Em tempos tão duros, Larissa Almeida, de 20 anos, encheu a web de ternura ao compartilhar uma história muito bonitinha de seu pai, o vendedor ambulante César Gusmão. Moradores de Caxias, os dois têm vivências que muito se aproximam do brasileiro comum, que pega transporte público lotado bem cedinho para ganhar o pão de cada dia, onde o não vem sempre antes de um sim. Foi num raro sim destes que ela se tornou modelo e agora estrela campanhas nacionais. Inclusive a de uma grande loja de departamentos. Resultado: o pai, orgulhoso que só, está batendo ponto diariamente numa das unidades só para ver a foto da filha na vitrine. É ou não é a coisa mais fofa que você lerá hoje?
“Eu vivo postando coisas sobre ele e quando postei no Twitter, eu só pensei ‘mais uma vez, vou mostrar a fofura do meu pai aqui’. Mas não achei que iria chegar tão longe assim”, diz a modelo, ainda surpresa.
Foi por conta de César que Larissa se tornou modelo. “Nunca foi um sonho, porque achava tão distante da minha realidade e tinha autoestima baixa. Mas um dia ele chegou e disse que iria me levar a uma agência”, recorda.
O pai estava certo. Com 1m79 de altura e naturalmente bela, a jovem venceu o concurso The Look of The Year, da Joy Models, e começou a batalhar um espaço. “Profissionalmente estou modelando desde 2017, mas só de 2019 para cá, quando mudei para São Paulo, é que as coisas começaram a acontecer”, diz Larissa, que está em várias campanhas nacionais e já trabalhou na Itália pouco antes da pandemia.
Nem sempre foi fácil, no entanto. O preconceito em alguns castings ainda traumatizam a modelo. “Já aconteceram várias coisas, mas dois casos em específico me marcaram muito. No início, eu fiz um casting em que o cara falou que eu era linda, mas o que estragava era meu nariz que parecia de porco… O outro foi de uma seleção e falaram que eu nem precisava fazer, porque os estilistas não gostavam muito de negros”, relata ela, que ainda se sente desconfortável diante do que pode ser considerado inacreditável: “Eu acho que as coisas estão começando a mudar, mas ainda tem muita coisa que precisa melhorar e muita gente não branca para incluir. Sinto bastante falta de pessoas negras e indígenas nos sets, ainda mais mulheres. As vezes, só tem eu de negra e as camareiras, e isso me deixa bem chateada”.
Se o preconceito com sua cor ainda é um fato, o meso não se pode dizer de sua sexualidade. Larissa namora uma fotógrafa de moda e no meio nunca sentiu olhares atravessados. “O que rola muito é hipersexualização, mas nunca sofremos ataques homofóbicos, ainda bem!”, avalia ela, que mais uma vez teve o paizão ao lado ao se declarar lésbica: “Meus pais sempre me aceitaram, inclusive meu primeiro relacionamento foi com uma mulher e eu apresentei ela pra eles com 15 anos e eles nunca me julgaram por isso”.
Longe do maior incentivador da carreira, Larissa sabe que a saudade é necessária para que ela cumpra o que prometeu a si mesma quando passou a receber mais sim do que não: “Meu sonho sempre foi poder ajudá-lo, eu iniciei a carreira de modelo pensando nisso. Hoje, consigo ganhar uma boa grana e ajudar, mas, infelizmente, ainda não é o suficiente.Quero poder dar o mundo a ele e tudo o que ele sempre sonhou, assim como fez comigo”.