Homem é suspeito de forjar entrevista de emprego para assediar mulheres

A Polícia Civil do Rio de Janeiro está investigando a atuação de um gerente da loja Infinity, em Marechal Hermes, na Zona Norte do Rio. Ele está sendo acusado de assediar jovens mulheres durante entrevistas de emprego.

Policiais já estiveram no local em busca de mais informações para esclarecer os fatos. A investigação está em andamento na 30ª DP (Marechal Hermes).

Até o momento, apenas uma suposta vítima registrou o caso. Entretanto, em um grupo de aplicativo de conversas, quatro mulheres já relataram casos semelhantes.

Segundo uma das denúncias, o gerente fingia estar entrevistando as vítimas para cometer os abusos. As candidatas citam tentativas de beijo forçado, agarrão contra a parede, toque em partes íntimas e muitas perguntas pessoais que não fazem parte de uma entrevista de emprego convencional.

Entre as perguntas indiscretas, segundo a denúncia, o gerente quis saber das candidatas:

Se elas bebiam;
se elas fumavam maconha;
qual era a “coisa mais louca que elas fizeram”;
se elas já tinham feito “ménage”;
o que elas fariam para conseguir aquele emprego;
e se as jovens “viviam intensamente”.

“Ele fez essas perguntas pra mim na entrevista e eu ali sem entender. Me senti muito desconfortável, mas eu tava precisando do emprego. Então eu engoli como sapo e segui em frente”, contou uma jovem que não quis revelar sua identidade.

Como aconteceria o assédio
De acordo com os relatos, o gerente já tinha feito o mesmo com outras garotas que procuravam pela vaga de vendedora na loja.

Uma das vítimas contou que viu o anúncio em uma rede social e foi até o local com seu currículo na mão e a esperança de voltar a trabalhar. Ao chegar na loja, ela foi recebida pelo gerente, que a levou até a sala de entrevista, uma área no terceiro andar da loja onde não existem câmeras de segurança, segunda a mulher. E teria sido nesse momento que o rapaz fez as perguntas indiscretas.

De acordo com o relato, após esse primeiro constrangimento, a jovem foi levada para o salão da loja e em seguida para o estoque, onde o gerente mostraria onde ficavam as roupas e peças que seriam vendidas. Na sequência, ele teria chamado a jovem para o segundo andar do local.

“No segundo andar tem um banheiro, um local onde as pessoas comem e um espaço tipo um quartinho. Lá, ele me perguntou se eu vivia intensamente e se eu tinha regras. Ai ele me perguntou se eu já tinha dado um abraço no gerente. Eu dei um abraço nele já super desconfiada. E nesse momento ele me pressionou na parede e ficou tentando me beijar. Nessa hora, um outro vendedor passou pra ir no banheiro e ele me largou. Só que ele saiu e falou ‘daqui a pouco a gente volta’”, contou a jovem.

A candidata disse ter ficado muito nervosa com a situação, mas que no momento não conseguiu reagir aos abusos praticados pelo gerente do estabelecimento.

“Eu não tive reação. Eu só senti muito medo. Muito, muito medo. Agora pensando bem, eu devia ter enfrentado ele, poderia ter gritado, feito alguma coisa. Mas na hora eu não consegui fazer nada. Tive nojo e medo”, disse.

Os movimentos do gerente eram planejados, segundo contou uma das vítimas. Ela disse que nos locais onde aconteceram os supostos assédios não tinham câmeras de segurança para provar o abuso.

A jovem relatou também que em um outro momento do teste, o gerente pediu que ela vestisse uma das roupas da loja. O objetivo seria fazer uma foto para postar nas redes sociais e anunciar o produto.

“Ele pediu pra eu vestir uma blusa da loja pra ele fazer divulgação. Eu achei que fosse normal, pro Instagram da loja e tal. Mas quando eu fui no provador ele saiu entrando junto. Ele perguntou se a roupa tinha ficado boa e já começou a me pressionar contra a parede novamente pra me beijar. Na hora eu respondi que não queria”, relatou.

“Eu saí do provador tremendo e logo depois contei pro outro vendedor o que tinha acontecido. Ele na hora falou pra mim que eu tinha que pegar minhas coisas e ir embora. Mas eu só tava pensando em não chorar. Eu queria muito o emprego”, completou.
A candidata ao cargo de vendedora contou que o dia passou e ela pouco conseguiu se concentrar no trabalho.

“Quando eu sai da loja eu vi que imediatamente ele me bloqueou no WhatsApp. Ele já fez tudo de caso pensado e deve ter feito com muitas outras garotas também”, contou.

Ação contra a loja
Em contato com o g1, os advogados de uma das vítimas afirmaram que foi feito um boletim de ocorrência na delegacia para registrar o ocorrido. Eles disseram também que vão entrar com uma ação na Justiça contra o gerente e a loja Infinity.

“A defesa da vítima, composta pelos advogados Renato Paixão e Breno Machado, informa que irá realizar o acompanhamento do boletim de ocorrência junto a delegacia, bem como, efetuar o ajuizamento de uma reclamação trabalhista por assédio moral contra a empresa e o suposto assediador”, disse a defesa.

Vídeo viraliza
As suspeitas sobre o trabalho do gerente da Infinity só aumentaram depois que um vídeo viralizou nas redes sociais nos últimos dias.

Nas imagens, um homem aparece na frente da loja para questionar o que outro, o suposto gerente, teria feito com a sua namorada durante a entrevista.

O rapaz procura pelo funcionário da loja e começa a perguntar por que ele teria agarrado a “mulher dele” no estoque. No vídeo, o homem acusa o gerente de ser “safado”, “maníaco” e “tarado”.

Ainda na gravação, o homem avisa para o gerente da Infinity que cinco garotas fizeram um grupo e vão juntas na delegacia prestar queixa contra o possível abusador.

Diante de várias acusações, o funcionário ameaça ligar para a polícia e pergunta se o rapaz tem provas daquilo que está dizendo.

O que diz a empresa
A loja Infinity foi procurada pela reportagem do g1, mas não retornou os contatos feitos. Em suas redes sociais, a empresa publicou uma nota de esclarecimento.

“Diante dos últimos acontecimentos e dos vídeos que vêm circulando pelas redes sociais ligados à nossa loja Infinity, vimos apresentar a seguinte nota de esclarecimento. A princípio, manifestamos nosso repúdio a qualquer tipo de ofensa à imagem e a honra de qualquer pessoa, principalmente às mulheres que são vítimas de importunação, bem como à prática de qualquer ilícito. Da mesma forma, repudiamos veementemente a cultura do machismo presente na sociedade brasileira, além do repúdio a qualquer atitude de assédio sexual e moral. Contudo, não realizamos julgamentos sem que haja provas, mas declaramos que estamos trabalhando para elucidação dos fatos, assim como nos colocamos à disposição das autoridades competentes, para eventuais esclarecimentos”.

“Por fim, destacamos que as imagens e os vídeos que vem sendo veiculados por terceiros pelas redes sociais, não coadunam com a história de mais de 70 anos de nossa empresa, a qual sempre prezou por preservar física e moralmente seus consumidores e funcionários, não sendo conivente com qualquer ato que viole, direta ou indiretamente, a dignidade da pessoa ou da lei. Desde já, agradecemos a confiança de todos os clientes, bem como todos aqueles que vêm nos prestando solidariedade.'”

Fonte: G1

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