Com o passar dos anos e com os avanços na educação, a forma de ensinar também mudou. Aquele ensino “quadrado”, com os alunos em filas consumindo o conteúdo de forma passiva tem dado lugar a técnicas de aprendizagem que priorizam entender o funcionamento do cérebro e depois pensa como repassar o conteúdo para os alunos.
Redesenhando a forma de educar e se encaixando nesse novo contexto, a neuroeducação, que mescla neurociência, psicologia e ciência cognitiva traz efeitos positivos tanto para quem ensina quanto para quem aprende, unindo os diversos saberem em prol de um ensino mais afetivo. O professor, que após possuir conhecimento na área (uma pós-graduação em Neuroeducação, por exemplo) torna-se um neuroeducador, passa a oferecer ferramentas para entender como ajudar os alunos a fixar conteúdos. E melhor: despertar o prazer em aprender.
“O neuroeducador vai conseguir compreender a relação de determinadas áreas do cérebro humano com o processo de aprendizagem. Ele deixa de ver o aluno apenas como sujeito que memoriza, e passa a percebê-lo como um indivíduo epistêmico. Ou seja, que aprende. O neuroeducador passa a enxergar o aluno como alguém que reflete sobre o que aprende, que é a chamada metacognição”, resume Carina Sales, diretora da Ananda Escola e Centro de Estudos, que funciona há mais de duas décadas em Salvador, na Bahia.
A instituição é uma das pioneiras na formação de professores com a neuroeducação na Bahia. Na Ananda Escola, há um projeto de capacitação semanal coordenado por Carina, que é neuroeducadora e especialista em Educação Infantil e em Ensino e Autoconhecimento, e se tornou um case para o Brasil. O trabalho para além do conteúdo curricular engloba o olhar diferenciado dos professores, o desenvolvimento da consciência coletiva, a humanização dos estudantes tem sido replicado em outras escolas baianas.
Precursora e pesquisadora da neuroeducação no Brasil, a educadora e escritora Susan Leibig foi responsável por transformar o ensino da Ananda Escola repassando à Carina as principais técnicas. Para Susan, os neuroeducadores conseguem tornar o terreno mais fértil para o aprendizado.
“Quando atuamos com as ferramentas de intervenção da neuroeducação para fins de aprendizagem escolar, nós vamos preparar o estudante para que tenha a máxima possibilidade de aprender aquilo que antes tinha dificuldade. Nós chamamos isso de prontidão para a aprendizagem. Então, neuroeducadores aprontam pessoas para aprender e sabem identificar quais fatores estão limitando esse processo de aprendizagem”, explica a especialista fundadora do Susan Leibig Institute e autora de mais de 10 livros sobre a temática e organizadora de diversos cursos na área, como a primeira pós-graduação em Neuroeducação do país.
Melhorias observadas
Entre as melhorias observadas por Carina após todos os educadores da Ananda Escola terem noções de neuroeducação, foi entender as lacunas que interferiam na aprendizagem dos estudantes, além de identificar precocemente disfunções que comprometem o aprendizado, a exemplo de dislexia, discalculia e Transtorno do Déficit de Atenção e Hiperatividade (TDAH). Carina explica que isso também foi importante para otimizar o trabalho de outros profissionais – como psicólogos, pedagogos ou fonoaudiólogos – porque os estudantes já chegam com um pré-diagnóstico feito pelos professores.
“Na Ananda, priorizamos o trabalho em equipe porque nenhum profissional sozinho faz mágica. Além disso, o indivíduo não é uma coisa só. Ele é múltiplo, então precisa de muitos profissionais para compreender e dar um encaminhamento certo. E a neuroeducação, na verdade, nos esclareceu muito em relação ao mecanismo de aprendizagem”, complementa.
A partir disso, a escola deixou de centrar somente no método, para dar protagonismo aos estudantes observando suas potencialidades e gerenciando as suas limitações. “Quando você neuroeduca você passa o conteúdo, a criança repete pra você o que ela entendeu, você compreende como ela está processando aquela informação e depois você tem o seu diagnóstico”, explica Carina.
Já Susan acrescenta que o uso das neurociências atreladas ao sistema de aprendizagem permite que os estudantes alcancem suas genialidades pessoais. “Ao dar vazão máxima ao uso inteligência, o que busca a neuroeducação é que o indivíduo atinja ou possa chegar à sua melhor expressão de inteligência que nós chamamos de genialidade pessoal”, conclui a especialista.