Um vídeo obtido pela GloboNews mostra um delegado atendendo a suposta ligação do prefeito do Rio, Marcelo Crivella, para o celular do empresário Rafael Alves, durante a primeira fase da Operação Hades, no dia 10 de março.
A operação teve uma nova fase nesta quinta-feira (10), durante a qual a polícia esteve em endereços ligados a Crivella, inclusive sua casa, e apreendeu um telefone celular. A ação tem como objetivo investigar um suposto QG da propina na Prefeitura do Rio.
Um relatório da Polícia Civil diz que a ligação de março foi atendida pelo delegado que naquele momento cumpria um mandado de busca e apreensão na casa de Rafael Alves. No vídeo, o delegado cumprimenta o interlocutor dizendo “Bom dia, prefeito” e diz que se trata de uma operação do Ministério Público e da Polícia Civil. A ligação é desligada em poucos segundos. Outra pessoa que está acompanhando a operação pergunta ao delegado se ele se identificou.
A história foi noticiada pelo jornal O Globo nesta quinta e a GloboNews teve acesso ao relatório. Nesta quinta-feira (10), mais uma etapa da operação esteve na Prefeitura do Rio, na casa do prefeito, Marcelo Crivella (Republicanos), e no Palácio da Cidade, onde ele despacha. Agentes apreenderam um telefone celular do prefeito. Outras 17 pessoas foram alvos da ação.
Rafael Alves é irmão do ex-presidente da Riotur Marcelo Alves. Embora não tivesse cargo na administração municipal, Rafael Alves foi citado em delações como o responsável por cobrar propina de empresários que queriam receber valores atrasados da Prefeitura.
Segundo o relatório, a que a GloboNews teve acesso, naquele dia a busca na casa de Rafael Alves teve início às 6h. O empresário estava dormindo na suíte principal, com a porta trancada. Depois de receber ordem para abrir a porta, ele hesitou alguns segundos, “tempo suficiente para ocultar algum objeto relevante”. Em seguida, permitiu a entrada dos policiais.
O documento, assinado pelo delegado Clemente Braune, da Coordenadoria de Investigação de Agentes com Foro (Ciaf) da Polícia Civil do Rio, diz ainda que a equipe encontrou um celular de Rafael Alves escondido debaixo de uma pilha de roupas.
Enquanto a diligência de busca ainda estava em andamento, às 7h32m, o celular começou a tocar nas mãos do próprio delegado. O aparelho estava em modo avião, que não permite receber ligações telefônicas, mas estava conectado à rede de wi-fi da casa, o que possibilita conexão à internet e a aplicativos de troca de mensagens e chamadas de voz.
O relatório afirma que na tela do celular apareceu a identificação da pessoa que estava ligando: “Prefeito Crivella Novo 2”.
O delegado atendeu a chamada e identificou a voz do interlocutor como sendo do prefeito Marcelo Crivella, que disse: “Alô, bom dia Rafael. Está tendo uma busca e apreensão na Riotur? Você está sabendo?”.
Naquela manhã, a Polícia Civil e o Ministério Público do Rio cumpriam 17 mandados de busca e apreensão em vários locais, entre eles na Cidade das Artes, sede da Riotur, a Empresa Municipal de Turismo.
No documento, o delegado afirma que depois de cerca de 30 segundos, ao perceber que não era Rafael Alves quem havia atendido a ligação, o prefeito Marcelo Crivella desligou a chamada.
O delegado conclui o relatório dizendo que “a forma de tratamento, o horário da chamada e o assunto em questão demonstram claramente a relação de proximidade e confiança entre o prefeito Crivella e o investigado Rafael Alves”.
Outro lado
A GloboNews questionou a Prefeitura do Rio especificamente sobre essa ligação. Em nota, o prefeito Marcelo Crivella disse que considerou a operação de hoje injustificada, já que ele não é réu neste ou em qualquer outro processo – e que sequer existe denúncia formal contra ele.
O advogado João Francisco Neto, que defende Rafael Alves, disse que desde dezembro de 2019 o empresário “vem se colocando à disposição do Ministério Público, em sucessivas petições, para esclarecer os equívocos e fragilidades destas acusações lançadas por delator, que fala o que quer para salvar a própria pele. Pela segunda vez, buscas são realizadas sem que a oportunidade de se manifestar tenha disso observada, em franca violação ao direito de defesa”.