Garimpeiros jogam bombas contra indígenas em 7º dia de ataques na Terra Yanomami, dizem lideranças

Invasores estavam a bordo de 15 barcos e atacaram Palimiú por volta de 21h40 deste domingo (16), informou a Hutukara e o Condisi-Y.

Garimpeiros atacaram mais uma vez a comunidade Palimiú, na Terra Indígena Yanomami, na noite desse domingo (16) e a região teve o sétimo dia seguido de tensão. Desta vez, os invasores atiraram e jogaram bombas de gás contra os indígenas. A informação foi divulgada nesta segunda-feira (17) pela associação Hutukara e o Conselho de Saúde Indígena Yanomami e Ye’kuanna (Condisi-Y).

Alexandro Pereira/Rede Amazônica

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Até o momento, não há informações sobre feridos. O ataque da noite desse domingo aconteceu por volta de 21h40. Indígenas que vivem em Palimiú relataram que os garimpeiros estavam a bordo de 15 barcos.

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“Eram 15 barcos de garimpeiros se aproximando contra a comunidade. Os Yanomami disseram que além dos tiros, havia muita fumaça e que seus olhos estavam ardendo, indicando o disparo de bombas de gás lacrimogênio contra os indígenas.”

“Os Yanomami estavam muito aflitos, e gritavam de preocupação ao telefone. Ao fundo, era possível escutar o som dos tiros. A situação era grave”, divulgou a Hutukara em um ofício cobrando órgãos federais por segurança na região.

A informação sobre o novo ataque foi repassada por telefone ao vice-presidente da Hutukara, Dário Kopenawa, e ao presidente do Condisi-Y, Júnior Hekurari Yanomami, ainda na noite de domingo.”Me ligaram por volta de 21h47 dizendo que tinham jogado bombas, que explodiram perto do posto de saúde. A bomba fazia muita fumaça. Agora que eles estão com mais medo ainda”, relatou Hekurari.

Desde o último dia 10, quando houve um conflito armado entre garimpeiros e indígenas, a comunidade Palimiú tem sido alvo de ataques e intimidações. A Justiça Federal já determinou que a União envie tropas de segurança, o que não ocorreu, relatam os indígenas.

A Polícia Federal, no entanto, afirma que está com uma tropa do grupo de pronta intervenção de Manaus nos garimpos adjacentes à Palimiú. “O foco agora é desintrusão de garimpeiros”. Agentes de Roraima aguardam as condições climáticas melhorarem para entrar na região.

Procurado, o Exército em Boa Vista ainda não se pronunciou sobre a a falta de segurança em Palimiú. Em nota, o Comando Militar da Amazônia, em Manaus, informou ter enviado um helicóptero para apoiar na logística e segurança da ação.

O Ministério Público Federal (MPF) disse que recorreu à Justiça para que aplique multa à União por descumprimento da ordem que obriga o envio de segurança ao povo Yanomami.

O ofício feito pela Hutukara nesta segunda foi o quarto, em uma semana, pedindo por segurança em Palimiú. O documento foi enviado à PF, MPF, Exército e Fundação Nacional do Índio (Funai). Procurada pelo G1, a Funai ainda não enviou resposta sobre o que tem feito na região.

“Reiteramos o pedido aos órgãos que atuem com urgência dentro de seu dever legal para impedir a continuidade da espiral de violência no local e garantir a segurança para a comunidade Yanomami de Palimiú, antes que conflitos de mais grave natureza ocorram.”

O pedido é que seja instalado um posto avançado emergencial na comunidade de Palimiú, com o objetivo manter a segurança no local e no rio Uraricoera e que mantenha o apoio logístico para ações dos órgãos públicos para manutenção da segurança no local.

Clima de tensão e medo de morrer

O clima é de tensão em Palimiú. Indígenas que vivem na localidade relataram que os garimpeiros têm retornado à comunidade durante a noite. Em barcos, eles efetuam disparos e intimidam a comunidade, afirmou o cacique de Palimú, Fernando Palimitheli. Para fugir dos ataques, mulheres e crianças se escondem na floresta.

“Por isso estamos sofrendo muito, não estamos tendo paz. Por isso nós mulheres e crianças estamos fugindo para a floresta para conseguir dormir. A gente não tem paz, a noite eles vêm em muitos e esperam a gente aparecer para nos matar”, disse Darlene Yanomami, moradora de Palimiú.

“Pode morrer muita gente. Tem muitas crianças, tem muita gente aqui. Se eles [garimpeiros] realmente atacarem aqui dentro da comunidade, como estão atravessando [o rio Uraricoera], vai haver muita morte”, frisou o líder indígena de Palimiú, Ério Yanomami.

Localizada às margens do rio Uraricoera, no município de Alto Alegre, Palimiú fica na rota usada por garimpeiros para chegar aos acampamentos ilegais no meio da floresta.

O delegado da PF, Adolpho Hugo de Albuquerque, que investiga os ataques, os conflitos iniciaram após indígenas montarem uma barreira sanitária para apreender materiais de garimpo dos invasores.

“Nessas barreiras sanitárias, eles estavam apreendendo objetos, não deixaram passar algumas coisas que achavam que poderia degradar o meio ambiente. E houve uma apreensão grande de combustíveis dos garimpeiros. E os garimpeiros se sentiram extorquidos de alguma forma ou ficaram insatisfeitos. E aí teriam retornado nessa região pra negociar a devolução desse combustível ou desses materiais. Nessa negociação, o clima acabou esquentando e foi dado início a um conflito”, explicou o delegado.

Ainda segundo o delegado Adolpho Hugo de Albuquerque, o armamento utilizado pelos garimpeiros é de “calibre elevado”.

Ataques em Palimiú

A comunidade fica às margens do rio Uraricoera, onde garimpeiros exploram o ouro ilegalmente. Na última segunda-feira (10), um conflito armado na região resultou na morte de três garimpeiros e cinco feridos, além de um indígena baleado de raspão na cabeça. Um vídeo compartilhado pela Hutukara Associação Yanomami (HAY) mostrou a correria de mulheres e crianças no momento em que tiros foram disparados.

A informação dos óbitos foi repassada ao Condisi-Y pelos indígenas da região, mas a PF não confirma as mortes. Conforme a HAY, duas crianças foram encontradas mortas no rio Uraricoera dois dias após o ataque.

Na terça (11), garimpeiros atiraram contra policiais federais que estavam no local para levantar informações sobre o conflito. O tiroteio durou cerca de cinco minutos. Segundo a PF, não houve feridos.

No dia seguinte, a comunidade sofreu mais ataques, horas depois que o Exército esteve na região.

Nesse sábado (15), lideranças viajaram de Palimiú até Boa Vista, com a ajuda da Hutukara, e denunciaram novas intimidações. Devido aos confrontos, a Justiça Federal determinou que a União envie imediatamente tropa policial ou militar para comunidade indígena

Maior reserva indígena do Brasil, a Terra Yanomami tem quase 10 milhões de hectares entre os estados de Roraima e Amazonas. Cerca de 27 mil indígenas vivem na região, alvo de garimpeiros que invadem a terra em busca da extração ilegal de ouro. O território também tem um povo indígena isolado, além de seis outros reportados em estudo, segundo a Funai.

Fonte: G1 RR

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