Depois da decisão judicial divulgada na noite desta sexta-feira (6), os sócios do Vasco da Gama elegerão o novo presidente do clube neste sábado (7), em São Januário. O pleito contará com cinco candidatos na disputa: Alexandre Campello, Jorge Salgado, Julio Brant, Leven Siano e Sérgio Frias.
O processo eleitoral contou com disputas e reviravoltas na justiça por conta da escolha do formato da votação. Enquanto alguns grupos entendiam que os sócios deveriam votar de forma presencial, outros pensavam que de maneira online seria mais seguro, inclusive pelo momento vivido pela pandemia.
A disputa foi levada para a Justiça pelo presidente da Assembleia Geral do clube, Faués Cherene Jassus, o Mussa, que pediu o adiamento da eleição por entender que o presidente Alexandre Campello passou por cima de seu poder ao convocar a votação de forma presencial.
A Justiça acatou o pedido de Mussa e a votação foi, então, adiada para o dia 14 de novembro, de forma online, uma semana depois do que estava antes marcado. Na véspera da votação, porém, um recurso proposto pelo presidente do Conselho Deliberativo, Roberto Monteiro, e o candidato Luiz Roberto Leven Siano foi acatado pelo desembargador Camilo Ribeiro Ruliére, derrubando a liminar que adiou as eleições e a retomando para a data original, de forma presencial.
Durante o processo, o ESPN.com.br entrevistou os candidatos Alexandre Campello, Julio Brant e Sérgio Frias e fez algumas perguntas comuns acerca da eleição. Os candidatos Leven Siano e Jorge Salgado tiveram entrevistas marcadas para, respectivamente, os dias 9 e 12 de novembro, mas, por conta da decisão recursal que adiantou a votação, não puderam ser ouvidos pela reportagem.
POR QUE SER PRESIDENTE DO VASCO DA GAMA?
Alexandre Campello: “Nós assumimos o clube em 2018. Um clube que, nos últimos 20 a 30 anos, não tinha apresentado nenhuma evolução, seja no ponto de vista do patrimônio do clube, seja no ponto de vista da gestão. Tanto na gestão financeira, quanto na esportiva. E ao longo desses pouco mais de dois anos e meio, nós, apesar de todas as dificuldades impostas pelo endividamento gigantesco, mas também por conta das adversidades políticas que a gente encontra. A eleição do Vasco ocorre em dezembro e o processo eleitoral começa no dia seguinte, o que é muito ruim para o clube. Então, desde que assumimos, apesar de todas as dificuldades, nós colocamos de pé uma série de projetos que sempre foram a expectativa do torcedor vascaíno. Havia uma expectativa muito grande do torcedor, em primeiro lugar, pela transparência do clube. Isso foi feito, o Vasco é um clube absolutamente transparente, que está entre os quatro mais transparentes do futebol brasileiro. O torcedor vascaíno esperava ter uma proximidade maior do clube”.
“Isso foi feito, logo assim que assumimos, nós liberamos mais de 10 mil usuários que haviam sido bloqueados das mídias do Vasco. Nós recriamos o projeto de sócio torcedor, criamos uma infraestrutura capaz de suportar a força da torcida vascaína. Nós mudamos a gestão do programa de sócios e conseguimos trazer 185 mil vascaínos para participarem, ajudarem o clube nesse processo de reestruturação. Nós profissionalizamos toda gestão do clube, trazendo profissionais competentes para cada uma das áreas que o clube tem, como patrimônio, futebol, departamento médico, marketing, financeiro, jurídico, enfim. O Vasco não tinha um CT, nós prometemos que faríamos um CT, fomos atrás do terreno, conseguimos, fizemos um grande projeto, trouxemos a torcida para junto do clube e construímos o CT. Mas mais do que isso, estamos entregando um outro CT. Então, eu entendo que todas essas realizações contemplam as expectativas do nosso torcedor que existiam em 2017. Muitos desses projetos estão em curso e precisam ser terminados, outros precisam efetivamente dar o pontapé inicial, como é o caso da ampliação e modernização de São Januário. E nós entendemos que é fundamental dar continuidade nesse trabalho, sob pena de muito do que foi feito sofrer prejuízo ou deixar de ser concluído. Por isso, nós dessa gestão nos propusemos a concorrer nessa eleição para que pudéssemos colocar de pé tudo aquilo que o vascaíno sonha, tudo aquilo que o vascaíno deseja para o clube”.
Julio Brant: “A gente tem um projeto muito consolidado, sólido, nos últimos sete anos. Hoje, o nosso projeto é o mais maduro apresentado aos sócios, não começou para uma eleição, há seis, sete meses atrás, é um projeto que há seis anos eu venho participando de eleições e venho nesse período discutindo e debatendo, com os vascaínos do Rio de Janeiro e Brasil afora, sobre o nosso projeto, sobre aquilo que queremos fazer para o Vasco. Nós temos um projeto que, hoje, além da solidez, de ser um projeto de uma gestão moderna, uma ruptura com o modelo que é feita até hoje no Vasco, é um projeto que tem a visão dos sócios do Brasil todo muito bem preservada e muito bem garantida. Trabalhamos muito para que todas essas minhas viagens, para a Paraíba, Bahia, Minas Gerais, Espírito Santo, Brasília, enfim, vários lugares do Brasil todo, para que toda essa visão ficasse refletida no projeto, para que pudéssemos trazer para a visão do vascaíno do Brasil o que ele quer desse projeto, o que ele quer do Vasco. A gente apresenta um projeto que tem uma solidez muito forte em termos de captação de recursos, tem uma proposta de gestão muito refinada, moderna, muito transparente, coisa que no Vasco tem sido muito difícil nos últimos anos, e em tudo isso uma visão profunda do sócio-torcedor do Rio e do Brasil todo”.
Sérgio Frias: “Eu tenho histórico no Vasco de associado desde 1992, membro do Conselho Deliberativo desde 2001 a 2011, depois de 2014 a 2020, benemérito do clube desde 2017. Partícipe do Conselho Deliberativo na qualidade de Vice-presidente no triênio entre 2015 e 2017, participei e fui mentor da maior campanha não-oficial de associação e regularização de sócios da história do clube, em 2013, e tenho uma bagagem acumulada ao longo desses anos todos. Para além disso, me parece que nesse momento o Vasco precisa ter um caminho responsável, pé no chão, um caminho que se atenha às raízes do próprio clube, aos preceitos históricos e institucionais do Vasco. O Vasco precisa ter, a partir de um momento em que um gestor entra no clube, unidade política, precisa saber, o candidato que entra no Vasco hoje, conhecer os homens do Vasco, as pessoas que fazem parte de uma estrutura precisam estar com a cabeça muito aberta para a entrada de jovens para ouvir o mundo feminino, que hoje no quadro social do Vasco começa a crescer”.
“Tem que pensar em trazer para dentro do Vasco novamente o torcedor, não apenas no dia dos jogos, mas para frequentar o próprio clube, em todas as suas sedes, dias de semana, enfim, que haja uma nova união entre vascaínos dentro das sedes, de São Januário e das outras. Com a prática de esportes e movimentos que agreguem o torcedor do Vasco. Além disso, há que se ter uma percepção que nós falamos em termos de patrimônio, que o patrimônio do Vasco deve ser reformado, remodelado, até no que diz respeito à sua sede principal, São Januário, pode ser aumentada a capacidade do público, mas dentro de termos que manchem ou maculem os patrimônios históricos do próprio clube, que o Vasco tenha uma percepção de que, através do seu dirigente, terá uma representatividade, começando pelo respeito interno com o cumprimento das suas obrigações, passando para o respeito externo sabendo-se que ali existe uma liderança que traz o Vasco, entende o Vasco de uma forma absolutamente primordial para o futebol brasileiro e o esporte em geral. Essas características fazem com que o presidente possa ter sucesso e deixar um legado. Eu acredito que seja possível fazer isso, não só com a minha figura como presidente, mas com toda a equipe de trabalho, meus vice-presidentes, com todos aqueles que podem fazer parte de uma estrutura para levar o Vasco a retornar aos grandes momentos, fundamentalmente sob o aspecto institucional para que no aspecto esportivo seja uma consequência do que se obtém enquanto instituição”.
Jorge Salgado, ao GE: “Depois de 1997, o Vasco recebeu uma injeção muito forte de recursos, do Nations Bank, de 70 milhões de dólares. Na época, o clube tinha uma dívida de 10, 15 milhões de dólares. Havia 50 milhões de dólares para construir o maior clube do Brasil na época, deixar um legado para o torcedor, para o sócio. O que aconteceu foi que o pavio ficou aceso por muito pouco tempo. Se gastou essa grana toda em despesas correntes, não foi feito nenhum tipo de investimento relevante, nenhum legado. A única coisa planejada, mas sem nenhum tipo de retorno, foi o projeto olímpico, que nos deu um prejuízo enorme e nenhum tipo de retorno. Até hoje tem jogadores daquele projeto com ações trabalhistas. O Vasco conseguiu a proeza de torrar 50 milhões de dólares e não deixar legado de planejamento e patrimônio. Conseguiu deixar algum legado no campo esportivo, foi campeão brasileiro e da Libertadores, mas acho que foi muito pouco para o tamanho dos recursos que o Vasco conseguiu”.
Leven Siano, ao GE: “Em primeiro lugar, a decisão se dá por eu estar na posição de todos os vascaínos: sofrendo com os resultados esportivos que temos assistido e entendendo que nós temos como colaborar para construir uma política mais saudável e um Vasco com condição mais profissional em sua gestão. Me lancei antes exatamente porque as pessoas não conheciam a gente como político do clube. Em segundo lugar, como tudo o que acredito na vida pessoal e profissional, é necessário ter planejamento. E planejamento estratégico demanda tempo para construir pois a primeira etapa se busca mapear os problemas existentes para, então, depois, em uma segunda etapa, oferecer soluções. A gente não acreditava ser possível construir um planejamento sério em dois ou três meses. Por isso, o tempo anterior para que as pessoas pudessem saber efetivamente que a gente estava participando dessa construção e efetivamente entregar o planejamento que nós entregamos ontem para todos os vascaínos”.
COMO VÊ O PROCESSO ELEITORAL SEM EURICO MIRANDA?
Alexandre Campello: “Eu acho que o Eurico teve um ciclo no clube. Um ciclo em que boa parte foi vitorioso, mas também tiveram seus problemas. Acho que é hora de se olhar para a frente e de se iniciar um novo ciclo no clube. Um ciclo alinhado com os dias de hoje, com total transparência, com mudanças que sejam interessantes, que tragam avanços para o clube. Acho que temos a oportunidade de, na próxima eleição, colocar um Conselho Deliberativo bastante qualificado. E, dentro desse Conselho, sem a conturbação política dessa última gestão, fazer uma mudança do estatuto. Porque, essa que foi proposta, eu acho que não atende às necessidades do clube. Acho que é uma mudança casuística e que precisa ser revista. Acho que teremos a oportunidade de rever tudo isso, de fazer mudanças importantes para o clube. Talvez trazendo o sócio torcedor para ter direito de voto, talvez colocando eleição online, mas de uma maneira bem estabelecida, racional, com tempo para ser trabalhada. Acho que temos essa oportunidade de um novo ciclo”.
Julio Brant: “Eu não tenho diferença nenhuma, não tinha nada contra o Eurico. Tinha contra o modelo que ele representava. E esse modelo continua existindo lá. É até meio curioso, mas para a gente a eleição é igual à última. As mesmas brigas, as mesmas tentativas de manipular o processo, de ganhar vantagem em situações que não são as corretas. Então, continua a mesma forma de conduzir o processo. Uma pena que seja assim. Mas a gente está vendo o que está acontecendo. Nós sempre lutamos contra isso, não foi contra uma pessoa. Então, tendo o Eurico ou não, é indiferente. Pelo contrário, a presença do Eurico fortalecia a questão do modelo, hoje fica mais turvo. Mas está lá. O Eurico não, ele dizia: ‘Faço isso, faço aquilo’. Ele era mais transparente, ele era o que era e assumia o que era. Quem está lá não assume”.
Sérgio Frias: “A ausência do Eurico Miranda traz para o Vasco, a princípio, a sensação de que não haverá a defesa institucional do clube de forma tão sólida, como ele fazia. Por outro lado, há uma ilusão de que, a partir daí, o Vasco resolverá todos os seus problemas políticos, institucionais, o que se mostrou completamente equivocado. A figura do Eurico Miranda trouxe a sensação ao torcedor não vascaíno de que havia solidez interna e que o Vasco se fazia respeitar, internamente e externamente. Isso feito pelo Eurico Miranda pode ser feito, também, por pessoas que tenham a mesma forma de ver o Vasco com as devidas singularidades. Agora, fundamentalmente, com preceitos, a força e o tamanho do Vasco precisam ser tiradas de dentro do Vasco. Porque se não for visto dessa forma, não vai ser visto pelos adversários. Isso é uma grande dificuldade, porque causa desgaste. Quando se quer colocar o Vasco no lugar onde ele merece, não necessariamente os de fora veem que esse deve ser o melhor lugar para o Vasco. Vai impor com a singularidade e o discurso de cada um. O Vasco é um dos maiores clubes do futebol brasileiro, que tem a história mais bonita do futebol brasileiro, que tem uma massa de torcida nacional. É um clube que se você investe nele, tem uma possibilidade de retorno muito grande. Não tenham dúvidas de que, se eu gerir o Vasco, muitos desses preceitos estarão ao meu lado, bem como toda minha equipe de trabalho”.
SE NÃO FOSSE CANDIDATO, EM QUEM VOTARIA?
Alexandre Campello: “O voto é secreto (risos)”.
Julio Brant: “Eu votaria no Jorge. Porque desses candidatos que estão ai é o que tem a experiência mais próxima daquilo que nós imaginamos como sendo melhor modelo para o Vasco. Um modelo empresarial e de gestão”.
Sérgio Frias: “Eu lancei a candidatura por não haver opção. Eu olhei as quatro candidaturas e pensei: ‘Se eu não lançar uma candidatura, esse grupo todo que pensa como nós pensamos não vai ter opção’. Não há uma candidatura que se pareça com a nossa, que chegue próximo da nossa. O jeito de pensar Vasco é muito diferenciado. A nossa candidatura é para dar opção com relação aos outros quatro candidatos. Por isso, a nossa opção é somente por nós mesmos”.