Andrea dos Anjos, de 43 anos, é outra vendedora do setor erótico gospel no Rio. Há 17 anos, ela frequenta a Igreja Batista e, desde 2019, é dona da loja Memórias da Clo, que atende esse público. Andrea tem visto o interesse de seu público aumentar, principalmente na Zona Norte e nos bairros da Barra e do Recreio, na Zona Oeste.
“São clientes um pouco diferentes da maioria, porque, devido à religião e a alguns dogmas, ficam envergonhados e constrangidos, mas é um público fiel. Dou consultoria informalmente”, explica.
Andrea, assim como Carol, vende seus produtos pela internet e ganha clientes no boca a boca.
Para esse público, muito reservado, uma loja física, identificável, não é tão interessante, já que a discrição é uma das chaves do sucesso.
“Tenho clientes que pedem para eu mandar os produtos em caixa de remédio, em saco de padaria, para que ninguém saiba mesmo”, conta ela.
As duas afirmam que mulheres são 95% de seu público. A idade costuma variar bastante.
‘Me chamavam de crente do rabo quente’
Carolina foi julgada pela mãe e teve que convencer até o marido de que sua ideia era boa. “Me chamavam de crente do rabo quente, meu marido falou que não sabia se ia dar certo, por sermos cristãos, mas eu sabia que a marca teria um propósito”, diz ela.
Ambas as vendedoras conversam com as conhecidas da igreja, que indicam para outras fiéis, e assim as marcas se propagam e crescem.
“Eu só não levo para dentro da igreja, entrego do lado de fora”, explica Carol.
Vibradores não estão no catálogo da ConSensual, pelo menos não ainda. “Um homem pode ficar muito intimidado de ver a mulher com uma prótese que pareça um pênis. Por que ter outro pênis ali? No futuro, quero trazer vibros, mas do tipo colorido, para usar junto, mas as pessoas precisam se acostumar aos poucos com essa ideia. Primeiro um gel beijável, um lubrificante, e depois algo a mais”, explica.
Clientes têm medo de julgamento, mas aprovam produtos
O g1 conversou com mulheres evangélicas que preferiram não ser identificadas, mas garantem que incluir os produtos em suas vidas sexuais fez diferença.
“Tinha medo de ser julgada. Produtos íntimos, até onde apresentavam pra mim com naturalidade, eram produtos de higiene. Em uma sex shop normal, me sentia atacada de informação, imagens apelativas, próteses de genitálias na nossa cara durante o atendimento”, diz uma das clientes da ConSensual.
Com a loja, isso mudou. A cliente passou a se sentir mais à vontade sabendo que está com outra mulher evangélica.
Cliente da Memórias da Clo, outra mulher que prefere não se identificar conta que os acessórios mudaram seu casamento e que fez diferença ter uma vendedora que compartilhasse de sua fé.
“Sou casada há 15 anos, conversei com meu esposo que uma amiga minha que também é evangélica vendia esses produtos e se ele aceitaria usá-los para sairmos da rotina”, conta ela. Ele aceitou e os dois vêm curtindo as novidades.
“Mudou muito o meu casamento, com toda certeza, não é porque somos evangélicas que também não podemos usar umas coisinhas, né?”, brinca.