O número de trotes tem chamado a atenção dos socorristas do Serviço de Atendimento Móvel de Urgência (Samu) de Alagoas, que diariamente são acionados pela sociedade alagoana por meio do número 192. Somente de janeiro a abril de deste ano, as Centrais de Regulação de Maceió e Arapiraca receberam 117.676 chamados feitos pela população e, do total, 42.693 foram telefonemas criminosos, o que representa 36,28% das ligações.
Mesmo diante da quantidade significativa de trotes recebida em 2021, o Samu Alagoas registrou uma redução no número de ligações indevidas ao fazer um comparativo com os quatro primeiros meses de 2020. No primeiro quadrimestre do ano passado, o número 192 recebeu 138.598 chamados, sendo 42.945 telefonemas falsos.
A médica e supervisora geral do Samu Alagoas, Josileide Costa, ressalta que os trotes causam graves consequências e podem, inclusive, custar a vida de uma pessoa. “Quando uma ambulância, motolância ou helicóptero é liberado para atender um chamado falso, uma região pode ficar desassistida. E caso chegue um chamado verdadeiro para anteder as vítimas de acidente trânsito, de arma de fogo, de parada cardiorrespiratória, de AVC [Acidente Vascular Cerebral] ou com qualquer outro quadro de urgência ou emergência que necessite do Samu Alagoas, os socorristas podem demorar a chegar. E, devido a essa demora, ocasionada por uma ligação falsa, infelizmente o indivíduo pode ficar com sequelas graves ou até mesmo morrer em consequência dessa brincadeira de mau gosto”, alertou.
A supervisora geral do Samu Alagoas explica, ainda, que para tentar identificar as ligações falsas, o órgão conta com os Técnicos Auxiliares de Regulação Médica (TARMs), que são os primeiros profissionais que atendem aos chamados que chegam pelo número 192. “Os TARMs são os profissionais que fazem o primeiro contato com o cidadão. Eles realizam uma triagem rápida com o indivíduo, colhendo os dados, endereço e apurando todos os detalhes da ocorrência. Além disso, eles formulam perguntas específicas e direcionadas para tentar identificar inconsistências nas respostas do cidadão e, desse modo, podem verificar se aquela ligação é um trote ou não. É nesse processo de triagem que, na maioria das vezes, o trote é identificado e a ligação é encerrada. Com essas medidas de precaução conseguimos evitar que a ligação prossiga para os médicos reguladores de plantão, que também possuem um treinamento para identificar as ligações criminosas, evitando, assim, a liberação de viaturas para uma falsa ocorrência”, detalhou a médica do Samu Alagoas.
Crime – De acordo com o artigo 266 do Código Penal Brasileiro (CPB), interromper ou perturbar serviço telefônico é crime e o indivíduo pode pegar de um a seis meses de detenção. Além disso, o criminoso também pode ser condenado ao pagamento de multas e ter penalidades duplicadas caso o trote seja realizado em situações de calamidade pública, a exemplo do momento de pandemia do novo coronavírus em que o mundo se encontra.
“É necessário que as pessoas sejam responsáveis, conscientes e não façam ligações falsas para não congestionar as linhas do número 192. Um minuto atendendo a um chamado falso pode fazer a diferença na vida de uma pessoa que esteja em estado grave e realmente precisando do atendimento pré-hospitalar móvel de nossos socorristas”, salientou a supervisora.
Medidas de conscientização – Com o objetivo de conscientizar a população e alertar sobre as consequências que podem ser trazidas pelo trote, o Samu Alagoas conta, desde 2014, com um projeto de extensão desenvolvido em parceria com a Universidade Federal de Alagoas (Ufal). Batizado de Samu nas Escolas, a ação consiste em levar, de forma lúdica e prática, atividades e palestras aos alunos da rede de ensino. Participam das atividades os acadêmicos de Medicina, Enfermagem e Serviço Social da Ufal, além de servidores do Samu.
No entanto, devido ao estado de calamidade pública ocasionado pela pandemia de Covid-19 no ano passado, o projeto Samu nas Escolas está temporariamente suspenso de forma presencial para evitar aglomerações e reduzir os riscos de contágio pelo novo coronavírus. Visando retomar as atividades do programa, o Samu Alagoas está viabilizando, em parceria com a Ufal, uma nova metodologia para levar até às unidades de ensino o projeto em formato virtual.