Enfermeira vira influenciadora em meio à pandemia e viraliza com vídeos sobre a profissão

Foi com um vídeo sobre como desengasgar um bebê que a enfermeira Karina Fernandes, de 33 anos, viralizou pela primeira vez (assista acima). Publicado em uma rede social, o conteúdo prático e de linguagem simples, atingiu mais de 4 milhões de visualizações em poucas semanas. Era o pontapé inicial para um novo hobby.

Desde então, a profissional, que mora e trabalha em Mogi das Cruzes, decidiu que usaria a plataforma para desmistificar a enfermagem. Ela esclarece dúvidas sobre a profissão, grava relatos sobre a rotina de trabalho, compartilha casos curiosos e ensina procedimentos que podem ser feitos por qualquer pessoa.

Karina conta que acabou virando a enfermeira mais seguida do Brasil em uma plataforma de vídeos e já soma quase 6 milhões de curtidas. Em meio à pandemia, atuando na linha de frente, ela encara o trabalho como influenciadora como uma terapia, que a ajuda a lidar com o dia a dia cercado pela Covid-19, e ainda ensina seguidores.

“Tem três meses que eu comecei a fazer os vídeos. Foi dia 20 de janeiro que eu comecei. Em pouco tempo, cresceu muito. No Tik Tok, eu sou a enfermeira com o maior número de seguidores no país. Estou indo para quase 700 mil seguidores. Faço lives diárias com mais de 50 mil visualizações”, conta a enfermeira.

“Os vídeos estão me ajudando bastante no sentindo de eu entender que virei um canal. Se eu falo lá: ‘gente, fica em casa, existe o risco, as pessoas estão morrendo’, as pessoas acabam entendendo que é real. Eu conto algumas histórias, eu conto essa coisa de tentar sensibilizar as pessoas. Tem sido muito satisfatório”.

Das dicas de enfermagem às histórias do trabalho

No perfil “Pergunta pra Ká”, a diversidade do conteúdo chama a atenção. É possível encontrar vídeos sobre como prestar primeiros-socorros enquanto o resgate não chega e até casos que ela viu no trabalho, exercido há mais de 16 anos. Segundo Karina, o segredo do sucesso pode estar na interação com os seguidores. Muitas vezes, são eles que ditam os assuntos.

“O pessoal pergunta, por exemplo, quanto tempo demora para o umbigo do bebê cair. Eu vou lá, explico como acontece. Falo também de doença sexualmente transmissível, aí explico o que acontece nos sintomas da sífilis, o que é a sífilis, por exemplo. Vou respondendo conforme o pessoal vai mandando”, comenta.

“A diferença, que acabou tendo, é que às vezes você pesquisa por um vídeo sobre, por exemplo, anestesia. Só que a pessoa não consegue tirar dúvidas. Se você assiste e fica na dúvida, não tem para quem perguntar. Onde eu faço, as pessoas assistem o vídeo e perguntam. Eu consigo ir e tirar as dúvidas”.

Mesmo quando a sugestão não vem de quem assiste, ela aproveita a própria experiência para compartilhar o que considera importante. O primeiro vídeo de sucesso, sobre desengasgo, surgiu assim. Além disso, o conteúdo é repassado em poucos segundos, tem linguagem clara e termos de fácil compreensão. Tudo para alcançar o maior número de pessoas.

“Uma vez eu recebi uma mãe com uma criança morta nos braços, porque ela tinha se engasgado com leite. Eu falei: ‘meu, eu preciso começar a falar um pouco disso’, porque é uma coisa tão simples e que pode salvar a vida de alguém, sabe?”, comenta.
“Eu estou há 16 anos dentro de um hospital, então a gente acaba vendo muita coisa que poderia ser evitada antes de chegar o paciente lá, sem vida. Nesse caso, por exemplo, da criança engasgar, se afogar, às vezes não adianta correr para o hospital. Você precisa dar o primeiro atendimento”.

“Eu acho que o vídeo curto também, realmente, deu um start. Primeiro porque eu tenho que usar uma linguagem para o pessoal entender, rápida, que fique clara. Acabou juntando tudo isso e viralizando”.
Na linha de frente, a informação não fica de lado
Os vídeos começaram a ser gravados em janeiro de 2021, quando a população já estava habituada a conviver com a Covid-19. Mesmo assim, a enfermeira diz que não faltam dúvidas entre os seguidores. Algumas, inclusive, são simples e importantes. Ela já fez vídeos, por exemplo, sobre quando um paciente com febre deve ir ao hospital.

Karina relata que passou boa parte da carreira trabalhando no setor de traumas, o que inclui vítimas de acidentes. Desde o ano passado, ela atua na UTI para Covid-19 do Hospital Luzia de Pinho Melo, em Mogi das Cruzes. Experiência inédita e desafiadora, que ela faz questão de compartilhar nas redes sociais.

“Eu falo nos vídeos sobre isso. Eu estou há 16 anos dentro de hospital. Nesse que eu estou agora tem 7 anos, mas eu já trabalhei em sete hospitais. Mas eu vou falar para você: a experiência que a gente está tendo com esses pacientes de Covid-19, a gente nunca teve em nenhum momento da história”, relata.

Karina é de Mogi das Cruzes e trabalha na linha de frente do combate à Covid-19 — Foto: Karina Fernandes/Arquivo Pessoal

“Você vê famílias morrendo. Você interna o pai, interna a mãe, interna o filho. Aí morre o pai e a mãe e só fica o filho. Você interna dois filhos, morrem os dois, e os pais ficam sem os dois filhos. Tudo muito rápido, com 15, 20 dias de diferença. A gente não estava acostumado a isso. Agora a gente vê a história, acompanha”.

“Eu já tive colega que entrou no banheiro e começou a chorar. Ela não tinha mais o que fazer pelo paciente. Ela dizia: ‘não tem mais o que eu possa fazer, eu fiz tudo’. Essa sensação de impotência, de tentar fazer tudo e não ter resultado, traz essa exaustão”.

Em meio ao esgotamento, ela vê em seu conteúdo um pouco de esperança. Estudante medicina e mãe de dois menininhos – que já aprenderam a fazer reanimação e a desengasgar outras crianças –, ela acredita que democratizar o acesso à informação é essencial para que as pessoas tenham acesso a recursos fundamentais, como a saúde e o cuidado.

“As pessoas começaram a entender também a importância da enfermagem, do que é o enfermeiro, o técnico e o auxiliar. Para mim, é emocionante. Me faz ver que eu estou ajudando outras pessoas, além dos meus pacientes do hospital. Quando eu dissemino a informação, acredito que isso ajuda as pessoas antes mesmo delas chegarem ao hospital”.

Fonte: G1

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