Uma das baianas de acarajé mais famosas da Bahia, Jaciara de Jesus, conhecida como Cira, morreu aos 69 anos, nesta sexta-feira (4), em Salvador. De acordo com uma das filhas de Cira, Cristiane de Jesus, a baiana estava internada havia 18 dias, no Hospital São Rafael, unidade de saúde particular de Salvador. “Mainha sentiu sintomas...
Uma das baianas de acarajé mais famosas da Bahia, Jaciara de Jesus, conhecida como Cira, morreu aos 69 anos, nesta sexta-feira (4), em Salvador. De acordo com uma das filhas de Cira, Cristiane de Jesus, a baiana estava internada havia 18 dias, no Hospital São Rafael, unidade de saúde particular de Salvador.
“Mainha sentiu sintomas de problemas renais. Ela já tinha passado por transplante. Meu irmão deu um rim a ela e uns 20 anos depois ela começou a ter problemas. Ela teve Covid-19 em abril e ficou bem, não sentiu nada. Agora, veio para o hospital com esses sintomas renais e faleceu. Ainda não tenho o detalhe da causa da morte, mas a internação foi com esses sintomas”, disse.
Cira deixa cinco filhos (Jussara, Cristina, Cristiane, Carlos e Renê) e 8 netos.
Segundo familiares, religiosa, Cira era “filha” de Oxum Opará, orixá de dupla personalidade. Durante seis meses carrega a beleza de Oxum e no semestre final, a força de Iansã.
“O povo diz que mainha era de Oxum com Iansã, mas era a devoção dela, que ela também tinha por São Cosme, por todos os orixás dela. Ela era cuidadosa das coisas [heranças religiosas] que foram de minha avó”, disse Cristiane.
Nesta sexta-feira, dia da morte de Cira, é celebrado o dia de Santa Bárbara em Salvador, que no sincretismo religioso é representada por Iansã. Além disso, o acarajé, no ritual do candomblé, é a comida ofertada a Iansã.
O velório reuniu familiares na casa de Cira, em Itapuã, e o enterro dela está previsto para às 10h de sábado (5), no cemitério que fica no mesmo bairro.
“Nós moramos em Itapuã e o desejo de mainha era ser enterrada lá”, ressaltou.
A filha da baiana informou ainda que a mãe deixou um legado, não apenas para a família, mas para os baianos, com a continuidade da tradição do acarajé.
“Ela sempre foi muito forte, trabalhou a vida toda com isso e hoje todos nós trabalhamos com o acarajé. Deixou um legado, com certeza”, completou.
O acarajé de Cira é um dos mais conhecidos de Salvador e ela possui quiosques em diversos bairros de Salvador (Piatã, Itapuã e Rio Vermelho) e um em Lauro de Freitas, na região metropolitana.
Em 2019, Cira conversou com o G1 no dia da baiana do acarajé. À equipe de reportagem, ela disse que já atuava há 50 anos fazendo acarajé e que criou todos os filhos trabalhando como baiana. Começou a trabalhar aos 17 anos, quando mãe deixou para ela um ponto de acarajé e ela precisou trabalhar para criar seus quatro irmãos.
Falou também do tempo de trabalho pesado, em que carregava saco de feijão na cabeça, mas destacou o momento de sucesso com a venda do quitute que é tão apreciado por baianos e turistas. Na ocasião, ela disse: “Tudo o que eu tenho é de acarajé”.
A presidente da Associação Nacional das Baianas de Acarajé (Abam), Rita Santos, disse que Cira era uma pessoa generosa e exemplo para as demais baianas.
“Muita tristeza no coração, com essa perda de hoje, justamente no dia de hoje no dia de Oyá, dia de Santa Bárbara. Cira, uma baiana patrimônio imaterial, patrimônio da cultura brasileira, um patrimônio da cultura internacional. Porque quando a gente perde alguém ligado a cultura é o mundo que perde, então não é só Salvador, não é só a Bahia. Cira era uma mulher de coração muito grande, muito generosa. A maioria das baianas se espelhavam nela. É muito difícil para todas nós baianas”, lamentou.
Repercussão
Rui Costa – Governador da Bahia
“Quero manifestar meu profundo pesar pela morte de Cira, uma das mais famosas baianas de acarajé de Salvador. Com seus deliciosos quitutes, encantou baianos e turistas de todo o mundo e será lembrada como um dos ícones da nossa culinária. Que Deus conforte seus familiares e amigos.”
ACM Neto, prefeito de Salvador
“A Bahia perde um patrimônio, um ser humano querido e amado por todos os baianos e por todas as pessoas que visitaram Salvador nos últimos anos. Ela herdou uma tradição, todo aquele conhecimento que vem de geração em geração, e soube acrescentar o seu toque especial, tornando o seu acarajé um dos preferidos da Bahia. Neste dia de Santa Bárbara e Iansã, nós sabemos que Cira será bem-recebida por Deus. Expresso aqui os meus sentimentos. Que Deus possa confortar a todos os seus familiares e amigos”
Bruno Reis – vice-prefeito de Salvador
“Nossa cultura e gastronomia perdem um dos maiores ícones da nossa cidade, Cira do Acarajé.”
Fernando Guerreiro, presidente da Fundação Gregório de Matos
“Rainha da arte culinária da cidade, mulher de uma energia luminosa, que encantava a todos com seu talento e capacidade de trabalho. Salvador perde mais um dos seus ícones, que vai deixar saudades em todos que relaxavam ao final do dia com seus quitutes e seu sorriso.”
Jaques Wagner – senador
“Fátima e eu recebemos com tristeza a notícia da morte de Cira do acarajé, mulher lutadora que dedicou sua vida a este nobre ofício que é símbolo da nossa cultura. Que siga em paz e com a certeza de que seu legado jamais será esquecido. Nossa solidariedade aos amigos e familiares.”
CEN – Coletivo de Entidades Negras
“Perdemos Cira do Acarajé, uma das grandes personalidades da culinária tradicional do candomblé e importante mantenedora da tradição afro-brasileira, conforme regulamenta a tradição secular e também como pede esse bem cultural de natureza imaterial, inscrito no Livro dos Saberes em 2005 como uma prática tradicional de produção e venda, em tabuleiro, das chamadas comidas de baiana. Salvador e o Brasil perdem não somente uma mãe devota e uma das principais baianas de acarajé do país, mas principalmente uma mantenedora de um ofício que manteve viva a chama de reconstrução da identidade nacional, das contribuições africanas, da reconstrução das famílias negras no antes e no pós abolição. Perdemos também a gestora de um grande empreendimento que garantiu mudança de vida e ofereceu régua e compasso para tanta gente, fazendo funcionar um comércio pulsante para muitos do seu entorno e convívio cotidiano. O CEN solidariza-se com a família de Cira e coloca-se enlutado nesta sexta-feira, Dia de Santa Bárbara, por essa perda incalculável”.
Nando Reis – cantor
“Não me lembro de ter ido à Salvador sem passar em Itapuã para comer o @acarajedacira. Acabo de saber de seu falecimento. Já não bastasse as agruras desse ano terrível, viveremos os próximos sem sua presença nessa terra, com a vida cada vez menos saborosa”
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