A família de Lourenço Pereira, de 69 anos, denunciou um médico e o Hospital de Caridade de Alecrim, na Região Noroeste do Rio Grande do Sul, pela morte do homem após receber nebulização com hidroxicloroquina, para tratamento contra a Covid-19.
Lourenço faleceu no dia 22. A filha do paciente, Eliziane Pereira, afirma que os familiares não autorizaram e sequer sabiam do procedimento. O médico responsável é Paulo Gilberto Dorneles.
A RBS TV tenta contato com o profissional. O Hospital de Caridade de Alecrim não quis se manifestar, mas informou que deve realizar uma reunião nesta segunda-feira (5) para avaliar o que aconteceu.
Estudos feitos em várias partes do mundo desde o ano passado não comprovaram a eficácia da hidroxicloroquina no tratamento contra a Covid-19. Neste mês, a Organização Mundial da Saúde (OMS) recomendou que o medicamento não seja usado como prevenção da doença.
O caso
Lourenço Pereira estava internado no Hospital de Caridade desde o dia 19 de março, quando sentiu falta de ar. Na chegada ao hospital, um exame comprovou o diagnóstico de Covid-19.
No segundo dia de internação, de acordo com o prontuário obtido pela família, o médico prescreveu inalações de hidroxicloroquina a cada seis horas. No dia 21, a equipe médica registrou uma piora do quadro respiratório, e o médico deixou de fazer as nebulizações, receitando um comprimido por dia de hidroxicloroquina via oral.
No dia seguinte, 22 de março, às 12h, Pereira faleceu. Segundo a família, a certidão de óbito apontou como causas da morte a Covid-19 e a doença pulmonar obstrutiva crônica.
“Como um médico usa um tratamento experimental em um paciente com 40% de comprometimento do pulmão”, desabafa Eliziane.
Descaso com informações
A família também reclama que houve um descaso no tratamento em geral que Pereira recebeu no hospital, já que em nenhum momento recebiam notícias.
“Eles [irmãos] chegaram lá na sexta [19] à noite para obterem maiores informações, porém sem sucesso. E como em princípio meu pai não poderia receber visitas, eles ficaram aguardando serem chamados para maiores informações. No domingo [21] pela manhã, alguém da equipe de enfermagem os contatou utilizando o telefone do meu pai para que um familiar fosse ficar de acompanhante”, conta Eliziane.
Segundo ela, as informações sobre Lourenço eram dadas apenas por ele mesmo.
“Simplesmente o médico disse pra ele que o caso já estava muito avançado e que iria entrar com medicação, só isso. Não nos contatou, até porque meu pai é uma pessoa idosa, era leigo pra muitos assuntos e internou sozinho”.
A filha comparou ao atendimento que a mãe, que também teve Covid, recebeu em Porto Alegre, em que eles recebiam informações diárias através dos médicos.
“A diferença foi enorme, minha mãe deu entrada na UPA e de início os profissionais vieram nos questionar os medicamentos que ela tomava, horários. A médica entrou em contato conosco, já que não poderíamos visitar, passando o quadro clínico. E quando minha mãe conseguiu leito na Santa Casa passamos a receber ligações diárias da médica que estava cuidando dela”, diz.