Site remove anúncio de vaga que exigia vacinação com Pfizer e bloqueia usuário

Oferta para governanta pagaria salário de R$ 1,6 mil para pessoa cuidar de duas crianças e manter a limpeza da casa. MP recebeu denúncia e vai apurar.

Anúncio de vaga de emprego exige que profissional seja vacinado com Pfizer — Foto: Arte G1

O anúncio que colocou como requisito para contratação de uma governanta a imunização contra Covid-19 com a vacina da Pfizer foi removido do site de ofertas de emprego nesta terça-feira (22). A vaga oferecia trabalho em uma residência familiar de Campinas (SP) com salário de R$ 1,6 mil. O Ministério Público do Trabalho (MPT) informou que recebeu uma denúncia sobre o caso nesta terça-feira (22) e vai apurar o caso, que ainda não foi distribuído para um procurador.

Segundo o site Trabalha Brasil, plataforma onde a vaga tinha sido anunciada, o usuário que publicou a oferta também foi bloqueado. Por meio da assessoria de imprensa, o portal afirmou, na noite desta terça, que “repudia toda e qualquer manifestação de caráter discriminatório”.

Cuidar de duas crianças, limpar e organizar casa
Além da descrição da oferta, o anúncio só informava, no campo “empresa”, o nome Ana Clara Residências, mas não havia meio de contato com o empregador a não ser se candidatando para a vaga.

A pessoa contratada teria que cuidar da alimentação diurna e das atividades diárias, como estudos, cursos e lazer, de duas crianças cujas idades não foram informadas.

Além disso, seria “responsável pela manutenção da residência e suas dependências” e organizar a agenda e horários dos outros prestadores serviços da residência. Por fim, precisaria manter a casa limpa nos dias em que uma diarista, que faz limpeza uma ou duas vezes por semana, não trabalha.

A profissional trabalharia seis vezes por semana, com horários de segunda à sexta de 7h às 15h45 e meio período aos sábados.

Outros requisitos
Além da exigência da vacinação com Pfizer, a vaga ainda pede experiência como babá e/ou governanta e que a pessoa seja cuidadosa, organizada, tenha disciplina e “boa bagagem cultural”.

Ainda requisita que tenha “fácil acesso ao Cambuí”, bairro nobre da região central de cidade. Além do salário, a família oferece vale-transporte, alimentação no local, uma folga remunerada por mês ou férias de 15 dias.

Absolutamente discriminatório, diz advogada
A advogada trabalhista Thaís Cremasco afirma que exigir, como requisito para vaga, a vacinação com um imunizante específico é discriminatório porque foge do controle do trabalhador que busca o emprego. Isso fere a Constituição Federal.

“O empregador não pode criar uma vaga de emprego discriminando dessa forma, especialmente porque estamos vivendo em um pais que a gente sabe das dificuldades para vacinação. É absolutamente discriminatório”, explicou.

A advogada reforça que, nos artigos 5° e 7°, a Constituição Federal define que todo e qualquer tipo de discriminação é proibida. Além disso, a Consolidação das Leis Trabalhistas (CLT) também veda a prática.

“Então fora as discriminações que estão lá, como raça, religião e idade, é evidente, até pelo que está descrito na nossa Constituição que qualquer tipo de discriminação é proibida”.

“O trabalhador que se sentir lesado por conta desse anuncio pode e deve fazer um BO [boletim de ocorrência], uma denúncia no Ministério Público do Trabalho e ingressar com ação judicial como perda de uma chance”, completa a advogada.

Segundo ela, a ação judicial pode requerer indenização por danos materiais e danos morais. “[O trabalhador] Deixou de conseguir uma vaga de emprego, ou uma entrevista, por conta de uma ação discriminatória que foi perpetuada pela empresa”.

A advogada defende que as empresas podem cobrar que os funcionários se vacinem, desde que a imunização esteja disponível para eles, mas sem definir com qual imunizante.

“Um trabalhador de 50 anos que se recusou a vacinar, a empresa acaba ficando exposta, porque ele sem vacina pode pegar o coronavírus trabalhando. Mas para uma vaga de emprego, ela exigir a vacina específica é um completo absurdo”.

‘Do ponto de vista técnico, também não faz sentido’, diz infectologista

André Giglio Bueno, professor de infectologia da Faculdade de Medicina da PUC-Campinas, avalia que não há sentido em fazer a exigência, uma vez que a vacinação precisa avançar para criar proteção coletiva contra a Covid-19.

“Tomar uma ou outra medida individual [de vacinação] não faz sentido. Do ponto de vista técnico também não, até porque ninguém tem condição de escolher a vacina que vai receber”, afirma.
Segundo ele, tentar escolher a vacina ainda pode ter o prejuízo de gerar uma falsa sensação de segurança que cause relaxamento das outras medidas de proteção, como uso de máscara e distanciamento, o que ampliaria o risco de transmissão.

Nota completa do portal
“O portal TRABALHA BRASIL informa que repudia toda e qualquer manifestação de caráter discriminatório e que ao tomar conhecimento do teor do anúncio publicado por terceiro (pessoa física) em seu portal de vagas, já promoveu o imediato bloqueio do usuário e do anúncio por ele publicado.

TRABALHA BRASIL informa que é um portal de divulgação de oportunidades de emprego e/ou trabalho, com o intuito de aproximar trabalhadores e empregadores e que respeita a Lei n.º 12.965/2014 (marco civil da internet).

O portal se coloca a inteira disposição das autoridades públicas para prestar os esclarecimentos e informações necessárias para que, se for o caso, seja apurada a responsabilização do usuário que divulgou a vaga com as informações de cunho discriminatório”.

 

Fonte: G1

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