Um policial militar matou o cachorro de estimação de uma família a tiros na manhã desta quinta-feira (24), na região de Venda Nova, em Belo Horizonte.
O militar alegou que o cão investiu contra ele e a cadela dele de maneira agressiva, mas o dono do animal e pessoas que presenciaram a confusão negam. Yankee, como o cãozinho era chamado, estava com os tutores havia 11 anos.
O dono de Yankee, o analista de sistemas Alberto Luiz Andrade Simão, de 55 anos, conta que foi ao supermercado e levou o cachorro, um vira-lata. Ele deixou o cão preso do lado de fora do estabelecimento, na Avenida Elías Antônio Issa, no bairro Letícia, mas o animal acabou escapando da guia e fugiu.
Alberto saiu atrás de Yankee e, depois de segui-lo por cerca de 20 minutos, encontrou um homem, no sentido contrário, também acompanhado de um cachorro.
“Os dois cachorros se estranharam, rosnaram um para o outro. Eu estava a uns 40 metros de distância quando o rapaz sacou a arma e deu um tiro no meu cachorro. Ele caiu no chão, e o rapaz ainda deu outro tiro. Eu falei: ‘Você é louco, você matou meu cachorro’. Ele me chamou de irresponsável, disse que ia chamar a viatura e que eu tinha sorte de ele não dar um tiro na minha cara”, contou.
A situação causou revolta e muitas pessoas começaram a xingar o homem armado, que, depois, disse ser policial militar. Ele estava de folga.
A PM foi acionada e, de acordo com o boletim de ocorrência, o policial foi apontado como autor por dano, e Alberto, também como autor, por omissão de cautela na guarda de animais.
Segundo o boletim, o militar, de 42 anos, alegou que estava voltando do pet shop com a cadela, uma filhote da raça american bully, quando se deparou com o outro cão solto na rua. Ele disse que o animal investiu, “de maneira agressiva”, contra a cadela dele e a própria integridade física.
O policial disse que gritou para o que o cachorro se afastasse, mas não obteve êxito e, “sem outro recurso”, sacou a arma de fogo e efetuou um disparo. Ele afirmou que o animal continuou a atacá-lo e, por isso, efetuou outro disparo. A perícia esteve no local e recolheu dois estojos de calibre .40.
Uma moradora da região, que passava pelo local na hora da confusão e não quis ser identificada, contou ao G1 que o cachorro morto não tinha atacado o policial nem a cadela dele.
“É normal um cachorro estranhar o outro, mas ele não atacou nem nada. O policial deu um tiro e, com o cachorro já no chão, deu mais um. Isso tudo à luz do dia, tinha criança passando na rua”.
De acordo com Alberto, Yankee foi adotado. O cachorro estava com a família desde os três meses e acompanhou o crescimento do filho dele, de 15 anos.
“Ele era um membro da família. Meu filho está revoltado, isso mexe muito com o emocional do adolescente. Eu estou destruído. Minha preocupação agora é resolver isso, ficar com o meu filho, acalmar o coração dele, porque nada vai trazer meu cachorro de volta. Era o meu único cachorro, nunca tivemos animal antes nem sei se vou ter coragem de ter outro depois disso”, lamentou.
O que diz a polícia
O G1 questionou à Polícia Militar se a corporação vai investigar internamente o caso e se alguma medida será adotada em relação ao policial. Em nota, a corporação informou que “o policial militar e o proprietário do cão atingindo foram conduzidos à Delegacia de Polícia Civil, com os materiais apreendidos, para as providências cabíveis”.
Veja a nota da PM na íntegra:
“Com relação ao REDS 2021-30395701-001, a Polícia Militar de Minas Gerais (PMMG) esclarece que, segundo a versão do policial militar, que estava de folga e a paisana, durante caminhada com seu cão, da raça American Bully, eles foram atacados por um cachorro de grande porte que estava solto na via e que chegou a gritar para que o animal se afastasse. Ainda de acordo com o militar, ao defender-se e defender o seu cão de uma agressão oriunda de outro animal, ele agiu em Estado de Necessidade, conforme previsto no Código Penal brasileiro, efetuando disparos de arma de fogo.
A PMMG esclarece ainda que o policial militar e o proprietário do cão atingindo foram conduzidos à Delegacia de Polícia Civil, com os materiais apreendidos, para as providências cabíveis”.
A Polícia Civil informou que a perícia técnica compareceu ao local e que a ocorrência foi recebida na Delegacia de Plantão 4, na tarde desta quinta-feira. Disse, ainda, que “os envolvidos foram ouvidos e foi instaurado um procedimento para apuração do caso”.