“Quantas mulheres pretas já devem ter voltado para casa porque a foto delas, usando trança, não foi aceita?”.
O questionamento é da engenheira Fabiane Jardim, de 39 anos, após sua foto 3×4 ter sido recusada na hora de solicitar a 2ª via da Carteira de Identidade.
A recusa aconteceu na última segunda-feira (16), no posto da Unidade de Atendimento Integrado (UAI), do governo estadual, localizado no shopping Contagem, na Região Metropolitana de BH.
O motivo da recusa, segundo relato da engenheira, foi a trança usada por ela desde a infância, que estava “diferente” para o atendente.
“No primeiro momento ele não soube me explicar [o motivo da recusa]. Depois ele falou que era por causas das tranças que estavam ‘diferente’. Eu sou uma mulher negra, uso trança desde criança, eu tenho raiz africana, minhas matrizes são africanas, minhas tranças não são acessórios, fazem parte da minha identidade pessoal”, disse Fabiane.
A engenheira teve que passar por uma “via crucis” antes de, finalmente, ter a foto liberada. A primeira atendente levou a foto para o responsável, que deu a negativa. Quando ela voltou com a resposta, Fabiane retrucou, e a foto ainda foi mostrada a mais dois servidores antes de ela ouvir o “ok, vamos fazer”.
Para Fabiane, o sentimento foi que os atendentes cederam para que ela fosse embora “e não render mais”.
“Depois do processo para segunda vida do RG, eu procurei a gerente do UAI, que me pediu desculpas, mas eu falei que era racismo e inadmissível acontecer isso dentro de um local como aquele. Uma situação muito constrangedora, fiquei muito chateada, eles não imaginavam que eu ia tomar todas as medidas cabíveis contra esse absurdo”, contou.
E ela tomou. No mesmo dia, procurou a 1ª Delegacia de Polícia Civil de Contagem, onde registrou um boletim de ocorrência. Ela também registrou uma denúncia na Superintendência de Igualdade Racial de Contagem e disse que pretende acionar o Ministério Público.
O G1 procurou a Secretaria de Planejamento e Gestão de Minas Gerais (Seplag), que responde pelos postos do UAI do estado, para saber quais medidas foram tomadas no local, mas, até a última atualização desta reportagem, não obteve retorno.
A Polícia Civil também foi procurada e o G1 aguarda retorno a respeito das investigações.