Fundador do Novo e candidato derrotado ao Palácio do Planalto em 2018, o empresário João Amoêdo, de 58 anos, defendeu em entrevista ao Estadão que o partido se assuma como oposição ao presidente Jair Bolsonaro para evitar que esse campo seja ocupado pela esquerda.
Depois de receber 2,5% dos votos válidos, à frente de Marina Silva (Rede), Henrique Meirelles (MDB) e Alvaro Dias (Podemos), Amoêdo viu o Novo eleger só um prefeito em 2020, em Joinville (SC), e sair fraturado da disputa na capital paulista após expulsar seu candidato, Filipe Sabará. Fora da direção do partido, Amoêdo ainda não decidiu se tentará novamente à Presidência em 2022 e avalia que é cedo para discutir nomes de centro para formar uma frente ampla.
Como a bancada do Novo vai se posicionar na disputa pela presidência da Câmara?
Estou fora da gestão do partido, mas me preocupa o Arthur Lira (PP) com essas propostas de se aproximar do PT e a promessa de combater a Lava Jato e mudar a forma de financiamento dos sindicatos. O Novo lançou o Marcel (van Hattem) antes, mas, neste momento, não está havendo essa discussão. Talvez a gente apoie um candidato que tenha uma postura mais ética e que coloque as pautas. O Congresso está muito omisso nessa última etapa e basicamente se preocupando com a eleição.
O Novo só elegeu um prefeito em 2020, em Joinville, e saiu fraturado da eleição na capital paulista. Qual foi o aprendizado?
O Novo é um ator mais importante nas eleições a nível federal. O partido não tem uma capilaridade muito grande pelo pouco tempo de existência. Dito isso, ficamos aquém do esperado. Teve um fator externo. Aquela onda de renovação que esteve muito presente em 2018 acabou sendo frustrada com a eleição do Bolsonaro. Ele se vendeu como um liberal com capacidade de entrega e alguém que representava a nova política, mas não era nada disso. Teve essa frustração e isso levou as pessoas a um certo afastamento da política. O Novo sofreu nesse cenário. Nós de fato representávamos uma ideia de renovação e o afastamento das pessoas enfraqueceu o discurso do Novo. As redes sociais, espaço onde o Novo cresceu, viraram um ambiente muito tóxico.
Onde o partido errou?
Houve um erro estratégico, que foi apostar, em algumas campanhas do Novo, que o Bolsonaro teria relevância e que não se opor a ele seria positivo. Isso tirou a unidade do partido porque não havia consenso sobre o governo Bolsonaro. O presidente não conseguiu transferir votos. A falta de um posicionamento de oposição tirou o protagonismo do Novo. É importante que o partido faça uma revisão disso para 2022.
O Novo então deve ir para a oposição?
Na minha avaliação, sim. Temos dois anos de governo já percorridos. Pelo fato de sermos independentes, temos mais credibilidade para o posicionamento do partido. O governo vai muito mal. Não dá para não ser oposição.
Há uma divisão na bancada federal sobre essa posição?
O Novo nasceu com o pressuposto de ser uma instituição. Os mandatários são importantes, mas não são eles que definem o posicionamento do partido. Quem define são os filiados e diretórios. A ideia é evitar que os políticos e mandatários definam a agenda do partido. O que falta é um posicionamento mais firme do partido em si. Com isso, os mandatários acabam tendo mais relevância no posicionamento em relação ao governo. Dentro das bancadas tem gente mais favorável e contra Bolsonaro. Isso não contribui com o fortalecimento da nossa marca porque mostra falta de unidade.
O processo seletivo do Novo foi colocado em xeque com a escolha de Filipe Sabará como candidato em São Paulo?
Ali houve um erro, obviamente. Em qualquer processo seletivo se cometem alguns erros. O importante é que esses erros sejam poucos no geral. Ainda acredito que o processo seletivo é o mecanismo mais eficaz. O Sabará teve erros na questão do currículo. Faltou averiguação. Mas o partido precisa fazer uma discussão sobre a qualificação que vamos exigir para os que vamos lançar, especialmente no Executivo de grandes cidades e governos. Precisamos melhorar o processo. Tenho certa preocupação para 2022. Esse ambiente mais tóxico das redes sociais e a polarização diminuíram a predisposição das pessoas para ir para a área pública.
Durante a campanha, Sabará, que acabou expulso do partido, acusou o sr. de ser um “cacique” que manda no partido mesmo fora da direção. Como recebeu essas críticas?
Isso não faz o menor sentido. Eu renunciei à presidência do partido três anos e meio antes de terminar o mandato para o qual fui eleito por unanimidade. Se eu quisesse mandar no partido, não teria deixado o cargo. Se de fato eu mandasse no Novo, algumas coisas seriam diferentes. Tenho cobrado do partido uma posição contrária ao governo. Essa é a maior prova que eu não mando no partido. O que aconteceu em relação ao Sabará, e isso está comprovado, é que ele teve problemas com o currículo. Quando as pessoas saem, preferem atacar do que reconhecer os próprios erros.
A falta de um posicionamento mais incisivo do Novo e de outros partidos de centro contra Bolsonaro permitiu que a esquerda ocupasse o espaço?
Não tenho dúvida e isso sempre me preocupa. Eu fazia esse comentário em 2018: a derrubada do PT e da esquerda não viria com a eleição do Bolsonaro. Falta aos partidos que não são da esquerda uma capacidade de se colocar como oposição. Mas oposição ao Bolsonaro não pode ser oposição ao País. São coisas distintas. A gente deveria ter uma oposição responsável, que apoie as pautas boas para o Brasil.
Luciano Huck, Sérgio Moro e João Doria têm conversado sobre a formação de uma frente de centro contra Bolsonaro para 2022. Rodrigo Maia também apoia. O nome que pode aglutinar o centro está nesse grupo?
Acho difícil essas frentes amplas que nascem em cima de nomes em vez de pautas. São frentes que aparecem como amplas, mas cada um tem sua própria agenda. No final, elas pouco avançam. O Bolsonaro vai se enfraquecer ao longo do tempo. Por isso, uma frente se torna menos relevante. Acho difícil algum desses nomes abrir mão para o outro.
O Novo terá candidato à Presidência em 2022? O sr. pretende entrar na disputa?
Não tenho participado do debate de estratégia no Novo, mas acho fundamental o partido ter candidatura. Eu estou mais propenso a não colocar meu nome.
A eleição de 2020 reabilitou a política depois de uma onda de negação dos políticos?
2018 foi um ponto muito específico. As pessoas estavam revoltadas com o PT e decepcionadas com o PSDB. Buscou-se então a ideia de renovação geral. As pessoas saíram frustradas. Houve uma decepção com a renovação. Voltamos três ou quatro casas na ideia de renovação. Houve uma certa reabilitação da política.
Como avalia a guerra política entre Romeu Zema (Novo) e Alexandre Kalil (PSD)? O governador defendeu uma política mais flexível na pandemia.
Zema fez um bom trabalho em Minas. Essa disputa com o Kalil é uma prévia para 2022. O Kalil claramente tem uma posição de disputar o governo. Ambos têm feito um bom trabalho. Mas o Zema tem tido um posicionamento mais próximo e favorável do Bolsonaro.