O ex-assessor da Presidência da República Arthur Weintraub divulgou um vídeo neste sábado (5) para negar a acusação, levantada pela CPI da Covid no Senado, de que integrou um “gabinete paralelo” para assessorar o presidente Jair Bolsonaro sobre a pandemia. Ele admitiu, porém, que dava conselhos ao presidente sobre o assunto.
No vídeo, Arthur aparece ao lado do irmão – o ex-ministro da Educação Abraham Weintraub – e diz que o suposto gabinete nunca existiu.
Apesar disso, afirma ter sido escolhido por Bolsonaro para fazer uma “ponte” entre o Palácio do Planalto e cientistas que estudavam possíveis tratamentos precoces para a Covid. Atualmente, não há tratamento precoce ou preventivo comprovadamente eficaz contra o vírus.
“Começaram a colocar meu nome como chefe de um gabinete paralelo que nunca existiu. Os contatos que existem eram contatos de cientistas. Oxford, cientistas de universidades renomadas, virologistas, médicos que atuam em áreas de ponta. Esse conhecimento técnico, ao invés de ser ruim, pelo contrário, ele ainda é importante”, diz Arthur Weintraub.
Ao relatar a relação com Bolsonaro em 2020, quando ocupava cargo de assessoria na Presidência, Arthur Weintraub diz que assumiu essa função de “ponte” com cientistas por ser, ele mesmo, um pesquisador.
Segundo currículo disponível na internet, Weintraub tem graduação, mestrado e doutorado pela Universidade de São Paulo (USP) – os três, em direito.
Para obter os títulos, pesquisou aspectos conjunturais de planos de previdência privada no país, um tema que não guarda qualquer relação com a pandemia.
No fim de maio, a CPI da Covid aprovou requerimento para convocar Arthur Weintraub. Os senadores querem ouví-lo sobre o suposto gabinete paralelo e sobre a estratégia pensada pelo Planalto para o enfrentamento à pandemia.
Na sexta, também em redes sociais, Arthur e Abraham Weintraub anunciaram que se recuperam de casos graves da Covid-19 nos Estados Unidos, onde vivem. No vídeo, os irmãos citam uma “cepa agressiva” do vírus, sem detalhar a qual variante se referem.
Remédio contra malária
Ainda no trecho em que exalta seu histórico de pesquisador, Arthur Weintraub diz que leu “os artigos que existiam” em março de 2020 (primeiro mês da pandemia) e, antes de conversar com o presidente, tomou outra medida: comprou um remédio contra malária e tomou por dois dias, para verificar se sofreria algum efeito colateral. O economista não diz o nome do remédio.
“Como pesquisador, eu falei com o presidente, comecei a ler o que existia naquele momento. Era março de 2020, não havia vacinas, não havia nada. Existia o remédio da malária, que estava começando a ser aventado como uma possibilidade, mas dentro desse cenário de guerra, era uma possibilidade”, disse Arthur Weintraub.
“O que eu fiz? Eu li os artigos que existiam, o que havia de coisa publicada e fui falar com o presidente. Antes de mais nada, eu passei na farmácia e comprei esses remédios da malária sem receita. Comprei sem receita e eu tomei por dois dias antes de eu sugerir, ou antes de eu sentir alguma coisa”, prossegue.
O economista é interrompido pelo irmão, Abraham Weintraub, que complementa: “Que é o típico procedimento de um pesquisador. Ele estudou o material que já estava disponível, viu que havia já evidências de que era interessante o tratamento, ele passou na farmácia e comprou como se fosse Tylenol [paracetamol]”.
O método científico usado atualmente para avaliar efeitos colaterais de medicamentos não envolve a aplicação no próprio pesquisador, mas sim, em grandes grupos de pacientes.
Um ensaio clínico convencional inclui o teste cego, em que os efeitos da medicação real são comparados aos efeitos de um placebo (uma preparação neutra, sem medicamento ativo), e o teste duplo-cego – no qual nem os próprios pesquisadores sabem, de antemão, quais pacientes receberam o placebo.
Apesar do relato de Weintraub, cientistas e especialistas de institutos renomados de pesquisa alertam para o risco de medicações comprovadamente ineficazes contra a Covid.
Ainda sobre as conversas com Jair Bolsonaro em março de 2020, após tomar o “remédio da malária”, Arthur Weintraub diz ter recebido uma orientação do presidente da República.
“E o presidente disse assim: ‘Você que tem esse histórico passa a estudar e você vai me trazer o que você for encontrando e você vai vendo os contatos’. Então, quais foram os contatos que estão dizendo? Os contatos que eu fiz foram feitos com outros pesquisadores, com outros médicos em um momento que não havia vacinas, não havia alternativas para vida. Como é que você vai salvar?”, afirma.
Assessoramento sem gabinete
Em outro ponto do vídeo, Arthur Weintraub volta a negar a existência de um gabinete paralelo ao Ministério da Saúde. O economista diz que fez contatos com cientistas de “universidades renomadas” e médicos que atuam em “áreas de ponta”, sem citar os nomes.
“Agora mais recentemente começaram a colocar o meu nome como chefe de um gabinete paralelo que nunca existiu. Os contatos que existem eram contatos de cientistas. É Oxford, é contatos de cientistas de universidades renomadas, virologistas, médicos que atuam em áreas de ponta. Todos… Esse conhecimento técnico, ao invés de ser ruim, pelo contrário, esse conhecimento técnico era importante”, afirma.
Questionado pelo irmão Abraham, Arthur Weintraub nega que tenha chegado a debater vacinas com o presidente ou com esses especialistas.
Em setembro de 2020, o governo anunciou que ele deixaria a assessoria especial da presidência para assumir um cargo na Organização dos Estados Americanos (OEA).
“Eu não cheguei a ter nenhum contato com discussão sobre vacina. Quando eu estava lá, a discussão que havia, que eu estava envolvido cientificamente era sobre o remédio da malária e a evolução das cepas, e a evolução da doença. Eu nunca cheguei a ter nenhuma atuação na parte de vacinas, até porque não existiam. Última vez que eu atuei nisso foi agosto de 2020”, diz.