Em Guaribas, a 660 quilômetros de Teresina, uma atitude do prefeito recém-eleito, Joércio Matias de Andrade, conhecido como Paizim (MDB), virou motivo de revolta. O posto de saúde do vilarejo de 4,5 mil habitantes recebeu 26 doses de vacina contra Covid-19. A quantidade é suficiente para imunizar apenas 13 pessoas. Mesmo com a escassez, Paizim priorizou a sua família na hora de eleger quem deveria receber a vacina. O prefeito tirou fotos tomando o imunizante e postou em redes sociais – o que foi repudiado pela população.
A irmã do prefeito, Cleidiana Andrade, que é secretária de Saúde, também recebeu sua dose. O mesmo ocorreu com o professor Aldir Luiz da Silva, esposo de Claudiana. Nenhum dos três está no grupo de prioridades porque não são profissionais da saúde muito menos atuam na linha de frente contra o coronavírus. Guaribas teve 10 casos suspeitos e nenhuma morte pelo vírus. O município não tem nenhum leito hospitalar e conta apenas com um posto de saúde.
“Eu votei nele e fiquei decepcionada. Nunca imaginei que ele teria uma atitude tão egoísta. Nosso município tem muitos idosos e nenhum foi vacinado”, reclamou a aposentada Helena Correa Maia, de 72 anos, diabética.
A vacinação irregular do prefeito levou o Ministério Público a abrir um procedimento para investigar o caso. O órgão quer que a prefeitura informe a lista das 13 pessoas que receberam a primeira dose. O promotor José Marques Lages planeja sugerir a aplicação de multa em R$ 50 mil e um processo de cassação do mandato. Lages já enviou um ofício conhecido como notícia-fato para Paizim responder se tomou ou não a vacina, apesar de as fotos comprovarem que ele foi imunizado.
“Se realmente tomou a vacina, ele violou o Artigo 268 do Código Penal, que é o desrespeito às normas sanitárias; e o Artigo, 33 que é a Lei de Abuso de Autoridade e Prevaricação. Isso significa que o prefeito usou do cargo para se beneficiar”, disse Lages.
Aos amigos, Paizim disse que se vacinou “na inocência”, pois achava que tal gesto motivaria a população a se vacinar também. Ele também pediu para a secretária de Saúde separar um dose para a sua esposa, mas ela não quis tomar por já ter tido Covid e por ter receio da repercussão negativa que o ato poderia acarretar.
Mesmo depois de ser denunciado no Ministério Público, Paizim pediu para deixar a sua segunda dose da vacina reservada. Amigos políticos e até membros da sua família pediram para ele deixar a segunda dose de lado e o aconselharam a pedir desculpas à população. No entanto, ele simplesmente desapareceu. ÉPOCA procurou o prefeito em sua residência, mas não foi atendida. Seus familiares disseram que ele estava em Teresina.