Um dia depois de o país registrar novo recorde de mortes diárias causadas pela Covid-19, o presidente Jair Bolsonaro voltou a criticar nesta quarta-feira (3) a cobertura jornalística da pandemia e disse que os veículos de imprensa “criaram pânico”.
De acordo com levantamento do consórcio de veículos de imprensa, o Brasil registrou 1.726 mortes pela Covid-19 na terça, recorde desde o início da pandemia. Com isso, o país chegou ao total de 257.562 óbitos desde o começo da pandemia.
A média móvel de mortes no Brasil nos últimos 7 dias até terça chegou a 1.274, aumento de 23% em comparação à média de 14 dias atrás, indicando tendência de alta nos óbitos pela doença.
Nos últimos dias, estados anunciaram novas medidas de restrição para tentar conter o avanço da doença e o risco de colapso no sistema de saúde. Em boa parte deles, a ocupação de leitos de UTI por pacientes graves de Covid-19 está próxima de 100%.
Bolsonaro fez o comentário em conversa com apoiadores em frente ao Palácio da Alvorada, em Brasília. O vídeo com o diálogo foi divulgado em redes sociais.
Após Bolsonaro criticar a imprensa, um apoiador diz que “o povo está morrendo só pelo ouvido”. O presidente, então, responde:
“Criaram pânico, né? O problema está aí, lamentamos. Mas você não pode entrar em pânico. Que nem a política, de novo, do fique em casa. O pessoal vai morrer de fome, de depressão?”
Restrições
Também nesta quarta, o governo de São Paulo anunciou que vai regredir todo o estado à fase vermelha, a mais restritiva da quarentena.
A medida entre em vigor na primeira hora do próximo sábado (6) e deve permanecer até o dia 19 de março. O anúncio foi feito pelo governador João Doria (PSDB).
“Estamos em São Paulo e no Brasil à beira de um colapso. Exige medidas coletivas e urgentes (…) Por este motivo nós estamos atendendo a recomendação do centro de contingência e reclassificando todo o estado de SP para a fase vermelha a partir das 0h de sábado”, disse Doria.
Na terça, a Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz), ligada ao Ministério da Saúde, divulgou uma nota técnica na qual aponta o agravamento da pandemia de Covid-19 no Brasil. De acordo com a Fiocruz, 19 unidades da federação têm taxas de ocupação de leitos de UTI acima de 80%. No boletim anterior, eram 12.
Diante do quadro, o Ministério da Saúde publicou na terça portaria que libera um total de R$ 153,6 milhões para o financiamento de 3.201 novos leitos de Unidade de Terapia Intensiva (UTI) em mais de 150 cidades de 22 estados — os leitos temporários serão custeados por 90 dias, com possibilidade de renovação posterior.
Estados e municípios vinham se queixando da suspensão do repasse de recursos do governo federal para financiar leitos de UTI.
Taxas de ocupação nas capitais, segundo a Fiocruz:
- Porto Velho (100%)
- Rio Branco (93%)
- Manaus (92%)
- Boa Vista (82%)
- Belém (84%)
- Palmas (85%)
- São Luís (91%)
- Teresina (94%)
- Fortaleza (92%)
- Natal (94%)
- João Pessoa (87%)
- Salvador (83%)
- Rio de Janeiro (88%)
- Curitiba (95%)
- Florianópolis (98%)
- Porto Alegre (80%)
- Campo Grande (93%)
- Cuiabá (85%)
- Goiânia (95%)
- Brasília (91%)
Além disso, cinco capitais estão com taxas superiores a 70%:
- Macapá (72%)
- Recife (73%)
- Belo Horizonte (75%)
- Vitória (75%)
- São Paulo (76%)
A Fiocruz sugeriu uma lista de providências, veja abaixo o resumo:
- Manutenção de todas medidas preventivas (distanciamento físico, uso de máscaras e higiene das mãos)
- Adoção de medidas mais rigorosas de restrição da circulação e das atividades não essenciais
- Implementação imediata de planos e campanhas de comunicação
- Reconhecimento legal do estado de emergência sanitária e
- Viabilização de recursos extraordinários para o SUS, com aporte imediato aos Fundos Estaduais e Municipais de Saúde
- Fortalecimento da vigilância em saúde: detecção precoce, investigação laboratorial, isolamento, quarentena e busca ativa de casos suspeitos e confirmados, além de estratégias de teleconsulta.
- Ampliação da capacidade assistencial em todos os níveis, incluindo leitos clínicos e de UTI para Covid-19
- Aceleração da vacinação para toda a população coordenada pelo Programa Nacional de Imunização (PNI) do SUS