O novo coronavírus é um agente que ainda desafia os pesquisadores no mundo. A forma como ele age no organismo das pessoas varia e, em muitos casos, é um verdadeiro enigma. O que se sabe é que o número de pessoas com doenças cardiovasculares no mundo cresceu após a pandemia da Covid-19, consequência das sequelas, de alterações no sistema imunológico e até da ação de medicamentos utilizados contra o vírus. Por isso, o cardiologista do Hospital Geral do Estado (HGE), Alex Vieira, alerta os pacientes que tiveram Covid-19, uma vez que, após se recuperar da doença pandêmica, é possível desenvolver problemas cardiovasculares.
O alerta do cardiologista do HGE se baseia em um estudo realizado pela Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), Hospital Alberto Urquiza Wanderley e Sociedade Brasileira de Cardiologia (SBC). De acordo com ele, durante a pandemia da Covid-19, houve o crescimento de até 132% das mortes por doenças cardiovasculares no Brasil. No HGE, em Maceió, a hipertensão e a diabetes sempre figuraram entre as principais doenças relatadas por pacientes acolhidos nas portas de entrada.
“Poucos casos são congênitos, ou seja, adquiridos desde o nascimento. A maior parte das pessoas adquirem a diabetes e a hipertensão ao longo dos anos. Sedentarismo, consumo excessivo de bebidas alcóolicas e alimentação inadequada são alguns hábitos nocivos, que, aliado a falta de check-ups regulares, abrem o espaço perigoso para o infarto agudo do miocárdio, para o acidente vascular cerebral e até para a morte súbita”, afirma o cardiologista Alex Vieira.
José Roberto Crisóstomo Neto, de 65 anos, sabe bem o quanto a Covid-19 é traiçoeira. Ele conta que em junho foi diagnosticado com a doença e, devido ao nível baixo de saturação de oxigênio no sangue, teve que ser internado no Hospital Metropolitano de Alagoas (HMA), em Maceió. Fora isso, nenhum outro sintoma da doença foi preocupante e, em poucos dias, recebeu alta médica. O que ele não contava é que, após alguns meses, sofreria um infarto agudo do miocárdio.
“Como eu tenho diabetes e hipertensão, sempre tive uma alimentação regrada e faço as minhas caminhadas diárias. Quando recebi alta da Covid-19, voltei para casa, acreditando que agora é só seguir a vida. No último dia 13 de setembro, fui trabalhar e comecei a sentir uma dor no peito. Liguei para minha filha, que é enfermeira; ela me levou para a UPA [Unidade de Pronto Atendimento] e lá o médico afirmou que era o começo de um infarto”, recordou José Roberto Crisóstomo Neto, que é casado, pai e avô.
No HGE, o patriarca foi submetido ao cateterismo cardíaco e a repetição de vários exames investigatórios: eletrocardiograma, ecocardiograma, exames laboratoriais, entre outros. No dia 22 de setembro ele recebeu alta médica. Mas, quando internado na Unidade de Dor Torácica (UDT) do HGE, especializada em doenças coronarianas, ele avaliou que estava sendo bem cuidado pela equipe multidisciplinar e se sentia confiante na sua recuperação. Para os que ainda pensam que o novo coronavírus é um vírus qualquer, ele deixa um recado.
“Se cuide, porque a Covid-19 é uma doença miserável e eu tentei de todas as formas não contrair. Evitei sair de casa, usei sempre a máscara, aumentei a frequência de higienização das mãos, etc. Mas, mesmo assim, fui infectado, achei que tinha me recuperado, quando na verdade eu tive minha saúde abalada e eu não fiz, posteriormente, uma avaliação mais detalhada. Não queira isso nunca! Passar pelo que eu estou passando é muito difícil, mesmo eu não tendo precisado ser entubado”, partilhou José Roberto Crisóstomo Neto.
Apesar de estável e respondendo bem ao tratamento, ele ainda precisa continuar o acompanhamento médico, para que seja investigado o funcionamento do seu sistema circulatório. Como ele, outras centenas de pessoas são admitidas no HGE diariamente com doenças cardiovasculares. Todas elas poderiam ter evitado as complicações com mais prudência e medidas preventivas.
“O quadro com tosse, dispneia [falta de ar] e mialgia [dor muscular] deve ser valorizado. Se os sintomas se agravarem, é importante buscar o atendimento médico. Caso eles sejam leves, não deixe de realizar um teste para confirmar, ou não, a doença. E talvez o mais importante: vacine-se e continue usando a máscara. A população imunizada é uma importante arma contra a dissipação do vírus e, assim sendo, as chances de surgirem novas variantes, podendo ser ainda mais perigosas, são mínimas”, acrescentou a infectologista do HGE, Angélica Novaes.