Famílias assentadas de Alagoas estão reconstruindo suas vidas a partir da construção de suas novas casas. O Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária (Incra) no estado está trabalhando, desde o final do ano passado, na construção e reforma de moradias em diversos assentamentos. Serão contempladas 284 famílias assentadas. Dados oficiais da autarquia federal confirmam obras em andamento em 160 unidades habitacionais.
As obras estão mudando a vida de muitas famílias que viviam em habitações de taipa ou lona. Famílias como a de dona Paula de Oliveira, do assentamento criado na fazenda Arrepiado, em Japaratinga (117 km da capital). Acampada desde 2012, ela teve que dividir seu lote com dezenas de famílias que armaram seus barracos. A solidariedade dessa mãe de 40 anos permitiu que, mesmo após a demarcação dos lotes, os novos assentados pudessem morar até a construção de suas casas. A maioria já recebeu sua nova residência. Apenas cinco famílias aguardam a conclusão da obra.
Agora, dona Paula vai poder cuidar melhor da sua produção. Vai sobrar mais terreno em sua parcela. E, o mais importante, segundo ela: vai poder dar uma vida mais digna ao filho Cléber, de nove anos, e ao pai, Severino, que vivem com ela. “Vai ser uma nova vida, porque viver debaixo da lona é desumano”, explica dona Paula, narrando as dificuldades que passou. “Cobra, escorpião e até um porco espinho já enfrentamos; um perigo muito grande pra gente; um sofrimento”.
Nova Vida também é o nome que recebeu o assentamento criado na fazenda Arrepiado. Tudo a ver com a nova realidade dessas famílias. Além de dona Paula, outras 19 famílias receberam a primeira parcela do Crédito Habitação, concedido pelo governo federal, e já estão até trabalhando na construção de suas moradias definitivas.
Enquanto acompanham e recebem as novas casas, os assentados produzem nos seus lotes. Junto com o pai, dona Paula tem 600 pés de banana-comprida, 300 coqueiros, 135 pés de laranja e mais de 100 pés de inhame. “A gente ainda planta macaxeira e tem um bom cercado, com 11 bovinos e mais duas éguas”, explica a assentada. “Eu não paro, além disso tudo que eu faço com a ajuda do meu pai, eu ainda trabalho com meu irmão na feira livre de São Luís do Quitunde (município próximo), e vendo de tudo, incluindo produtos do meu lote”.
A alegria em enumerar os frutos do seu trabalho também se traduz em gratidão, quando fala da satisfação maior, a casa a ser recebida. “Em nome de Jesus, sou muito grata; meu filho está tão feliz que nem sei como explicar. Primeiramente, agradeço a Deus, mas também ao superintendente do Incra, César Lira, à equipe dele e ao nosso presidente da associação, que a gente chama pelo apelido de Preguiça, mas que não para de trabalhar em nosso favor”.
Dona Paula vive mesmo de desafios e superação. Muitos dos parceiros de trabalho já foram seus alunos. Ela foi professora pelo Pronera (Programa Nacional de Educação na Reforma Agrária), anos atrás, na Educação de Jovens e Adultos (EJA). “Consegui estudar Pedagogia, à distância, até o quarto período, e pretendo voltar”.
A casa dela vai sair em breve, pois os trabalhos não param em Nova Vida. Engenheiro do Incra e responsável pela obra, Hugo Santos explica que a nova metodologia do crédito habitação favorece o controle de prazo e qualidade. “No novo formato, passa a ser exigido o acompanhamento das obras por técnico habilitado e credenciado pelo Incra, tendo que apresentar a ART (Anotação de Responsabilidade Técnica). Também pode ser feita parceria com entidades civis sem fins lucrativos ou governos, sempre através de chamada pública”.
O superintendente do Incra, César Lira, destaca que a fase atual do programa vai alcançar 22 assentamentos no estado. Para ele, os números se traduzem em conquistas reais para as famílias e para o governo federal. “Tenho acompanhado as obras e a receptividade dessas famílias que já estão sendo atendidas, graças ao novo crédito habitacional lançado pelo presidente Jair Bolsonaro no ano passado. Com essa iniciativa, encampada pelo presidente do Incra, Geraldo de Melo Filho, consolidamos uma ação que traz dignidade ao assentado. E é muito gratificante acompanhar e saber que o trabalho da nossa equipe gera resultados”.