É comum que o receio e a ansiedade tomem conta da mulher conforme a gestação se aproxima do fim. A ideia de que o trabalho de parto esteja relacionado ao sofrimento, a dor e possíveis complicações, faz com que diversas gestantes optem, automaticamente, pela cesariana para trazer o bebê ao mundo. Mas, ao contrário do que muitos acreditam, submeter-se a esse método cirúrgico, sem a devida indicação obstétrica, é bem mais arriscado do que passar pelo processo do parto normal, segundo alerta a médica e obstetra da Maternidade do Hospital da Mulher (HM), Avha Paixão.
De acordo com a profissional, o medo do desconhecido, da dor e dos mitos relacionados que foram disseminados ao longo dos anos – sobretudo em relação à existência de recursos não farmacológicos para o alívio da dor e de analgesia obstétrica – fizeram com que as mulheres não optassem pelo parto vaginal. “Hoje conhecemos muito mais as formas de ajudar a mulher no parto. Trouxemos experiências das parteiras, que auxiliavam muito as nossas avós e bisavós em seus partos. Nos dias atuais, graças ao embasamento da ciência, mostramos os inúmeros benefícios que elas já faziam há muito tempo, como as posições diferenciadas no parto, o alívio com os exercícios fisioterápicos e os banhos gelados e mornos, por exemplo”, salientou a obstetra.
Ainda conforma Avha Paixão, o medo do que não se conhece acaba passando a imagem de que o parto normal é um assunto que precisa ser entendido, e não um processo natural que todas as mulheres podem passar pela experiência, tendo em vista que vai depender de muitos fatores para que possa ser concretizado. Quando a mulher sente medo, ela dificulta que as coisas caminhem de forma tranquila, uma vez que o parto normal é um processo natural, próprio da constituição do corpo feminino”, assegurou.
Pré-Natal – Para a obstetra da Maternidade do Hospital da Mulher, a realização do pré-natal representa papel fundamental em termos de prevenção e detecção de patologias, tanto maternas como fetais, permitindo um desenvolvimento saudável do bebê e reduzindo os riscos de a gestante apresentar problemas de saúde. “Por meio do pré-natal a gestante consegue conversar e trocar vivências com outras mulheres e profissionais de saúde. Essa possibilidade de intercâmbio de experiências e conhecimentos é considerada a melhor forma de promover a compreensão do processo da gestação”, destacou.
Ainda segundo Avha Paixao, o parto normal deve ser valorizado, já que os benefícios que ele traz à mulher e ao bebê são maiores quando comparados ao parto cesariano. “Ele diminui os riscos de complicações, como infecções e hemorragias, pois propicia uma recuperação rápida, já que não há intervenção cirúrgica, e o útero volta ao tamanho normal em um tempo mais curto. Quando você não tem um corte no útero, com é feito na cesariana, as fibras do músculo do útero não serão rompidas. Logo, elas vão estar intactas, facilitando com o que o processo de recuperação do órgão seja mais rápido”, explicou.
Bebê – Para o bebê, as vantagens estão relacionadas à maturidade dos sistemas respiratório, imunológico e neurológico. “O próprio processo de trabalho de parto faz com que a criança diminua as chances de complicações respiratórias e infecciosas, já que ela vai passar pelo trato genital normal da mãe. Quando o parto é bem assistido, as chances de você ter sucesso na recuperação tanto da mãe quanto da criança são maiores, se comparado ao parto cesariano. Logicamente, nunca deixando de lado, o quanto a cesariana nos trouxe avanços importantes no que diz respeito a salvar vidas. Mas, não podemos levá-la como um parto principal, e sim, como um parto alternativo. Quando o parto normal não está dando certo por algum motivo, a opção é um parto mais seguro para aquele momento, que pode ser a cesariana”, garantiu a obstetra da Maternidade do Hospital da Mulher.
Como se não bastasse, o parto normal também estimula a produção de leite. Avha Paixão frisou que a amamentação, por sua vez, contribui para o estabelecimento do vínculo entre mãe e bebê e reduz a probabilidade de depressão puerperal. “Em todo processo de parto existe a liberação de diversos hormônios, que são muito importantes, entre eles a ocitocina. Ele [o hormônio] vai fazendo todo o processo natural de abertura do colo do útero. Além de desempenhar esse processo de trabalho de parto, esse hormônio também começa a estimular as glândulas mamárias para a liberação do leite, facilitando com que, após o parto, a mãe já tenha leite para amamentar o seu filho. Na cesariana pode acontecer também, mas a produção do leite acaba sendo um pouco mais difícil, de maneira mais lenta”, explicou.
Um parto normal, ressalta Avha Paixão, só não ocorre quando existe risco para a mãe ou para o recém-nascido. “A mais frequente é quando a equipe presencia os sinais clínicos de sofrimento fetal. Quando o bebê está passando por algum tipo de sofrimento identificado pela ausculta ou por algum exame que nos ajuda a definir condutas. Percebendo isso, a equipe precisa intervir. Existem outras situações, como algumas emergências obstétricas, a exemplo de sinais de iminência de ruptura uterina, descolamentos prematuros de placenta, entre outros fatores”, destacou.
Humanização – Dispondo de equipamentos de última geração, assim como de profissionais treinados e habilitados, a Maternidade do Hospital da Mulher é referência para as gestantes de baixo risco, desde que foi inaugurada, em 29 de setembro de 2019. Nesse período, já foram realizados 1.706 partos normais.
“Temos conseguido dar uma assistência diferenciada às mulheres nesse tempo. A nossa equipe multidisciplinar é muito coesa e sempre está de mãos dadas. Sabemos que havia uma carência de uma assistência obstétrica diferenciada em Alagoas e a Maternidade do Hospital da Mulher veio com essa proposta e vai sempre mantê-la”, salientou Avha Paixão.
Beneficiados – Williane Patrícia de Araújo, de 27 anos, deu entrada na Maternidade do Hospital da Mulher na tarde da última quinta-feira (17). Ela e o marido, Marcelo Charles da Silva, 26 anos, eram muito reticentes quando o assunto era o parto normal. Não queriam de jeito nenhum. Mas, como Williane estava com 41 semanas de gestação, não apresentando contrações, a equipe multidisciplinar decidiu pela indução medicamentosa ao parto normal. A pequena Lavínia nasceu na sexta-feira (18), às 8h10, pesando 3,4 quilos e medindo 45 centímetros.
“A gente já veio com a ideia fixa na cabeça de querer parto cesariano pelo fato de ouvir de amigos e familiares que parto normal era um ‘bicho de sete cabeças’ e que a indução medicamentosa era o significado da morte para a mulher. Como somos pais de primeira viagem, ficamos com muito medo. Mas, quando chegamos aqui, os profissionais deram todo o suporte”, contou Marcelo Charles da Silva, pai da pequena Lavínia.
Ainda emocionada com o nascimento da filha e feliz pelo fato de o parto de sua filha ter sido normal, Williane Patrícia de Araújo relatou que o atendimento humanizado fez toda a diferença para que desaparecessem os medos do parto normal, acumulados há vários anos. “Tive o apoio de uma enfermeira e de uma doula durante todo o trabalho de parto. Foi tudo no meu tempo, sem pressão e estresse, o que tornou o momento ainda mais especial. Que equipe maravilhosa”, elogiou a mamãe da pequena Lavínia.