A doméstica Ronilza Johnson, de 45 anos, que morreu após passar por um procedimento para aumentar o bumbum, teve a Covid-19 como uma das causas da morte. A informação consta na Certidão de Óbito da mulher, que faleceu em Anápolis, a 55 km de Goiânia, na noite de sábado (1º).
Segundo informações da família, Ronilza morava na Inglaterra, mas estava visitando o pai, em Anápolis, quando decidiu, por indicação de amigos, fazer alguns procedimentos estéticos em uma clínica da cidade. Após um desses procedimentos, que tinha por objetivo aumentar o bumbum, ela passou mal e precisou ser internada no Hospital de Urgências de Anápolis (Huana), em 27 de março.
O G1 entrou em contato com a unidade de saúde, por e-mail, às 6h18 desta terça-feira (4), para saber quando a paciente foi diagnosticada com Covid-19 e se ela estava em ala separada para a doença, mas não obteve retorno até a última atualização desta reportagem.
Na certidão, as causas da morte estão listadas como: Covid-19; choque séptico, que é quando uma infecção se alastra pelo corpo rapidamente e afeta vários órgãos; fasciíite necrosante, uma infecção que atinge camadas internas e externas da pele, deixando o tecido com aspecto necrosado; e intervenções de razões estéticas.
Investigação
Após Ronilza ser internada, ela denunciou os responsáveis pelos procedimentos estéticos à Polícia Civil, que começou a investigar o caso. Foi apurado pelas autoridades que a clínica em que foram feitos os procedimentos na vítima não tinha alvará de funcionamento, portanto operava de forma ilegal.
Segundo a delegada Cynthia Alves Costa, a pessoa responsável pelo procedimento é o biomédico Lucas Santana, que se apresentou como médico a Ronilza. A polícia também apontou a participação de Thierry Cardoso, um estudante de medicina na Bolívia.
A reportagem não conseguiu localizar a defesa dos investigados para pedir uma posição sobre o caso.
A Polícia Civil pode pedir a prisão dos investigados à Justiça.
“As investigações se iniciaram visando apurar crime de lesão corporal – grave ou gravíssima. Contudo, a vítima não resistiu às lesões, veio a óbito e a tipificação segue agora como lesão corporal seguida de morte”, explicou.
A delegada disse que os investigados usaram polimetilmetacrilato, mais conhecido como PMMA, para fazer o preenchimento. Apesar de não ser proibido, o uso, porém, não é indicado pela Sociedade Brasileira de Dermatologia para este procedimento específico.
“O uso não é recomendado por gerar muitas complicações, deformações, nódulos, reações alérgicas, processos inflamatórios graves, rejeições, necrose e pode levar à óbito”, avaliou a farmacêutica Alessandra Rosa.
O produto causou infecções graves no corpo de Ronilza, que depois necrosaram e viraram feridas. Após passar mal e ser levada para o hospital, a mulher denunciou os suspeitos.
“O procedimento foi feito de forma ilegal, o que já foi verificado. Ela passou mal uma semana depois e vizinhos chamaram uma ambulância”, conta a delegada.
Um documento mostra os serviços que foram feitos, totalizando quase R$ 9 mil. Na folha apreendida pela polícia, está o carimbo de Lucas Santana.
A delegada cumpriu mandados de busca e apreensão nas casas dos suspeitos e na clínica onde atuavam, na última sexta-feira (30). A polícia também esteve em endereços domiciliares em Leopoldo de Bulhões e em Anápolis.
Na casa do estudante, em Leopoldo de Bulhões, foram apreendidos inúmeros medicamentos, inclusive de procedência estrangeira, de uso veterinário e receitas médicas em branco.
A clínica onde o biomédico trabalhava foi fechada pela Vigilância Sanitária por falta de alvará de funcionamento. No local, foram apreendidos cadernos com anotações e tubos utilizados para coleta e armazenamento de sangue.
O Conselho Regional de Biomedicina disse, em nota, que o biomédico realizou um procedimento não autorizado pelo Conselho Federal de Biomedicina e que será aberto contra ele processo ético, sem prejuízo da análise de processo criminal pelas autoridades policiais. A nota diz que Lucas da Silva Santana tem registro profissional e habilitação em estética.