As tentativas de Donald Trump para bloquear a chegada de Biden à Casa Branca saíram dos tribunais e chegaram nas legistaturas estaduais na sexta-feira (20), quando ele se reuniu pessoalmente com deputados republicanos do Michigan – e legisladores da Pensilvânia podem ser os próximos da lista. Há sinais, mesmo entre os republicanos, de que os esforços de Trump precisam de evidências.
“Como líderes do legislativo, seguiremos a lei e o processo normal em relação aos eleitores de Michigan, assim como dissemos durante essa eleição”, disseram o líder da maioria no Senado, Mike Shirkey, e o presidente da Câmara de Michigan, Lee Chatfield, em uma declaração conjunta, depois de uma reunião na Casa Branca.
É importante ressaltar que Shirkey e Chatfield reconheceram que não há evidências reais de crimes eleitorais, o que foi um golpe para o presidente e seus aliados, que têm feito alegações infundadas de fraude.”Alegações de comportamento fraudulento devem ser levadas a sério, investigadas minuciosamente e, caso sejam comprovadas, processadas de acordo com toda a extensão da lei.
Os candidatos que receberam mais votos ganham a eleição e os votos do colégio eleitoral de Michigan. Essas são verdades simples que devem fornecer confiança em nossas eleições”, disseram os legisladores de Michigan.Outro golpe para Trump veio na sexta-feira, da Geórgia, onde o governador republicano Brian Kempo assinou a papelada que concede oficialmente os 16 votos do colégio eleitoral do estado a Biden.
Na quinta-feira, um juiz federal rejeitou um processo de última hora que tentava bloquear essa mesma certificação, e a vitória de Biden foi oficializada na tarde de sexta pelo secretário de estado da Geórgia, Brad Raffensperger, um republicano.
Outros contratempos vieram de Nevada, onde um juiz distrital negou, na sexta, um pedido apresentado por um ativista conservador para suspender a certificação dos resultados das eleições estaduais, programados para a próxima semana – que mostram Biden liderando com mais de 33 mil votos de vantagem.
No Wisconsin, onde autoridades eleitorais no reduto democrata de Dane County rejeitaram os pedidos da campanha de Trump para anular dezenas de milhares de *cédulas de votação ausentes* na sexta-feira, enquanto o estado dava início a sua recontagem parcial dos votos para a presidência.
TESTANDO BRECHAS
Para ter sucesso, Trump precisaria derrubar o sistema do Colégio Eleitoral. Mas por toda a angústia que tem demonstrado sobre um possível golpe, o presidente não parece ter um plano, mas sim um senso desavergonhado de que tem o direito de continuar na Casa Branca.O que ele está fazendo é explorar brechas e bisbilhotar tecnicalidades para ver se alguma delas irá funcionar.
Se puder atrasar a certificação, seja em Michigan, Pensilvânia ou outro estado conquistado por Biden que tenha uma legislatura liderada por republicanos, então poderá confiar que esses legisladores apontem urnas de eleitores pró-Trump no colégio eleitoral.É por isso que o presidente se reuniu com legisladores republicanos do Michigan na sexta.
Ele precisaria torná-los, assim como a maioria da câmara estadual de Michigan, em cúmplices, caso seus esforços busquem o sucesso, mesmo depois de todas as tentativas jurídicas anteriores terem falhado.
Biden tem 306 dos 538 votos possíveis do Colégio Eleitoral, o que significa que Trump precisaria encontrar uma maneira de recuperar 37 votos para que Biden fique abaixo dos 270 necessários para que um presidente seja eleito. Então, ele precisaria obter votos em pelo menos três estados onde a maioria dos eleitores escolheu Biden para a presidência.O foco evidente da Casa Branca é em Michigan (16 votos), Wisconsin (10 votos) e Pensilvânia (20 votos).
Reverter os resultados da eleição de um estado seria uma manobra descarada e horrível o suficiente. Reverter em três estados seria uma peripécia macabra. Mas isso não significa que Trump não tentará fazê-la.Duas fontes disseram à CNN que há discussões atualmente em andamento com o presidente sobre convidar legisladores da Pensilvânia à Casa Branca.
Não se sabe se os convites já foram feitos, mas Trump tem expressado interesse em fazê-lo, enquanto tenta se inserir no processo de certificação de votos.O prazo final para a certificação da eleição em Michigan e Pensilvânia é segunda-feira, então a trama terá que entrar em ação, caso queira fazer algo maior do que apenas um espetáculo secundário e delirante.
Especialistas jurídicos deixam claro que seria incrivelmente difícil que Trump consiga um atalho qualquer que o leve da atual desvantagem nas eleições e a um segundo mandato.Para início da conversa, eles apontam que se Trump conseguir com que votos do Colégio Eleitoral sejam rejeitados ou contestados, de forma que não sejam aprovados no Congresso, isso apenas mudaria o marco dos 270 votos, e não necessariamente daria mais vantagem ao presidente.
Como disse Michael Morley, professor de direito eleitoral da Universidade Estadual da Flórida e membro da Força-Tarefa Nacional para Crises Eleitorais, “em suma, em qualquer cenário remotamente plausível, a eleição será resolvida no Colégio Eleitoral sem desencadear uma eleição contingencial na Câmara.
LEIA AS LETRAS MIÚDAS
À medida em que seus esforços para permanecer na Casa Branca se tornam mais frenéticos, Trump continua pedindo mais dinheiro.Mas com Fredreka Schouten, da CNN, observou, doadores precisam ler as letras miúdas do pedido, no qual o time político de Trump diz aumentou para 75% a parcela do dinheiro que vai para o Comitê Save America de Ação Política (Pac Save America, em inglês). Na semana passada, a parcela era de 60%.
Esse dinheiro não se destina primeiramente aos esforços jurídicos de Trump, mas poderia financiar seus esforços políticos depois que ele deixar a presidência.O fato de que o conselheiro e assessores de Trump estão tacitamente de olho no que vem a seguir não é novidade, mas a extensão de suas tentativas para obstruir e dificultar as coisas para Biden segue cada vez mais evidente.O secretário do Tesouro, Steven Mnuchin, por exemplo, está defendendo a decisão de recuperar bilhões que o governo havia dado ao Federal Reserve para ajudar as pequenas empresas americanas. É um programa mais fácil de ser finalizado que revertido.