O ex-governador de Goiás Helenês Cândido, de 86 anos, foi uma das 2.648 pessoas que morreram no Brasil por conta da Covid-19 na quarta-feira (17). Cândido morreu numa ambulância na madrugada enquanto estava sendo transferido para um hospital em Caldas Novas, ao sul do estado.
Segundo familiares e lideranças do MDB, sigla a qual trabalhou até o fim de sua vida, havia três dias que ele aguardava por uma vaga na Unidade de Terapia Intensiva UTI – ele morreu pouco antes de chegar a Caldas Novas.
O político e a esposa, Lila Morais Cândido, foram diagnosticados com Covid-19 no início de março e foram rapidamente internados num hospital particular em Goiânia, onde ficaram por uma semana sob observação. Após receberem alta, voltaram para Morrinhos, onde moram.
Helenês, que era hipertenso e diabético, voltou a apresentar sintomas na sexta-feira (12) e precisou ser internado em um hospital da cidade. Precisou ser entubado e foi transferido para um leito de semi-UTI, no Hospital de Campanha numa cidade vizinha, Santa Helena.
Porém, no domingo (14), o quadro do paciente se agravou e médicos solicitaram uma transferência de emergência para uma UTI completa, mas a vaga só foi disponibilizada na tarde de quarta-feira (17). O leito estava no Hospital e Maternidade Nossa Senhora Aparecida, em Caldas Novas, a 265 km de distância de Santa Helena. O ex-governador morreu na ambulância, durante a transferência.
A CNN pediu um posicionamento para a Secretaria de Saúde do Estado de Goiás, que enviou uma nota:
A solicitação de vaga de UTI para o ex-governador foi inserida no sistema do Complexo Regulador Estadual (CRE) às 00h15 de domingo (14) pelo Hospital Municipal de Morrinhos. A partir daí, o caso foi monitorado por uma equipe técnica do CRE, que buscou um leito que atendesse o perfil clínico do paciente. No entanto, menos de seis horas após o pedido da vaga, a unidade solicitante dispensou a busca do leito no próprio sistema e informou que o paciente buscou, por conta própria, atendimento em unidade de saúde no município de Santa Helena de Goiás.
Já na quarta-feira (17), às 13h30, a Unidade de Pronto Atendimento Dom Miguel Pedro Mundo, de Santa Helena de Goiás, realizou solicitação de vaga para o paciente, informando seu estado de saúde. Novamente, uma equipe técnica do CRE deu início ao monitoramento e busca por um leito que atendesse ao perfil clínico do caso. Entretanto, após quatro horas da solicitação, às 17h32, a unidade solicitante dispensou a busca pela vaga e informou que a família havia conseguido um leito em hospital particular, já que o paciente tinha plano de saúde (Ipasgo).
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Todas essas unidades em que o paciente recebeu atendimento não fazem parte da rede estadual e não são reguladas pelo Estado. Durante todo o período em que a solicitação de vaga para o paciente esteve no CRE, houve acompanhamento por equipe técnica na busca por uma vaga em unidades com leitos regulados pela gestão estadual.
Comoção no meio político
A Assembleia Legislativa de Goiás (Alego), onde o político foi presidente em 1997, decretou luto de três dias. O presidente da Assembleia Legislativa, deputado Lissauer Vieira (PSB), disse ao assinar o decreto: “Lamento profundamente a morte de mais um ex-governador do nosso estado para a Covid-19. Helenês foi um grande político, exemplo de trabalho e conquistas, mas também de humildade e retidão. Ele também passou por essa cadeira que hoje eu ocupo, como presidente da Alego, e trouxe vários avanços para a Casa. Com certeza, deixa um legado brilhante.”
O presidente do MDB em Goiás Daniel Vilela, que perdeu o pai Maguito Vilela por conta da doença há dois meses, lamentou a morte do ex-governador numa postagem do Instagram. “Recebi com profundo pesar a notícia da morte do ex-governador Helenês Cândido, mais um líder histórico do MDB levado pela Covid-19. Essa foto, de 2018, foi feita em Morrinhos, na casa dele, quando tivemos uma ótima conversa sobre a política goiana. Meus sentimentos a todos os familiares e à população de Morrinhos, que perde uma de suas referências históricas. Descanse em paz”, escreveu.
Vida e Carreira política
Nascido em Morrinhos em 1935, Helenês Cândido foi um advogado e político de Goiás. Foi prefeito de Morrinhos por um mandato, deputado estadual por três mandatos, presidente da Assembleia Legislativa de 97 a 98 e governador de Goiás de 1998 a 1999, sempre pelo MDB. Em 2000 e 2001 foi presidente estadual da sigla.
Ele deixa a esposa e dois filhos, Helenês José e Paulo Roberto. O corpo do político será enterrado na manhã desta quinta-feira, no município de Morrinhos.