Maria Clara Spinelli, de ‘A Força do Querer’, reclama de convites só para papéis trans: ‘hipocrisia de inclusão’

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Maria Clara Spinelli é a Mira, de ‘A força do querer’

No ar na reprise de “A força do querer” Maria Clara Spinelli, a secretaria Mira, fiel escudeira da vilã Irene (Débora Falabella), fez um desabafo durante uma live com a atriz Suzana Pires sobre a falta de convites para interpretar papéis que não sejam transgênero. Ela agradeceu a oportunidade dada por Gloria Perez em trabalhar em duas novelas da autora (a primeira foi “Salve Jorge”) e reclamou dos colegas e produtores de elenco que só a convidam para interpretar personagens trans.

“O que me dói não é a falta de trabalho, de dinheiro, de reconhecimento, que isso todas nós passamos e vamos passar sempre. É a falta de olharem para mim e verem uma atriz, uma mulher, um ser humano, a Maria Clara. E não pegarem tudo isso, jogar lá fora e colocar o rótulo trans. Eu não trabalho. As pessoas, os produtores de elenco, falam que eu sou ótima atriz. Uma ótima atriz para fazer personagens trans. Se fossem pessoas que me convidassem e me dessem oportunidade de me testarem, iam ver”, queixa-se.

Maria foi ainda mais além no desabafo e disse que o que existe é uma “hipocrisia de inclusão”:

“Tudo bem, existe uma questão de inclusão, de sororidade e antirracismo que é muito bonito na teoria, mas na prática, acabou. Tenho colegas, produtores de elenco, que nunca me chamaram para nada. Aí um dia me ligam e falam que tem um papel. Aí vou ver o roteiro e é uma personagem transgênero. Não tem problema. Quero fazer todas as personagens, transgênero ou não, essa não é a questão. A questão é que essas pessoas nunca me convidaram para outra coisa. Pessoas que nunca me chamaram para outros personagens e só me convidam para personagens transgêneros, é uma grande hipocrisia de inclusão. Fico magoada. Me sinto muito mal de colegas que trabalharam comigo por seis meses, que sabem como eu sou como profissional. Se nem essas pessoas conseguem olhar para mim e me veem além daquele estigma que me colocam, eu estou perdida, porque as pessoas que nunca trabalharam comigo não vão ver”.

A atriz foi convidada para participar do novo filme de Suzana Pires, “De perto ela não é normal”, que estrou essa semana nas plataformas de streaming. Na comédia, ela interpreta uma personagem não trans e agradeceu Suzana pelo convite.

“Você olhou para mim e viu mais do que esteriótipos e clichês. Você não falou: acha uma personagem trans para colocar a Maria Clara. Você olhou para mim como atriz, como ser humano, uma mulher, e isso não tem preço. (…) As pessoas não entendem que sou uma mulher. Tem que explicar para elas, meu Deus. a Gloria Perez fez isso por mim. O Pedro Almodóvar jamais iria me chamar parar fazer uma trans, só porque ele é um gênio”.

No papo com a Suzana, Maria Clara ainda falou sobre o bullying que sofria na infância: “Eu fui uma criança trans. Eu era agredida fora de casa, sofria bullying. Não podia chegar em casa e desabafar com a minha mãe, que me criou sozinha. Ela ia ficar brava comigo. Olha o peso desse mundo nas costas de uma criança: eu tinha que administrar a agressão de fora, trabalhar isso na minha cabeça, chegar em casa e guardar aquilo para mim. Fico pensando como que eu sobrevivi mentalmente e emocionalmente a tudo isso?”.

Fonte: Extra

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