O ministro do Meio Ambiente, Joaquim Leite, voltou a cobrar “financiamento robusto” de países ricos para o enfrentamento da crise climática e classificou o momento atual como uma “emergência financeira””.
Sem responder perguntas sobre o desmatamento recorde divulgado nesta nesta sexta-feira (12), Leite reuniu a imprensa no último dia da 26ª Conferência das Nações Unidas sobre as Mudanças Climáticas (COP26), para apresentar um balanço positivo da participação brasileira no evento.
“Gostaria de compartilhar a preocupação do Brasil com o financiamento climático, com um volume de recursos que ainda não chegou”, disse Leite, defendendo, mais uma vez, que metas climáticas mais ambiciosas vão depender de mais recursos internacionais.
“Seria um sucesso para o Brasil a gente conseguir pressionar os países ricos para mais recursos, chegar a um consenso e aproveitar essa nova economia verde” – Joaquim Leite, ministro do meio ambiente
“Precisamos garantir recursos para uma transição mais justa”, voltou a afirmar o ministro.
Dinheiro parado no Fundo Amazônia
Questionado sobre os R$ 3 bilhões do Fundo Amazônia que estão congelados desde 2019 – mas que deveriam ser aplicados em projetos de preservação e fiscalização do bioma, como o combate ao desmatamento – Leite respondeu que o assunto diz respeito ao vice-presidente Hamilton Mourão.
“Em relação ao Fundo Amazônia – as negociações ainda não estão em andamento, quando a gente tiver uma atualização a gente passa pra vocês”, disse Leite.
O Fundo Amazônia, criado em 2008 para captar doações – inclusive de países europeus – para a preservação ambiental, está sem atividade desde o início do governo de Jair Bolsonaro, após o ex-ministro Ricardo Salles tentar mudar as regras do Fundo e irritar apoiadores como Alemanha e a Noruega.
Aumento do desmatamento
O ministro também não quis comentar os dados de aumento de desmatamento no Brasil divulgados nesta manhã pelo Instituto de Pesquisas Espaciais (Inpe), justificando que o objetivo da COP é o de negociações globais, e não os problemas de cada país.
“Aqui nós estamos falando de um desafio global e não de cada país. Nós estamos mostrando o que o Brasil tem de verdade. Não acompanhei esses números [de desmatamento do Inpe], soube que eles saíram hoje, mas eu não vi ainda”, justificou Leite.
Segundo o Inpe, outubro de 2021 na Amazônia teve o maior alerta de desmatamento para o mês já registrado pelo Instituto, com uma área de 877 km² sob alerta – um aumento de 5% aos dados de outubro 2020, que já haviam batido recorde.
Enquanto o ministro conversava com os jornalistas no pavilhão do Brasil na Conferência, jovens brasileiros protestavam nas ruas de Glasgow contra a postura de Leite nas negociações, acusando-o de “Maquiagem Verde”.
Na quarta-feira (10), em seu segundo discurso na COP26, Leite defendeu a gestão Bolsonaro, cobrou os países ricos por mais recursos e afirmou para um plateia com líderes de várias nações que “onde existe muita floresta também existe muita pobreza”.
Discurso ‘falacioso’
O Observatório do Clima reagiu ao discurso de Leite feita na quarta-feira e negou que o governo Bolsonaro tenha aumentado gastos com proteção ambiental na Amazônia, corrigiu dado sobre emissões de CO2 no transporte de cargas e negou relação entre floresta e pobreza, dita pelo ministro.
De acordo com a rede de ambientalistas, apesar de o governo federal ter aumentado a previsão de gastos com fiscalização ambiental no orçamento de 2021, na prática, o valor não foi executado até o momento tanto Ibama quanto ICMBio, faltando menos de dois meses para acabar o ano:
- Ibama: dos R$ 234,62 milhões previstos para o órgão em 2021, apenas R$ 56,48 milhões foram liquidados até 9 de novembro;
- ICMBio: dos R$ 74,28 milhões previstos para o órgão em 2021, apenas R$ 43,61 milhões foram liquidados até 9 de novembro;
“Além de não executar os recursos das agências ambientais no período mais crítico de queimadas, o governo mantém paralisados mais de R$3 bilhões do Fundo Amazônia, que poderiam estar sendo usados para o controle do desmatamento”, publicou o OC em seu site.
Na época da paralisação do Fundo Amazônia, Salles anunciou a intenção de destinar os recursos captados para indenizar proprietários de terras. Ele também afirmou na época haver indícios de irregularidades nos contratos firmados com ONGs, mas não apresentou nenhuma prova que confirmasse a afirmação. As afirmações irritaram a Alemanha e a Noruega, que suspenderam repasses da ordem de mais de 200 milhões de reais ao Brasil.
O OC também classificou como “falacioso” demais trechos do discurso em que Leite na quarta-feira, como o que o ministro afirmou que a transformação no modal logístico brasileiros para o ferroviário, “com mais de 5 mil km de novos trilhos”, representa “uma redução de 75% das emissões no transporte de cargas” no Brasil.
A rede afirmou que o ministro se referiu a um conjunto de ferrovias planejadas para os próximos anos, mas que ainda não implementadas.
Além disso, em relação à redução de 75% das emissões no transporte de cargas diante das futuras novas ferrovias, o OC afirmou que, “mesmo que o percentual de redução alegado pelo ministério seja real, a carga transportada por essas ferrovias representa apenas 8,5% do total de carga transportada anualmente no país”.