O Flamengo está a uma vitória do bicampeonato consecutivo brasileiro e vive o grande momento decisivo na temporada. Do outro lado do Atlântico, porém, há quem já pense no futuro próximo do clube e com desejo de reatar o casamento vitorioso que foi interrompido há menos de um ano. Pressionado no Benfica, o técnico Jorge Jesus considera, sim, um retorno ao Fla como próximo passo na carreira, caso deixe mesmo o clube português.
O Mister voltou a Portugal com a promessa de montar um superBenfica, mas tudo tem saído fora do roteiro planejado. Desde a eliminação na fase preliminar da Champions League para o PAOK, então de Abel Ferreira (hoje comandante do Palmeiras) até o desempenho decepcionante no Campeonato Português.
Atualmente, o time é o quarto colocado, fora da zona de classificação para a principal disputa europeia de clubes, e está a 15 pontos de distância do líder, o Sporting. A pressão é enorme por sua saída. O Benfica não faria oposição a liberar o treinador sem cobrança de multa – que seria de 20 milhões de euros (mais de R$ 130 milhões) – caso ele decida pedir demissão. E o Flamengo é visto pelo treinador como destino ideal. Mas, claro, há obstáculos.
O primeiro, obviamente, é que há um comandante sob contrato e com chances consideráveis de ser campeão brasileiro no Ninho do Urubu. Rogério Ceni tem bom relacionamento com atletas, embora ainda encontre grande resistência em setores da torcida.
O segundo é a questão financeira: a diretoria rubro-negra não vê possibilidades de repetir o último contrato do Mister, com valores muito elevados para os padrões sul-americanos, principalmente em tempos de crise econômica.
Jorge Jesus assinou acordo com o Flamengo por 3,5 milhões de euros anuais (cerca de R$ 23 milhões), fora bonificações por conquistas. A multa rescisória era de 1 milhão de euros (R$ 6,6 milhões).
Debruçado sob contas, o clube brasileiro comprometeu a sua verba para investimento no futebol para garantir a compra de Pedro junto à Fiorentina, por 14 milhões de euros (R$ 92,3 milhões) parcelados em seis vezes.
Mas, a pessoas próximas, o Mister já admitiu que tentaria se adaptar à nova realidade financeira para retornar ao Brasil. Na última semana, ele foi procurado pelo Atlético-MG, que se despediu de Jorge Sampaoli, e negou qualquer possibilidade. No futebol brasileiro, Jesus considera apenas um retorno ao Flamengo.
Blindada para este momento decisivo do Campeonato Brasileiro, a diretoria rubro-negra não se manifesta sobre o tema. Muitas vezes perguntado em entrevistas coletivas sobre o futuro de Ceni, o vice de futebol, Marcos Braz, reforça apoio, se limita a reforçar que ele é o atual técnico do Fla e evita especular sobre o futuro.
A eleição presidencial do clube rubro-negro, no fim deste ano, entretanto, é mais uma peça neste xadrez político. Ter de volta o Mister seria enorme trunfo para o presidente, Rodolfo Landim, e a atual situação. Perdê-lo para outro clube, ao contrário, provocaria danos e daria força à oposição. Às vésperas de uma decisão é preciso ter cuidado para andar sobre cristal e evitar maiores rachaduras.
Na quinta-feira, o Flamengo encara o São Paulo no Morumbi para ser campeão brasileiro. À tarde, no horário de Brasília, o Benfica enfrenta o Arsenal pelo jogo de volta da fase 16 avos de final da Europa League (na ida, houve empate por 1 a 1).
Em caso de eliminação, a permanência de Jorge Jesus se tornaria quase insustentável no Estádio da Luz.
Se antes não passava de um sonho, agora já há fumaça. O Mister tem o Flamengo de novo à vista.