Um homem nos Estados Unidos contraiu o novo coronavírus novamente, com a segunda infecção sendo bem mais grave do que a primeira, segundo os médicos.
O paciente de 25 anos precisou de tratamento hospitalar porque seus pulmões não conseguiam captar oxigênio suficiente para o corpo. Depois de um tempo, ele conseguiu se recuperar novamente.
Casos de reinfecção têm sido raros até agora, mas um estudo publicado na revista científica Lancet Infectious Diseases levantou questões sobre quanta imunidade pode ser constituída para o vírus.
Antes da Covid-19, esse paciente de 25 anos não tinha comorbidades ou problemas de imunidade que o tornassem particularmente vulnerável para a doença.
O caso dele se desenvolveu assim:
Cientistas afirmam que o paciente contraiu o novo coronavírus duas vezes, e descartaram que a infecção original tenha se tornado dormente e depois retornado.
Uma comparação do código genético do vírus em cada uma das ondas de sintomas se mostraram diferentes demais para terem sido causados pela mesma infecção.
“Nossos achados apontam que a infecção anterior pode não necessariamente proteger contra futuras infecções”, afirma Mark Pandori, médico da Universidade de Nevada.
“A possibilidade de reinfecções pode acarretar implicações significativas para o nosso entendimento da imunidade contra a Covid-19.”
Ele afirmou que mesmo pessoas que se recuperaram deveriam continuar a seguir as orientações de autoridades e especialistas em torno de distanciamento social, máscaras de proteção e higiene constante das mãos.
Enquanto isso, cientistas continuam intrigados com a complexa questão do novo coronavírus e a imunidade contra ele.
Alguém de fato se torna imune? E as pessoas que desenvolveram sintomas brandos da doença? Quanto tempo essa proteção dura?
Essas são algumas das mais importantes questões para entendermos como o vírus vai afetar as pessoas a longo prazo, e pode ter implicações para as vacinas e as ideias de imunidade coletiva (grosso modo, quando tantas pessoas já contraíram o vírus que ele passa a ter tanta dificuldade de se espalhar que perde força com o tempo).
Até agora, as reinfecções parecem ser raras. Há apenas alguns poucos registros dentre os mais de 37 milhões de casos confirmados no mundo desde o início da pandemia, em dezembro de 2019.
Os registros de reinfecção em Hong Kong, Bélgica e Holanda apontaram casos que não se tornaram mais graves da segunda vez. Outro no Equador se tornou mais grave, como o dos Estados Unidos, mas o paciente não precisou ser internado no hospital.
Entretanto, ainda é muito cedo em termos de pandemia para termos respostas conclusivas, e a história de outros tipos de coronavírus aponta que a proteção do corpo deve diminuir mesmo.
Respostas mais claras devem surgir agora que diversos países estão enfrentando uma segunda onda da doença.
Até agora, estima-se que a segunda infecção por Covid-19 seria mais branda, à medida que o corpo já teria aprendido a combater a doença da primeira vez.
Mas ainda não está claro por que os pacientes dos Estados Unidos e do Equador, por exemplo, desenvolveram uma forma mais grave da doença.
Uma hipótese é que eles tenham sido expostos a uma carga viral maior.
Outra possibilidade é que a resposta inicial do sistema imunológico pode ter piorado a segunda infecção. Esse tipo de situação já ocorreu com doenças como a dengue, quando a resposta a uma cepa do vírus da dengue pode causar problemas se houver infecção por outra cepa.
Paul Hunter, professor da faculdade de medicina da Universidade de East Anglia, no Reino Unido, afirma que o estudo acerca do caso de reinfecção nos EUA é “bastante preocupante” por causa do pequeno intervalo de tempo entre as duas infecções, e por causa da severidade da segunda.
“Dado o fato de que até agora mais de 37 milhões de pessoas já tiveram a infecção, seria de se esperar que tivéssemos ouvido falar de muitos outros incidentes se essas reinfecções precoces com doença grave fossem comuns.”
E completa: “É muito cedo para dizer com certeza quais são as implicações dessas descobertas para qualquer programa de imunização (com vacinas). Mas esses achados reforçam o ponto de que realmente ainda não sabemos o suficiente sobre a resposta imunológica a esta infecção”.