Polícia faz nova perícia na casa em que três crianças morreram em incêndio

Procedimento busca identificar ainda outros pontos que não foram esclarecidos, como a causa do fogo e se foi acidental ou não.

Três crianças morrem após quarto em que dormiam pegar fogo em Poá — Foto: Cristiane Aparecida Athos/Arquivo Pessoal

A Polícia Civil realiza, nesta segunda-feira (22), uma nova perícia na casa em que três irmãos morreram durante um incêndio, em Poá. Um dos objetivos, segundo a polícia, é encontrar a chave que trancou o quarto. A Defesa Civil também esteve no local para a análise do imóvel.

“Hoje está sendo feita mais uma perícia, mais um pente fino no local, para a gente esclarecer vários pontos. Diante desse pente fino, a gente vê se encontra a chave da porta das crianças. Enfim, a gente tenta identificar vários pontos que ainda precisam de esclarecimentos”, explica o delegado Eliardo Jordão.

Com a perícia, a polícia busca esclarecer detalhes relacionados aos depoimentos dos envolvidos e testemunhas. A perícia busca entender, por exemplo, se o incêndio foi acidental ou não.

“Nós temos várias informações. Essas informações, aos poucos, nós vamos descartando ou constatando. Essa perícia está sendo fundamental para o esclarecimento de alguns pontos”, completa o delegado.

O caso aconteceu na madrugada de quarta-feira (17). As vítimas são Fernanda Verônica de 14 anos, Gabriel de 9 anos e Lorenzo Reis de Faria e Vieira, de 2 anos.

Os corpos das crianças foram enterrados na quinta-feira (18). No mesmo dia a polícia teve acesso a imagens de câmeras de monitoramento que mostram a movimentação da rua no momento do incêndio.

O pai, Ricardo Reis de Faria e Vieira, sobreviveu e foi preso temporariamente por 30 dias. Segundo a Polícia Civil, ele apresentou versões incoerentes sobre o que aconteceu naquela noite. Em nota, a defesa de Ricardo informou que a prisão temporária foi precipitada e que entrou com pedido de habeas corpus.

Jordão diz que, mesmo que Ricardo seja solto, as buscas continuarão sendo feitas e o pai pode voltar a ser ouvido. Ele afirma ainda que não há previsão de quando o caso será esclarecido, pois isso depende do andamento das investigações.

“O habeas corpus é um instrumento jurídico previsível, que poderia existir. O que motivou esse pedido de prisão foram as contradições dos depoimentos. Então, fica a expectativa. Sempre com muita cautela, mas sem perder o ponto”, pontua o delegado.

“É difícil dizer porque sempre surgem algumas outras questões, algumas novidades. Referente, especificamente, ao laudo do IML, para saber o que teria causado as mortes das crianças, a expectativa é que saia essa semana ainda para ver se essas crianças morreram asfixiadas ou não”.

Ricardo compartilhava a guarda dos filhos com o ex-companheiro, Leandro, com quem viveu por quase 15 anos. Os filhos foram adotados pelos dois em 2014 e em 2019. Familiares relatam que as crianças tinham uma boa relação com os pais.

Quarto trancado e contradições no depoimento

Para a polícia, o mais provável é que o incêndio tenha começado no quarto onde as crianças dormiam. “Quando cheguei juntamente com a equipe, a casa toda [estava] incendiada. Realmente uma imagem muito forte, principalmente quando a gente ingressou no quarto dessas crianças onde os três estavam mortos naquele quarto. Aquela imagem que eu não queria ter presenciado, infelizmente aconteceu. Uma situação absurda”, contou o delegado.

Segundo Jordão, o pedido de prisão temporária foi feito para viabilizar as investigações. “Só esclarecer aqui a prisão temporária não aponta, não acusa ninguém. É uma prisão processual, um instrumento jurídico para viabilizar a continuidade das investigações. Este foi o motivo em razão de algumas contradições que nós constatamos ao longo do dia”, afirmou Jordão.

Entre as respostas que a polícia procura está o motivo para o quarto das crianças, que tinha grade nas janelas, estar trancado. “O bebê não era comum dormir nesse quarto. São algumas versões, contradições que ao longo do dia estamos checando. O quarto estava trancado, outro fato que temos que esclarecer, quem trancou e por que estava trancado?”, pontuou Jordão.

Outra contradição é que Ricardo afirmou em depoimento ter ido até a janela, pelo lado de fora, após ter percebido o incêndio, mas que os filhos não estavam no quarto e por isso acreditava em sequestro. Mas no momento do incêndio, mais cedo, ele foi até a delegacia, que fica a poucos metros da casa, pedir ajuda para arrombar a porta e dizendo que os filhos estavam lá.

Testemunhas foram ouvidas, incluindo familiares, vizinhos e agentes que atenderam a ocorrência. Ainda não se sabe a causa do incêndio. No final da tarde de quarta foi encontrado um celular no cômodo, que foi apreendido.

Comoção

O outro pai, Leandro José Reis de Farias e Vieira, que mora em Mogi das Cruzes, chegou ao local pela manhã e ficou desolado com o que encontrou. Familiares diziam que as crianças eram muito amadas pelos dois pais.

Segundo Maria de Lourdes Reis, tia das crianças, eles recebiam muito carinho dos pais. “Eles dois amavam as crianças. As crianças eram tudo pra eles. A gente não sabe o que aconteceu”, disse Lourdes.

Gabriel e Fernanda foram adotados em 2014 pelo ex-casal Ricardo e Leandro. Em 2019, eles também adotaram um bebê.

O delegado também ouviu informações positivas sobre a relação dos dois com os filhos. “Sempre foram exemplo de família. As crianças, educação ímpar. Sempre bem tratadas, criadas. Essas informações que a gente tem, não [são] só de hoje. Os relatos são os melhores possíveis”.

Em 2019, a família chegou a dar entrevista à TV Diário para falar da adoção de crianças por casais homoafetivos. Na época, a filha mais velha expressou sua felicidade com os pais. “Não tem família certa ou errada. O importante é o amor”, disse a menina

Fonte: G1

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