Prefeitos eleitos do MDB, PP e PSD terão um desafio a mais na área da educação a partir de 2021. Um levantamento feito pelo G1, com base nos resultados da eleição deste ano e no desempenho das redes municipais do ensino fundamental, mostra que essas três legendas vão administrar quase 40% das cidades que não atingiram as metas do Índice de Desenvolvimento da Educação Básica (Ideb) em 2019.
O desafio em 2021 será ainda maior, segundo especialistas, porque os municípios terão que criar condições para realizar dois anos letivos em um. Por conta das paralisações ou dificuldades de acesso criadas pela pandemia neste ano, muitos alunos tiveram o ensino prejudicado.
Para fazer o levantamento, o G1 considerou apenas o Ideb das escolas municipais das turmas dos anos iniciais do ensino fundamental e as cidades em que os resultados das eleições não estão sub judice. A rede municipal detém 83,7% da matrícula pública nos anos iniciais do ensino fundamental.
No total, 1.948 cidades, ou seja, 38% das que foram consideradas no levantamento, não atingiram as metas do Ideb para os anos iniciais nas escolas municipais. Entre as mais de 1,9 mil cidades, 14,5% serão administradas por prefeitos eleitos do MDB, seguidas pelo PP (12,7%) e PSD (11,3%).
A proporção entre os candidatos eleitos de cada partido
O desafio dos partidos não apresenta muita diferença entre as legendas que mais conquistaram prefeituras neste ano. Entre os eleitos pelo MDB, cerca de 40% estarão à frente de municípios que não atingiram as metas do Ideb. O percentual é muito próximo para o PP (40,4%), e um pouco acima entre os eleitos do PSD (34,4%). Entre os eleitos do PSDB, 36% estarão à frente de cidades com Ideb abaixo da meta, enquanto os do DEM, 39%.
Boa parte das cidades que não atingiram as metas do Ideb está localizada em Minas Gerias (259), São Paulo (198) e Bahia (187).
Na avaliação da coordenadora de Jaana Nogueira, coordenadora do Centro de Desenvolvimento da Gestão Pública e Políticas Educacionais da FGV, os novos prefeitos vão precisar dedicar mais atenção para a educação em 2021 em razão dos desafios impostos pela pandemia. Ela ressalta que as dificuldades não atingem apenas os anos iniciais sob responsabilidade das prefeituras.
“Os novos prefeitos e secretários têm muitos desafios. Eles terão de ampliar o acesso e melhorar o aprendizado das crianças, além de estarem atentos à questão da equidade. Tudo isso foi ampliado após a pandemia. Muitas crianças e jovens tiveram dificuldades de se conectar com as escolas. Então todo o processo de aprendizado foi impactado. As prefeituras terão que fazer dois anos letivos em um em 2021”, explica Jaana.
A coordenadora do Centro de Desenvolvimento da FGV considera elevado o percentual de cidades que não atingiram as metas do Ideb nos anos iniciais. O índice leva em conta a proficiência obtida pelos estudantes no Sistema de Avaliação da Educação Básica (Saeb) e a taxa de aprovação nas escolas.
“Esse percentual é inaceitável porque toda criança tem direito a uma educação de qualidade. Além disso, vale ressaltar que as metas são criadas segundo a realidade de cada município. Ou seja, são metas realistas que podem ser alcançadas pelas prefeituras”, ressalta Jaana.
Com o impacto da pandemia no processo de aprendizado dos alunos e no funcionamento das escolas, a coordenadora da FGV acredita que os índices do Ideb das cidades serão afetados na próxima rodada de avaliação.
“É provável que isso aconteça porque houve muita mudança nas rotinas das escolas. Vamos aguardar, mas, sim, é possível que tenhamos impacto no Ideb de 2020”, afirma Jaana.