, porque você mantém o vírus circulando por muito tempo. Endemia é isso. É um problema”, avalia Sabino.
OMS diz que ‘é possível’
A líder técnica da Organização Mundial de Saúde (OMS), Maria van Kerkhove, disse que “é possível” que este seja o primeiro caso confirmado de reinfecção no mundo.
“O que entendemos é que pode ser um caso de reinfecção. É possível”, afirmou a líder técnica.
“Acho que é importante colocar isso em contexto. Houve mais de 24 milhões de casos relatados até agora, e precisamos olhar para isso a nível de população. É muito importante que documentemos isso, e, em países que podem fazer isso, que o sequenciamento seja feito. Isso ajudaria muito. Mas não podemos pular para nenhuma conclusão, mesmo que esse seja o primeiro caso documentado de reinfecção”, disse.
Van Kerkhove lembrou ainda, que, segundo o que se sabe até agora, todos que são infectados pelo Sars-CoV-2 desenvolvem algum nível de imunidade contra ele – a questão é saber o quão protetora ela é e por quanto tempo dura.
No Brasil, a USP apontou, no início do mês, um possível caso de reinfecção pela doença em uma técnica de enfermagem, em Ribeirão Preto. Ela apresentou, pela segunda vez, os sintomas da doença, e teve um segundo resultado positivo no teste diagnóstico.