Certamente, nos últimos dias você já deve ter se deparado com alguma postagem nas redes sociais de alguém praticando atividades físicas. De celebridade a anônimos, “o de hoje tá pago” – expressão usada para se referir à prática dos treinos – é comum na internet. Mesmo parecendo inofensiva e prometa bons resultados, a prática sem acompanhamento de um profissional de educação física pode ser perigosa.
Com mais de 10 anos de carreira, o personal trainer Jaddy Santtos, @jaddy_santtos_coach no Instagram, alerta que não há uma receita de bolo pronta para a realização de exercícios físicos que vá funcionar igualmente para várias pessoas. É através de uma análise feita pelos profissionais de educação física que se chega ao ideal para cada indivíduo, respeitando os variados perfis.
“Os aplicativos de exercícios físicos que estão na moda não são para todos. Não são totalmente inclusivos, pois não existe uma receita de bolo para que você possa lidar com as restrições e lesões que possam surgir com a prática sem acompanhamento, por exemplo. O perigo de os aplicativos ou vídeos de pessoas é não terem os devidos cuidados de prescrever algo para cada individualidade dos alunos”, explica o personal.
Segundo o professor Alberto Filgueiras, coordenador do Laboratório de Neuropsicologia Cognitiva e Esportiva (LaNCE) da Uerj e um dos responsáveis por uma pesquisa que investigou a prática de exercícios físicos durante a quarentena, a mudança de hábito brusca, seja para aqueles que deixaram de fazer exercícios físicos ou começaram, entre os entrevistados não foi sentida tão positivamente como era esperado. O resultado pode ter relação justamente com o alertado pelo educador físico Jaddy.
“A gente detectou que as pessoas se sentiam mal quando faziam os exercícios que estavam sendo prescritos por essas plataformas digitais. A nossa principal hipótese, que os dados sugerem, é que provavelmente isso está associado à falta de individualização na prescrição do exercício. O exercício precisa ser prescrito considerando uma série de variáveis, considerando o peso corporal, a história de vida da pessoa, uma série de questões que não são consideradas por essas plataformas e redes sociais”, comenta o professor Alberto Filgueiras para a Agência Brasil.
A pesquisa concluiu que antes da pandemia 27% das pessoas praticavam atividades ao ar livre, o que caiu para 3%. As atividades em grupo foram substituídas por treino de força, que passou de 5,2% para 13,9%, e treinamento funcional, que aumentou de 4,4% para 49,3%. Foram ouvidas 592 pessoas, de todas as regiões do país, maiores de 18 anos e que estavam em isolamento social há pelo menos uma semana, sendo 63% mulheres e 37% homens.
Reinvenção na pandemia
Embora concorde que a prática realizada por meio da internet pode ser perigosa, Jaddy comenta que a pandemia impôs mudanças na atuação dos profissionais de educação física. As redes sociais e plataformas virtuais das academias foram usadas como meio para seguir com os seus trabalhos. A diferença é que nesse contexto, cada exercício é pensado para se adaptar às individualidades dos alunos, além de os professores já conhecerem como cada um realiza as atividades.
“Nós tivemos que nos reinventar. Não só nas aulas on-line, como também na forma que nós temos que motivar e estimular as pessoas a fazerem exercícios. Com palavras, mensagens e orientações mais didáticas. Eu participei de um programa on-line na academia onde eu atuo. Então, nós buscamos com a maior simplicidade mostrar como realizar os movimentos, além de orientarmos para que os alunos não fizessem os exercícios caso não tivessem a maior segurança, mesmo com um conhecimento prévio”, comenta.
A dica que ele dá é que caso a pessoa opte por aplicativos e vídeos que procure conhecer a pessoa que estar por trás disso. Buscar saber sobre qualificações, especializações e o histórico da pessoa na área. Segundo ele, esses são os principais pilares para começar de modo seguro. Para contribuir com isso, através de suas redes sociais ele produz conteúdos que alertem para a prática de atividades físicas com segurança.
Com especialização em biomecânica funcional do movimento, que trata desde a reabilitação da pessoa que passou por alguma lesão até o nível de alto rendimento e capacitação para atuar com gestantes, idosos e crianças, Jaddy carrega como lema de profissão algo que faz questão de ressaltar. “Minha missão é cuidar das pessoas. O cuidado em orientar faz toda diferença”, conclui o profissional.