Anunciada há vários dias, a transmissão ao vivo do presidente Jair Bolsonaro (sem partido) nesta quinta-feira (29) para tratar de supostas fraudes no sistema eletrônico de votação teve a afirmação de que não seria possível comprovar que pleitos anteriores tiveram resultados burlados.
“O mundo todo tem observadores eleitorais. Vão observar o que no Brasil? O que tem de palpável. Não tem como comprovar que as eleições foram ou não foram fraudadas. Vamos apresentar vários indícios aqui”, disse o presidente, ao lado de um apoiador identificado apenas como “Eduardo”, com quem interagiu em quase 2h de transmissão.
Em várias ocasiões antes e depois de ser eleito, o presidente disse haveria provas de que as eleições foram fraudadas.
Entre os supostos “indícios” contidos na apresentação feita pelo homem ao lado do presidente estão: um vídeo de um simulador de urna, que repetiria um padrão de desvio de votos que supostamente ocorreria na urna eletrônica; vídeos gravados em eleições anteriores, em que eleitores afirmam ter visto distorções entre o voto e a imagem exibida pela urna; e hipóteses estatísticas, que seriam supostamente indicativos de fraudes.
Uma dessas hipóteses centrou nas eleições de 2018, afirmando que, por Jair Bolsonaro ter saído na frente mesmo com apuração adiantada no Nordeste, ele não poderia ter caído em proporção de votos ao longo da apuração. Apesar de ter perdido no Nordeste como um todo, o presidente teve redutos de votos em determinadas regiões dos estados, sobretudo nas capitais, não sendo uma derrota uniforme.
Outra tese trata das eleições municipais de 2020 na cidade de São Paulo. O presidente questiona por que os oito principais candidatos mantiveram uma taxa percentual semelhante entre duas parciais, uma aos 0,39% dos votos apurados e outra após os 32% dos votos computados. Na primeira parcial, apenas 24.220 votos haviam sido computados, de 6,3 milhões de eleitores da capital paulista. O resultado foi reconhecido pelos candidatos participantes da eleição, que sagrou Bruno Covas (PSDB) no segundo turno, após derrotar Guilherme Boulos (PSOL).
Os vídeos exibidos circularam após o pleito de 2018, em que eleitores alegavam ter tido os votos fraudados durante a votação. Checagens oficiais identificaram as imagens como montagens, bem como o Tribunal Superior Eleitoral (TSE) afirma que a Polícia Federal investigou denúncias de irregularidades na cidade de Caxias (MA) e concluiu que não houve fraude, em sentido oposto às imagens de 13 anos atrás exibidas por Eduardo.
Apesar de já ter dito que teria vencido as eleições de 2018 no primeiro turno, o presidente centrou as falas das últimas semanas no pleito de 2014, quando, diz, Aécio Neves (PSDB) teria derrotado Dilma Rousseff (PT). Este pleito foi citado de forma lateral, quando Bolsonaro repetiu que a apuração indica uma totalização viciada, com alternância entre os candidatos. Apuração da CNN mostra que os dois candidatos só se alternaram na dianteira uma única vez na apuração.
Considerando a “variação de incremento” como a taxa de crescimento por minuto, a alternância entre Dilma e Aécio ocorre não mais do que quatro vezes, em dois momentos: entre 22h28 e 22h34 e entre 22h44 e 22h57. Nesses horários, a então presidente já havia sido matematicamente eleita.
O TSE e o STF ainda não se pronunciaram sobre a live do presidente.
No entanto, nas redes sociais, TSE fez posts em que desmente alguns dos “indícios” citados na live.
Sobre o episódio de Caxias, o TSE afirmou que “a Polícia Federal periciou as 10 urnas eletrônicas supostamente violadas e descartou violação física e adulteração dos programas instalados no aparelho, assim como a presença de arquivos contaminados por vírus”.
PF viu vulnerabilidades, diz ministro da Justiça
Convidado a participar dos últimos momentos da transmissão, o ministro da Justiça e Segurança Pública, Anderson Torres, afirmou que a Polícia Federal enxergou vulnerabilidades quando convidada pelo TSE a participar da auditoria de processos eleitorais em pleitos anteriores.
Segundo Torres, nos anos de 2016 e de 2018, a PF afirmou que há risco de subversão de resultados caso candidatos consigam acesso aos cartões com resultados de urnas e que “por mais maduros que sejam softwares, eles sempre estarão suscetíveis a possíveis vulnerabilidades”.