Mortes em Anchieta: Polícia Civil admite que duplicou depoimento de um PM para não ouvir o outro

Investigadores já tinham percebido que as versões apresentadas pelos PMs Leonardo Soares Carneiro e Edson de Almeida Santana eram muito parecidas. Ambos vão prestar um novo depoimento.

A Polícia Civil do RJ admitiu que duplicou o depoimento de um dos PMs envolvidos na ação em Anchieta que deixou filho e padrasto mortos, no último sábado (25).

Segundo a TV Globo apurou, o inspetor que colheu os relatos acabou repetindo a versão de um militar e não ouviu o segundo, a fim de “facilitar o trabalho”.

Investigadores já tinham percebido que as versões apresentadas pelos PMs Leonardo Soares Carneiro e Edson de Almeida Santana eram muito parecidas. A polícia não detalhou qual deles foi de fato ouvido. Ambos vão prestar um novo depoimento.

Os corpos de Samuel Vicente e de Willian da Silva foram enterrados nesta terça-feira (28). Sobrevivente da ação, Camily Polinário, namorada de Samuel, não pôde ir à cerimônia por estar em choque. Ela precisou levar 54 pontos nos ferimentos a bala.

Contradição sobre arma

Os depoimentos atribuídos a Leonardo e a Edson — e agora invalidados — já apontavam para uma contradição.

Primeiro, eles disseram Samuel estaria com um fuzil e mirou na direção dos policiais e por isso eles teriam reagido. Depois, disseram que o jovem estava com uma arma menor — uma pistola com 4 munições.

Nos depoimentos, os policiais militares disseram que, quando faziam patrulhamento na Rua Capri, na altura da boca de fumo da Manilha, precisaram se abrigar porque foram atacados a tiros.

Eles contaram que, nesse momento, veio na direção deles uma moto com três pessoas, e que a última pessoa na moto parecia estar com um fuzil e teria mirado nos policiais.

Mas não especificam, em nenhum momento, disparos feitos por essa pessoa na moto.

Apesar disso, afirmaram que, imediatamente, em legítima defesa, fizeram sete disparos de fuzil 762 contra os ocupantes da moto.

Ainda de acordo com os relatos duplicados, uma troca de tiros aconteceu a uma distância de 15 metros de onde os policiais estavam e que, mesmo ainda sendo alvo de disparos na comunidade, eles socorreram os baleados.

No fim, o policial ouvido se contradiz e afirma que Samuel — a pessoa que ele pensava estar com um fuzil —estava, segundo ele próprio, com uma arma muito menor: uma pistola com 4 munições e um radiotransmissor.

A Corregedoria da Polícia Militar está investigando o caso, segundo informações do porta-voz da PM, tenente-coronel Ivan Blaz.

Namorada passou mal em uma festa

A família nega que os dois tivessem envolvimento com o crime. Segundo familiares, Samuel e Camily eram namorados e estavam em uma festa. A jovem teria passado mal e desmaiado. Samuel ligou para o padrasto, que foi ao local de moto a fim de levá-la até a UPA de Ricardo de Albuquerque.

No caminho, os três, que estavam na motocicleta, foram surpreendidos por uma equipe de policiais militares que já teriam atirado. Os três e mais uma quarta pessoa, ainda não identificada, foram baleados e levados para um hospital.

“Eles estão falando que eles eram bandidos, mas não eram bandidos não. Que eles trocaram tiros. Mas se trocaram tiros, cadê o policial ferido? Não tem. E, se não tem, é porque não teve troca de tiros. Eles atiraram neles”, disse Sônia.

Fonte: g1

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