O ato de amor da família Souza Schussler ao raspar o cabelo para incentivar a pequena Amanda, de 3 anos, que luta para vencer uma leucemia, ganhou mais um capítulo de superação e uma grande vitória. Na manhã de quarta-feira, dia 11, a menina recebeu o transplante de medula óssea no Hospital de Clínicas de Porto Alegre, no Rio Grande do Sul, duas semanas após a doação do pai, o terapeuta Everton Schussler. A família de Gravataí, cidade da Região Metropolitana da capital gaúcha, esperou por mais de dois anos pelo momento da cura da criança, que descobriu a doença quando tinha pouco mais de um ano.
Amanda estava com a mãe, a professora Cristieni Kelsh de Souza, quando recebeu a transfusão. Segundo o pai, a menina teve um dia normal, inclusive, comeu em todas as refeições do dia, algo incomum para crianças que recebem o transplante. A previsão é que a criança receba alta até o dia 16 de abril, a depender da recuperação da menina.
Schussler doou a medula no dia 22 de fevereiro, após ser submetido a uma série de exames. Ele era um doador 50% compatível, enquanto o filho mais velho tinha 90% compatibilidade. Em um primeiro momento, o menino não queria fazer a transfusão por ter medo de agulha. No entanto, na véspera do exame, ele afirmou que doaria para “salvar a vida de irmã” e “ser o super-herói” dela. Medicamente, ele não foi aprovado por uma questão de peso. Como Amanda tem cerca de 14kg e Gustavo apenas 20kg, ele teria que doar muito sangue e desenvolver uma anemia falciforme e demoraria muito para se recuperar. Mas o ato de que querer ajudar a irmã emocionou a família.
— Nesse processo todo, o Gustavo é muito especial, muito compreensivo. É muito carinhoso e cuidadoso com a Amanda. Mas ele tem um tempinho dele para assimilar. A gente sabia que ele era a melhor opção, mas ficaria doente. Dois dias antes do exame, ele virou e disse: “Pai, eu vou doar e salvar a vida da Amanda. Vou ser o super-herói dela”. Ele ficou tão nervoso, que vomitou antes do teste. Mas foi forte e aceitou duas agulhadas. Ele enfrentou o medo para salvar a vida da irmã. É um gesto lindo — diz o pai orgulhoso.
Família careca
Duas semanas antes de Amanda ser submetida ao transplante, a mãe resolveu raspar a cabeça para que a menina se sentisse igual a eles. O pai, então, resolveu se juntar na rede de apoio, mas o irmão, Gustavo, de primeira, disse não. Logo antes de realizaram o ato de amor, o menino mudou de ideia e pediu para ser o primeiro a perder o cabelo. Quando os parentes souberam da decisão dos três, com o espanto ao vê-los carecas, a atitude de solidariedade tomou conta dos avós maternos e paternos, tios-avós e o padrinho da pequena. Uma união que somente Amanda conseguiu realizar, algo inimaginável para Schussler.
— A Amanda ficou careca uma vez e teria que ficar de novo. Queríamos apoiar ela. Quando ela nos viu com a cabeça raspada, ela achou muita graça e beijou a careca de cada um. Fizemos em casa mesmo. Meus sogros viram, ficaram com os olhos cheios d’água e fizeram também. Minha mãe me pediu para raspar o dela, meu irmão fez…. Meu pai se chocou, mas horas depois mandou uma foto careca. Na nossa vida, não era assim. A Amanda trouxe essa união — conta o pai.