Eu só escutei um ‘Bora, perdeu, perdeu’. Eu fiquei desesperada. […] Ele [padrasto] ainda tentou soltar a menina, mas ela segurou no pescoço dele e ficou gritando ‘mamãe, papai'”. O relato foi feito por Sonora Letícia dos Santos, mãe da criança de 2 anos assassinada na Zona Oeste do Recife, na noite da quarta-feira (7).
“Eu só quero forças, é difícil. Que seja a vontade de Deus, que prenda [quem atirou]. Minha filha não merecia morrer desse jeito. Uma inocente”, disse a mãe.
O crime aconteceu por volta das 21h, na altura do terminal de ônibus, localizado na Cidade Universitária. De acordo com a mãe de Lorena Letícia dos Santos, a família passeava quando foi surpreendida pelo criminoso.
“Eu tinha parado em uma banca de bicho para jogar. Ele [padrasto] continuou andando com a minha menina, só que ela pediu o braço. Ela chamava ele de pai. Ele tinha um amor muito grande pela minha filha. Ele colocou ela no braço e ficou andando”, contou a mãe.
Um homem, que ainda não foi identificado pela polícia, abordou o padrasto e a menina e efetuou os disparos. A criança, que foi atingida na cabeça e no abdômen, foi encaminhada para a Unidade de Pronto Atendimento (UPA) Caxangá, mas não resistiu e morreu.
O padrasto, Jefferson Tavares, de 34 anos, também foi encaminhado para a mesma unidade de saúde e posteriormente seguiu para o Hospital da Restauração (HR), na área central da cidade. Ele ficou ferido com quatro disparos no braço, mão e abdômen.
De acordo com o HR, ele recebeu quatro tiros transfixantes, o que significa que eles passaram de um lado ao outro no corpo da vítima. Ainda segundo o hospital, ele recebeu alta na manhã desta quinta-feira (8).
Hipóteses do crime
Duas versões do que teria acontecido no local são investigadas. De acordo com a polícia, Jefferson contou que estava sentado no terminal, com a enteada no colo, quando um homem chegou e anunciou o assalto. Ele teria saído correndo com a menina quando o criminoso atirou contra os dois.
Uma segunda versão investigada pelos policiais, segundo apurou a TV Globo, é de que o crime teria a ver com um acerto de contas entre o criminoso e o padrasto da menina. Peritos relataram que o ataque teria sido de frente.
“Ele [padrasto] disse, eu escutei: ‘não faça isso não, olha a menina. Desce, pai, desce’. E ela segurando no pescoço dele, ela não queria descer”, contou a mãe.
Sonora afirmou que não sabia de nenhum tipo de ameaça feita a Jefferson. “Não tinha ameaça, não, até porque eu sempre mexia no celular dele, ele deixava sem senha e não tinha nada. Ele chegou do trabalho e ia passear com ela”, disse.
A polícia informou que um inquérito foi aberto no Departamento de Homicídios e Proteção à Pessoa (DHPP), no bairro do Cordeiro, na Zona Oeste. O crime foi registrado como homicídio e tentativa de homicídio.
O corpo da criança seguiu para o Instituto de Medicina Legal (IML), localizado no bairro de Santo Amaro, na área central do Recife.
‘Primeira e única neta’
Avó de Lorena e mãe do pai da criança, Glaucia Rosimeri da Silva, disse que a menina era muito querida por todos e sua única neta. “Se ele foi lá para assaltar, como tão dizendo, que deixasse a minha neta viva, mandasse ela correr, qualquer coisa. Minha neta só tinha 2 anos e era uma criança inocente”, afirmou.
A avó ouviu relatos de que o padrasto teria usado a menina como escudo e afirmou que, caso isso se confirmasse, seria surpreendente. Segundo ela, Jefferson nitidamente tinha um carinho pela criança.
Glaucia foi ao IML na manhã desta quinta-feira (7) e participou dos procedimentos para liberação do corpo da criança. Ela relatou que Lorena costumava passar os finais de semana sob seus cuidados.
“É muito triste, você não sabe a dor que eu estou sentindo. Minha única neta, minha primeira e única neta”, declarou.