O humorista mineiro Esse Menino, de 25 anos, viu seu sonho artístico começar a se tornar real nesta semana, quando publicou um vídeo humorístico interpretando o responsável pelos e-mails da Pfizer a Jair Bolsonaro sugerindo a venda de vacinas contra Covid-19.
O vídeo se refere às dezenas de e-mails que o laboratório enviou para o governo brasileiro ainda em 2020, e que não tiveram resposta. Na última semana, o vice-presidente da Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) da Pandemia, Randolfe Rodrigues (Rede-AP) atualizou o número para 81 mensagens.
A publicação original, no Instagram do humorista – que decidiu divulgar apenas seu nome artístico – tem até o momento cerca de 14 milhões de reproduções. O vídeo viral se tornou um marco na carreira do artista, que posta conteúdos de humor desde 2018, fazendo até mesmo receber elogios de diversos famosos.
“Fui construindo, tentando achar meu público a partir disso. Parece que agora achei uma galera”, diz o comediante, roteirista e ator. “Uma galera de vários segmentos da música, do teatro, da TV e da internet veio veio me elogiar. Fiquei feliz porque foi uma validação ver comentários de comediantes de quem sempre fui fã, como Fabio Porchat, Samantha Schmütz e Luis Lobianco. Me reconheceram como um deles”, comemora.
“Esse Menino” veio da vontade dele ter um nome artístico, como Lady Gaga e Criolo, com o termo pelo qual era chamado pela avó, expressão equivalente a “Ei, você”. As memórias da infância também serviram que ele decidisse a própria carreira.
“Entendi que comédia dava para ser estudada ainda muito novo, com 13 ou 14 anos. Virou minha obsessão, igual algumas crianças gostam de dinossauro ou carrinho. Na verdade, o mundo artístico em geral, mas comédia era uma veia muito forte. Comecei a consumir muito material. Aos 18, decidi que queria ser humorista. Que onda! Pra que fui inventar isso?” diz ele, aos risos.
“Decidi fazer faculdade de cinema para aprender sobre roteiro. Foi muito bom, uma experiência muito massa. Mas como o curso é muito amplo, foi abordando outras funções do audiovisual que pra mim já não eram tão interessantes. Parei no quarto período e comecei a escrever peças e, depois, para a internet. Comprei um paninho meio vagabundo para fazer de chroma key e passei a produzir. A maioria das coisas aprendi com o YouTube. Aprendi até inglês consumindo materias de comédia com um dicionário do lado”, relembra.
Esse Menino aborda questões políticas e de gênero em seu perfil no Instagram. A experiência deu a ele segurança para criar o vídeo viral em pouco tempo, como um “músculo sendo exercitado”.
“Não demorou muito. Foi ligerinho fazer. Já estava com a ideia de mostrar o outro lado dessa situação dos e-mails e considerar o lado da Pfizer, quem estava mandando esses e-mails e o desespero que essa pessoa sentiu de não ter nenhuma resposta. Quando sentei para escrever, fiz em 15 minutinhos. A ideia quase veio pronta. Já escrevo material com cunho político a partir de uma nova perspectiva já tem um tempo. Então, é como se fosse um músculo que eu exercito. Valeu a pena”, acredita.
O vídeo, inclusive, mudou o sentido do que é bombar na internet para o artista. “Foi importante demais. Fiquei feliz de ter sido esse vídeo que bombou. Antes eu achava que outros vídeos meus tinham bombado, mas agora nem tenho coragem de falar (risos). Esse vídeo, com esse reconhecimento, dá um tom muito massa para o início da minha carreira porque fala de um assunto que acho importante. As pessoas conseguiram ver uma alegria nesse caos que está acontecendo agora”, diz ele.
O reconhecimento já começou a capitalizar, e agora ele está na “época das vacas gordas”. Esse Menino passou a administrar a carreira em meio diversos compromissos e propostas de trabalho, mas pretende ser cauteloso quanto ao rumo que decidir tomar.
“Agora eu tenho agenda (risos). Antes eu tinha uma proposta ou outra, mas mudou demais. Estou cumprindo vários horários, entrevistas… vieram muitas propostas de trabalho. Estou tentando fazer tudo com muito zelo e quero saber fazer bem o que tem vindo sem me desorientar ou fazer tudo o que aparecer. Estou tentando mirar certo para que minha carreira seja sustentável, duradoura, só cresça e gere bons frutos. Vai dar certo”, afirma.
“Meu plano é dominar o mundo. Quero fazer internet, cinema, streaming e principalmente palco com teatro stand up. Quero só acrescentar para a cena que já existe. Aguardem, porque eu vou chegar pipocando nesse meio da cultura. Agora não são mais sonhos, são planos. Vai rolar!”, concluiu.
Esse Menino é de Teófilo Otoni, interior de Minas, próximo à Bahia, o que implica no sotaque “nem baiano, nem mineiro”. Sabendo disso – além de destacar sua diccção – o humorista passou a legendar seus vídeos.
No vídeo da Pfizer, também legendado, Esse Menino supõe o tom de cada e-mail. O primeiro sugere que a indústria farmacêutica estava empolgada com a possibilidade de fazer o país em um exemplo de vacinação global, intenção revelada pelo ex-secretário de Comunicação do governo, Fábio Wajngarten. “Bolsonaro, aqui quem fala é ela, a Pifaizer. Tá passada? Adivinha? As vacinas estão no grau, mami. Bota a cerva pra gelar, a carne na brasa. Beijinhos científicos, até já, Pfizer”, performa o humorista.
A partir do e-mail 19, o humorista mostra a mudança de tom para uma irritação com o “gelo” dado pelo governo Bolsonaro. “Não vai responder não? Minha amiga ONU andou me contando umas coisas de você que eu não gostei. Quem é de verdade, sabe quem é de mentira. Fique esperta”, diz.
Por último, Esse Menino imagina o e-mail que simbolizou o fim das tentativas de contato com o Brasil. “Oi, Naro [de Bolsonaro]! Sou eu, a Pfizer. Favor ignorar os últimos e-mails. Agora já fechamos com New York, muito melhor do que você. Eles têm Lady Gaga. Fique aí com sua Juliana Paes. Beijos e boa sorte”, diz.