O professor Eduardo Costa Neto morreu no dia 9 de maio por complicações da Covid-19 em um hospital na capital. Aos 29 anos, a morte de Dudu, como era chamado pelos amigos, chocou os parentes e amigos.
Eduardo era natural de Capão Bonito (SP), presidente do Conselho de Cultura, além de atuar como professor oficineiro no Projeto Crear, uma ONG com sede na cidade paulista.
A personalidade original e criativa do jovem são as características unânimes destacadas pelos amigos do estudante de pedagogia, que pretendia concluir os estudos assim que a pandemia melhorasse.
A amiga Aline Marchesi da Silva, que tem a mesma idade do jovem, conta que conheceu Eduardo ainda na escola, onde criaram uma amizade para vida toda.
“Ainda me emociono bastante ao falar do Dudu e acho que por um bom tempo vai ser assim. Pra mim foi uma ruptura muito violenta, e ainda é difícil. Tinha uma personalidade muito original, era o Dudu, não dá pra explicar ou comparar com outra pessoa. Ele tinha opiniões muito bem formadas”, conta a amiga.
A jovem conta ainda que Dudu tinha medo e se preocupava com os amigos desde o início da pandemia. Ele propôs que criassem uma rede de apoio, para que se alguém se sentisse mal, soubesse que poderiam contar uns com os outros.
“A gente conversou sobre isso, eu contei para ele que estava aflita e ele também contou que estava, que tentava ficar bem, mas também estava aflito. Ele disse que estava se cuidando e pediu pra gente se cuidar também.”
Da escola para a sala de aula
Para Karina Kacuta, de 44 anos, que foi professora do Eduardo desde a terceira série e se tornou uma amiga e parceira de estudos na vida adulta, o jovem ainda tinha muitos sonhos para alcançar.
“Na formatura do nono ano, ele já sabia que queria trilhar o caminho das artes e foi estudar em São Paulo. Ele estudou teatro, dramaticidade, cinema. Ficou uns anos em São Paulo e depois voltou para Capão Bonito. Quando voltou, entrou em contato comigo e queria muito me encontrar. Marquei um café aqui na minha casa pra ele vir. Foi uma alegria quando ele falou comigo sobre trilhar o caminho da pedagogia”, conta.
Ela também lamenta a perda precoce. A professora conta que Eduardo tinha ideias muito a frente da idade.
“Ele me surpreendia, falava coisas que me tocavam profundamente. Aprendi muito com ele, a ser um ser humano, uma professora melhor. Ele me fazia refletir. Uma pena mesmo que tudo isso tenha acabado assim. Como eu disse, uma dor muito grande”.
Segundo as amigas, foi quando voltou à cidade onde nasceu que Eduardo começou a atuar na ONG Projeto Crear (Centro Recreativo Educação Artístico Renascer), em 2018. O Centro atende gratuitamente crianças e adolescentes por meio da pedagogia Waldorf.
Peggy Lererer, de 50 anos, diretora pedagógica do Centro, conta que ele era muito ativo no trabalho, começou como voluntário e atualmente era professor.
“Ele cantava, tocava, cozinhava, pintava e desenhava, fazia trabalhos manuais, conversava muito com os jovens sobre a ‘vida lá fora’, ser crítico, valores, respeito e aceitação do diferente. Dudu atuava com adolescentes de 12 a 16 anos sempre focado nas atividades sócio-educacionais”.
Para a diretora, ainda é muito doloroso falar sobre Dudu. “Preparava as suas aulas e atividades com muita dedicação, pesquisando, sempre envolvendo muita arte, diversidade. Era um jovem com muitos sonhos, com muita energia e garra, querendo abrir um caminho para os jovens da nossa comunidade para o mundo, o diferente”, relata.
Eduardo também era Presidente do Conselho de Cultura de Capão e membro do Fundeb Fundo de Manutenção e Desenvolvimento da Educação Básica e de Valorização dos Profissionais da Educação.
De acordo com a prefeitura, ele foi internado na Santa Casa em 19 abril. No dia 27 foi transferido para o Hospital das Clínicas, em São Paulo (SP). Contudo, sofreu uma paralisia nos rins no domingo (9) e não resistiu às complicações. Eduardo foi enterrado na tarde de 10 de maio.